O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, voltou a fazer das suas e disse esta quarta-feira que Portugal estava a ser bem-sucedido até o novo Governo entrar em funções, numa tomada de posição vincada sobre o país.

Não é de hoje que Wolfgang Schäuble decide tecer duras críticas a Portugal, nem sequer é um exclusivo de Portugal. O todo-poderoso ministro das Finanças da Alemanha, a maior economia da zona euro e que mais peso tem no Eurogrupo, citado pela agência Bloomberg, atirou-se ao Governo socialista de António Costa, dizendo que as coisas começaram a correr mal em Portugal com a entrada do novo Governo em funções.

Portugal estava a ser muito bem-sucedido até entrar um novo Governo, depois das eleições […], declarar que não iria respeitar o que os compromissos com que o anterior Governo se comprometeu”, disse o governante, respondendo a questões dos jornalistas em inglês, numa conferência em Bucareste.

As considerações do governante alemão não se ficam por aqui. Wolfgang Schäuble diz mesmo que avisou o governo português contra os riscos do caminho que está a ser seguido.

Está a acontecer da forma como eu avisei o meu colega português [Mário Centeno] porque eu disse-lhe que se seguirem esse caminho vão correr um grande risco e eu não correr esse risco”, afirmou o governante em Budapeste.

Wolfgang Schäuble dá mais uma achega a Portugal (e não só) dizendo que os Estados-membros têm de respeitar as regras que eles próprios criaram, falando das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento que impõe limites ao défice e à dívida pública.

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De polémica, em polémica, em polémica…

No final de junho o governante criou um incidente diplomático quando colocou a hipótese de Portugal ter de pedir um novo resgate, que seria o quarto, caso não cumprisse as regras. Na versão original em alemão, e de acordo com os jornalistas presentes, o ministro não terá dito a frase no condicional, tendo dito que Portugal havia pedido um novo resgate.

Na altura, ao Observador, o porta-voz de Wolfgang Schäuble garantia que o ministro disse sempre que Portugal teria de pedir um novo resgate, não que o pediu, e apenas caso não cumprisse as regras orçamentais.

Portugal estaria a cometer um erro enorme, se não cumprirem com os compromissos que assumiram. Portugal teria então de pedir um novo resgate. Os portugueses não querem um novo programa e eles também não precisam se cumprirem com as regras europeias”. Esta terá sido a declaração de Wolfgang Schäuble, de acordo com o seu porta-voz, numa conferência em Berlim em que participava também o ministro dos Negócios Estrangeiros do Luxemburgo.

A confusão gerou-se quando um primeiro título da agência Bloomberg – e mais alguns órgãos de comunicação social internacionais – noticiaram declarações do controverso ministro alemão a dar conta que Portugal tinha pedido “um novo resgate e irá tê-lo”.

As declarações levaram a protestos do Governo português, que apresentou um protesto formal em Berlim através do seu embaixador, e em Lisboa convocou de imediato o embaixador alemão para pedir explicações.

A linha dura de Schäuble com Portugal

Mas não é só nas palavras que Wolfgang Schäuble faz sentir a sua ‘frustração’ com Portugal. Depois de aprovado o orçamento para 2016 pela Comissão Europeia em Bruxelas no dia 5 de fevereiro, o governante deu indicações ao seu número dois para que na reunião de preparação do Eurogrupo exigisse um plano de contingência ao Governo português com medidas que o Governo teria de implementar de imediato para que o défice não derrapasse em 2016.

Esse compromisso foi não só aceite pelo Governo português no grupo de trabalho que prepara as reuniões do Eurogrupo, numa conferência telefónica no dia 9 de fevereiro em que participou o secretário de Estado do Tesouro e Finanças, Ricardo Mourinho Félix, como foi aceite dois dias mais tarde na reunião dos ministros das Finanças em Bruxelas, pelo ministro das Finanças, Mário Centeno.

À entrada da reunião dos ministros das Finanças de dia 11 de fevereiro, Wolgang Schäuble, aproveitou mesmo para dizer aos jornalistas que os mercados já estavam a “ficar nervosos” com Portugal e que “seria muito perigoso para Portugal” se o país desse a impressão que está a recuar no caminho percorrido até agora.

“Estamos atentos aos mercados financeiros e, como acabei de dizer, acho que Portugal deve prestar muita atenção ao que se passa e não continuar a perturbar os mercados, dando a impressão que quer recuar no caminho percorrido até aqui. Isso sim seria muito perigoso para Portugal. (…) Vamos continuar a encorajar firmemente os nossos colegas portugueses a não se desviarem do caminho de sucesso que tem sido percorrido”, disse.

Curiosamente o ministro respondia a perguntas dos jornalistas alemães à entrada do Eurogrupo, sendo que nenhum deles perguntou sobre Portugal, mas sim sobre as preocupações com a situação do Deutsche Bank, um dos maiores bancos alemães, que já tremia na altura (e agora pior). A única referência do governante a esse respeito é que não havia razão para preocupação.