Kristalina Georgieva quer mudar o modo de funcionamento das Nações Unidas, dizendo que “não podemos ser reativos, temos de antecipar e investir para diminuir os riscos das pessoas que podem ser afetadas” pelos atuais problemas do mundo. Esta foi a posição tomada pela candidata a secretária-geral da ONU esta segunda-feira na audição a que esteve sujeita pelos membros da Assembleia Geral.

Ao longo de duas horas, a principal adversária de António Guterres admitiu que a sua entrada na corrida à cadeira mais alta da ONU foi “tardia” e que “preferia ter apresentado a candidatura mais cedo”, mas nunca deixou claras as razões por que não o fez. A audição acontece dois dias antes da primeira votação formal dos membros do Conselho de Segurança, onde se vai avaliar o peso de Kristalina Georgieva na corrida à liderança da instituição.

Um dos assuntos mais abordados durante a audição foi a situação no Médio Oriente. “Temos de pensar no que podemos fazer para estas pessoas não terem de fugir” e muito menos para países tão pobres como os seus próprios países de origem (algo que acontece em 80% dos casos de migração). “Queremos criar postos de trabalho que integrem” as motivações dos jovens vindos destes países.

Se falhar, será um peso na nossa consciência que estes jovens prefiram integrar grupos radicais, estragando a sua vida e a dos outros”, disse Kristalina Georgieva.

Até porque, recordou, “foi para nós, europeus, que a convenção de refugiados começou, nós éramos os refugiados” — e podemos voltar a ser porque vivemos “num mundo frágil em que não saberemos quem são os refugiados de amanhã”. É que chegámos longe demais, diz Georgieva: o problema em Aleppo esteve “à frente dos nossos olhos e não conseguimos ver os sinais”. “Era como um sapo numa panela a ferver”. Um sapo que ferve desde que os conflitos na Palestina são uma realidade, mas que é difícil de contornar: “Não é por falta de esforços, é pela complexidade das medidas” que nada muda.

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Também a emancipação da mulher e as alterações climáticas foram discutidas na audição. Sobre a primeira, Georgieva recordou que “em África diz-se que a mulher segura metade do céu” e que, portanto, merece chegar a lugares de liderança. Sobre as questões relacionadas com as alterações climáticas, Kristalina Georgieva lembrou que não é estreante no assunto e que se sentiria “honrada” em voltar a debruçar-se sobre ele.

Há muito que temos este problema, mas continuamos cegos”, afirma Georgieva. Para mudar isso, há que transformar a ONU numa “organização verde, um exemplo de excelência”.

Em inglês, francês ou russo, Georgieva realçou que “não é dia de fazer promessas”, mas que é sua missão dar a volta ao modo como a ONU tem abordado os assuntos mais graves. Tudo com “uma mente aberta”: “Gasta-se demais na resposta e demasiado pouco na prevenção”, algo que, insistiu várias vezes, pode ser mudado através da experiência que acumulou nos cargos que assumiu no Banco Mundial e na Comissão Europeia, onde aprendeu a “gerar consensos quando as hipóteses de isso acontecer eram reduzidas”.