Se está a pensar adquirir um Tesla com condução autónoma e depois rentabilizá-lo, colocando-o à disposição de empresas como a Uber, saiba que vai ter Elon Musk à perna. É o que se pode concluir do aviso que a Tesla publicou no seu site, onde informa que “utilizar o seu automóvel para o transporte da família e amigos é aceitável, mas só será permitida a exploração comercial de um Tesla através de uma solução Tesla Network, cujos detalhes serão revelados em 2017”.

A primeira curiosidade é o facto de um fabricante de automóveis, depois de entregar o carro que construiu e receber em troca a quantia que pediu por ele, ainda se achar no direito de impedir o novo proprietário de fazer com ele o que bem lhe apetecer. Só falta mesmo pensar em proibir que os condutores engordem, sejam do Benfica, tenham uma mulher loira ou transportem um cão preto. Mas de Musk, o homem que nos surpreendeu com a Paypall, a SpaceX e mais recentemente a Tesla, já não há nada que nos surpreenda.

Este anúncio, que inibe a utilização dos carros da marca pela Uber e empresas afins – como a americana Lyft, em que a GM investiu 500 milhões de dólares em Janeiro –, vem na continuidade do que a Tesla revelou no final de Outubro, em que divulgou estar a preparar um programa concorrente da Uber, para que os proprietários possam explorar comercialmente os seus modelos. O objectivo é juntar os seus automóveis à rede da Tesla e explorar o aluguer de curta duração, com e sem condutor, quando a condução 100% autónoma for possível. Musk admitiu mesmo que em cidades onde a frota dos modelos da marca propriedade de particulares for muito reduzida, a Tesla poderá criar uma frota própria especificamente para aluguer.

Quem muito provavelmente não deverá apreciar esta última decisão de Elon Musk serão os investidores que, na última década, aplicaram mais de 28 mil milhões de dólares em companhias de transporte como a Uber, precisamente aquelas que a Tesla agora está a atacar.

Mas o patrão da Tesla sabe que os seus veículos – à semelhança dos restantes carros particulares não utilizados profissionalmente – estão parados entre 90 a 95% do dia, pelo que a ideia é rentabilizá-los. E a app que a Tesla tem em preparação, além de distribuir rendimento pelos clientes da marca que aderirem ao projecto, irá permitir à empresa de Elon Musk uma fatia do bolo associado ao mercado do aluguer de curta duração, que a Uber explora como nenhuma outra, o que permitiu que a empresa californiana, fundada há apenas sete anos, esteja presente em 66 países, 507 cidades e lhe seja atribuído um valor que ronda os 66 mil milhões de dólares.

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