Quando ia nascer uma filha, nasceram duas. Não porque Ana Peixoto Almeida estivesse grávida de gémeas, mas porque durante a licença de maternidade criou uma marca. É ela que o diz: “Com a minha filha Constança veio também a Grace“. Um projeto “do coração”, “feito por mães e para mães” e com ADN português.

Olhando bem para o percurso da fundadora, era quase natural que houvesse uma marca de criança no caminho. Na árvore genealógica está uma família ligada à indústria têxtil do Norte do país — os avós eram industriais, o pai trabalhou numa fábrica até aos anos 90, a mãe teve uma loja de roupa de criança. “Nascemos entre trapos e farrapos”, brinca Ana, que começou por trabalhar em comunicação e gestão de marcas, até ser mãe.

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Dois dos “looks” da marca, que se define como tendo “uma simplicidade romântica”. (Foto: Rita P. Braga/Grace Baby & Child)

“A minha filha nasceu em outubro por isso tive uma licença de inverno”, conta a brand manager de 38 anos, que nessa altura trabalhava na Optimus. “Estava mais limitada mas tinha à mão um investimento que a minha mãe tinha feito para abrir uma espécie de atelier de costura de batizado, por isso comecei a pesquisar, a fazer um inventário de quanto valeria este mercado, e resolvi pegar no que tinha — que eram roupas mais clássicas — e fazer uma loja online.” Enquanto a filha Constança fazia as primeiras gracinhas, nascia a Ma Petite Princesse (“a minha princezinha”). O nome haveria de mudar para Grace Baby & Child pouco tempo depois — já havia outro projeto com a mesma designação no reino das marcas infantis — e em outubro de 2013 saiu a primeira coleção de inverno, pensada e escolhida pela empreendedora, que entretanto tinha regressado ao trabalho.

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“Tinha uma filha de um ano, uma marca de um ano, trabalhava no Porto, vivia em Braga e passava metade da semana em Lisboa”, recorda Ana. “Era uma vida maluca.”

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Ana Peixoto Almeida criou a Grace Baby & Child durante a licença de maternidade da primeira filha, hoje com quatro anos. (Foto: Divulgação)

O carrossel não durou muito. Em abril de 2014, “um ano depois da vida dupla e na pós-fusão da Optimus”, Ana Peixoto Almeida despediu-se para se dedicar a 100% à marca. Ironia feliz, na mesma altura descobriu que estava grávida da segunda filha, Camila. E continuou a rodear-se de opiniões femininas, juntando uma equipa de cinco mulheres “entre os 20 e os 30 e muitos” para compor a Grace Baby & Child — três delas com filhos, uma parte importante do currículo.

São peças feitas por mães e pensadas para as mães”, diz Ana, procurando resumir a filosofia da marca. “Nós testamos as roupas nos nossos filhos e tentamos que sejam funcionais, sem deixarem de ser um bocadinho românticas, com um look quase vintage. Por outro lado, não queremos ser clássicas e preferimos falar de uma tradição reinventada. Não queremos ser loja de Campo de Ourique, queremos ser um pouco mais inovadoras.”

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Dos 15 aos 60, a média das peças ronda os 35 euros.

É algures entre essa “tradição reinventada” e uma “modernidade sem extravagância” que se encontra a Grace. O mesmo é dizer que não há brilhos dourados de princesas ou estampados de letras e caveiras nas coleções, como acontece noutras marcas do mesmo segmento, antes malhas de tons lisos, coletes e vestidos às flores, jardineiras com botões de madeira e meias para usar até ao joelho, com um pompom de lado. Tudo feito no Norte, maioritariamente em Barcelos, em quantidades pequenas e “com atenção ao detalhe”.

“Fazemos as costuras de forma a não magoar o bebé e usamos forros 100% algodão, tão bons que até há quem os use em camisas”, diz Ana Peixoto Almeida. “Comprar português é mais caro do que comprar numa Zara, numa H&M ou numa Primark, mas são peças que dá para passar aos mais novos, e aí também estamos a regressar um pouco ao que se fazia antigamente.”

Dos zero aos seis anos e do parque infantil ao berço, a ambição da Grace Baby & Child é “acompanhar uma família desde o momento em que os pais sabem que estão à espera de bebé até à idade escolar“. E isso vê-se não só nos tamanhos das roupas mas também na linha de casa, que tem estado a crescer, e nos novos projetos: “Queremos ter sapatos e para o ano vamos lançar pijamas”, diz a fundadora. “A ideia é ser uma marca abrangente e muito presente na vida dos nossos consumidores, entregando um produto que respira um pouco este calor familiar.”

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Um dos artigos da linha de casa, uma toalha de banho em amarelo mostarda.

Enquanto a temperatura desce lá fora, a marca aquece lugar na arena internacional, com a primeira participação, já em janeiro do próximo ano, na prestigiada feira infantil Playtime Paris. Com três filhas, duas que falam e pensam e uma em que é preciso colar etiquetas, Ana Peixoto Almeida não tem dúvidas: “Quando trabalhava na Optimus gostava do que fazia mas tinha ambição de criar uma coisa que viesse da minha cabeça, das minhas mãos e do meu coração. A Grace é isso.”

Nome: Grace Baby & Child
Data: 2013
Pontos de venda: Várias lojas (lista completa aqui) e online
Preços: 15€ a 60€ (média 35€)

100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.