Obra com desenhos e textos inéditos intitulada “Eça de Queiroz em Casa — Desenhos e Textos Inéditos”, com organização e transcrição Irene Fialho, é publicada na próxima quarta-feira, disse à Lusa fonte editorial.
“Os textos e desenhos que aqui se publicam são, na sua maioria, inéditos, provenientes de álbuns que estiveram mais de cem anos escondidos do público. Mesmo nos poucos casos em que os textos e as imagens já se encontravam publicados, nunca foram coligidos numa edição que restituísse a sua forma original”, afirma na introdução Irene Fialho.
Segundo a investigadora, “estes álbuns não só nos revelam uma faceta quase desconhecida de Eça de Queiroz, a de desenhador, como nos permitem uma visão única do círculo familiar e de amigos em que o grande escritor viveu”.
“Desde autocaricaturas a poemas escritos ao desafio, passando por retratos de perfil, partituras e até o desenho de um diabo nu, somos levados aos serões íntimos que Eça de Queiroz partilhava com os seus”, argumenta Irene Fialho, mestre em Literaturas Comparadas, pela Universidade de Coimbra.
Numa das “autocaricaturas” publicadas Eça personifica-se como uma cegonha, e noutra carrega uma cruz antropomórfica para Bristol, em Inglaterra, e na qual colocou a seguinte legenda: “Jesus Maria levando a cruz para o consulado”.
José Maria Eça de Queiroz foi nomeado cônsul de Portugal em Bristol em julho de 1878, e segundo Irene Fialho a comparação que faz de si a uma cegonha deve-se “à [sua] magreza”. “Simbolicamente — escreve a investigadora -, é a sua efígie enquanto criador de textos literários, mas também de muitos dos desenhos e poemas registados neste caderno”, a publicar pela Editorial Presença.
A obra “Eça de Queiroz em Casa — Desenhos e Textos Inéditos” é apresentada na próxima sexta-feira às 19:00, no Grémio Literário, em Lisboa, data em que passam 171 anos sobre o nascimento do escritor na Póvoa de Varzim, no Minho.
Realça a investigadora que a faceta pictórica, tal como a de poeta, do autor d'”A Relíquia” são desconhecidas para a maioria dos seus leitores.
Na parte artística há, aliás, relatos de contemporâneo seus, que testemunham os “extraordinaríssimos desenhos” de Eça, como se lhe referiu o escritor brasileiro Eduardo Prato, citado por Irene Fialho.
A obra revela ainda caricaturas do seu amigo, o escritor Ramalho Ortigão, entre elas elas, uma que ilustra um pequeno poema heroico-cómico, “A Ramalhada”, também reproduzido parcialmente, e uma outra em que Ramalho Ortigão (1836-1915) surge sentado numa sala com várias escovas e maletas, ou outras que o mostra como um galo, “que faz contraponto à cegonha Eça de Queiroz”.
Entre os escritos inéditos ou menos conhecidos do romancista, esta obra reproduz a “Farsa de Inês de Castro”, em verso, dividida em 14 episódios, mas incompleta, e ainda do “Caderno de D. Emília de Castro”, com quem Eça casou em 1886,
Este caderno inclui vários poemas, alguns em inglês e francês (traduzidos nesta edição por Helena Sobral, do filho do casal, José Maria d’Eça de Queiroz, nascido em Londres em 1888, e ainda um da sua irmã, Maria d’Eça de Queiroz, datado de 1908.
A atual edição inclui aliás, do caderno de Maria d’Eça de Queiroz (1887-1970), a narrativa curta “João Chinchila”, do amigo brasileiro da família, Domício da Gama, que o dedica à filha do escritor. Domício da Gama num postal ilustrado, datado de abril de 1899, promete à jovem o conto “João Chinchila”, que publicou em 1901, cerca de um ano depois da morte do autor d'”A Cidade e as Serras”.