Há dezassete dias que a família de Volodymyr Lavriv não sabe do paradeiro do português de 25 anos, estudante finalista de Medicina em Lisboa. Filho de pais ucranianos, mas residente em Portugal desde criança e com dupla nacionaldiade, Volodymyr viajou para Londres no primeiro dia do mês sem explicar aos pais o que o levava à capital inglesa. Depois de escassos e curtos telefonemas para a mãe, nos quais nunca explicitou onde estava, a conta de Volodymyr ficou a zeros e o telefone desligou-se. Um homem contactou a família, garantindo que viu o rapaz deitado na Trafalgar Square junto a uma estátua. Outros estudantes, que afirmaram conhecer Volodymyr, dizem tê-lo visto em Birmingham. Mas não há certezas sobre o seu paradeiro.

Grande parte da investigação para descobrir onde está Volodymyr Lavriv está a ser feita pela mãe, que veio de Paris – onde reside atualmente – para Portugal em busca de mais informações. Por cá, Galyna procurou conversar com os amigos do filho e com a senhoria da casa onde mora em Lisboa. Depois dirigiu-se ao banco em Porto de Mós, onde a família viveu quando emigrou de Kalush para Portugal, a fim de pedir um extrato bancário com os movimentos da conta à ordem que Volodymyr usava. Foi assim que descobriu os últimos sítios onde o rapaz esteve em Londres: desembarcou no Aeroporto de Gatwick, terá comido num McDonald’s da Victoria Street e depois feito um pagamento de 190 euros à empresa “Airborne”, um fornecedor de suplementos para o sistema imunitário não certificado para a FDA, em Nottingham Street. Depois disso, a conta ficou vazia e perdeu-se o rasto de Volodymyr. Os pais chegaram a transferir-lhe mais dinheiro, mas o cartão associado à conta nunca mais foi utilizado.

O que está a acontecer?

Embora a família já tenha apresentado queixa às autoridades e esteja em contacto com a Polícia Judiciária, a atuação dos agentes de investigação é limitada. O desaparecimento de um adulto só merece a abertura de um inquérito quando há indícios de que há um crime associado a esse desaparecimento, como um rapto ou a hipótese de homicídio. Se um familiar se dirigir à Polícia Judiciária por não saber onde está alguém, é aberto um processo informal onde se apuram quais foram os últimos locais onde passou e se recolhem informações junto das pessoas mais próximas do desaparecido, além dos últimos registos deixados por ele.

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Visto que se trata de um desaparecimento que ocorreu em espaço internacional, há depois duas vias que podem ser seguidas: uma é a policial, que passa pela comunicação entre as autoridades portuguesas e, neste caso, as inglesas; a outra é a diplomática, centrada no consulado português em Londres. Mas há uma ressalva: o ato de desaparecer, só por si, não representa um crime e a polícia não pode excluir a possibilidade de Volodymyr Lavriv estar incontactável e em parte incerta por vontade própria.

Ou seja, quando alguém informa a Polícia Judiciária de que alguém está desaparecido, o único objetivo da investigação é descobrir o paradeiro dessa pessoa. Se, quando for descoberta essa pessoa não quiser que a família ou amigos saibam onde ela está, a Polícia Judiciária não tem de desvendar o seu paradeiro a quem a procurou.

Entretanto, o consulado pode ajudar na investigação. Como Volodymyr era residente em Portugal e só estará em Londres de férias, é necessário que seja apresentada queixa à polícia portuguesa. É ela quem deve comunicar à polícia inglesa o desaparecimento de um português em território inglês, através dos mecanismos disponibilizados pela Interpol (tal como aconteceu no caso de Madeleine McCann). Quando o consulado entra em ação, fá-lo apenas após ser procurada por um familiar (ninguém com um laço em segundo grau, ou um amigo, pode dirigir-se à embaixada), seja presencialmente ou não. A partir daí, o consulado comunica o desaparecimento ao contacto que mantém na polícia metropolitana. A seguir, pode procurar por registos de Volodymyr Lavriv na Base Nacional de Detidos, na lista das “Missed Person” inglesa e em cada um dos hospitais principais da cidade (em Inglaterra não há uma base única de registos, por isso tem de ser procurado um a um).

Mas como Volodymyr Lavriv é maior e ainda não há indícios de crime, o apoio dado à família é mais de natureza psicológica: manter a família informada para que se sinta apoiada nas buscas é a missão mais imediata do consulado.

O padrasto de Volodymyr, Antone Georgica, e uma amiga da família, Anca Talanga, viajaram esta semana para Londres para procurar o rapaz de 25 anos. Os amigos, tanto em Portugal como em Inglaterra, continuam a partilhar as fotografias de Volodymyr Lavriv na esperança de conseguir mais respostas para o desaparecimento do estudante que se preparava para o exame que lhe permitia especializar-se com médico.