«O que resta dos nossos amores?», perguntava João Bénard da Costa, em 2008, referindo-se aos emblemáticos espaços culturais da capital portuguesa: «Que reste-t-il de nos amours? O Tivoli, Odéon e o Capitólio, há muito encerradas, a apodrecerem aos poucos ou aos muitos».
Passados oito anos, as letras gordas dos cartazes do Vodafone Mexefest dizem-no um pouco por toda a parte, mas não é demais relembrar que estão de volta as clássicas salas de espetáculo lisboetas e com elas, a vida e a magia de vozes do mundo inteiro, do qual Portugal também faz parte: Elza Soares, Gallant, Jagwar Ma, Kevin Morby, Mallu Magalhães, NAO, Talib Kweli e Whitney.
Além destes, ainda em destaque, estão os nomes de Baio, Bruno Pernadas, Céu, Digable Planets, Howe Gelb, King, Mike el Nite & Nerve, Octa Push, Sunflower Bean, The Invisible.
Sem ser exaustivo, convém dizer que o Vodafone Mexefest deste ano inclui também as sonoridades de Lula Pena, Fábia Rebordão, Fugly, Sara Tavares, La Dame Blanche ou Señoritas. Mas para quem quiser saber tudo, o melhor é espreitar aqui, onde se encontram as bandas todas, listadas por ordem alfabética, podendo, em alternativa, ser apresentado um calendário das atuações por dias ou por salas.
Ora, quanto aos dias, é muito simples: o Vodafone Mexefest decorre a 25 e 26 de novembro. Já no que toca aos lugares em que tudo vai acontecer, convém demorarmo-nos um pouco mais, ficando desde já a menção de que tudo se concentra em torno da Avenida da Liberdade.
A reinvenção dos espaços
O grande destaque deste ano vai para a inclusão de alguns novos palcos, não só no roteiro de concertos do Festival Vodafone Mexefest, como também, nalguns casos, na própria vida cultural de Lisboa. Estamos a falar do Parque Mayer, onde emerge o reabilitado Teatro Capitólio após vários anos de abluções.
O Capitólio foi inaugurado em 1931 / Arnaldo Madureira, 1960
Ficou no imaginário coletivo nacional este edifício do Parque Mayer, essa Broadway da revista à portuguesa, e pode agora ser descoberto na sua nova pele e também nova carne, pois é na vivência dos espetáculos que ali se vão desenvolver que o público lhe devolverá a vida, uma vida que passou e agora renasceu.
«O Capitólio do “meu tempo” tinha duas novidades decorativas que deram brado: uma escada rolante, a primeira escada rolante que existiu em Portugal, e que, embora só rolasse a altura de um lance de escadas, era o gáudio dos indezes e o terror das sogras de meia-idade, que, ao chegarem lá acima ou cá abaixo, caíam nos braços da família, bradando em vernáculo “we made it”, escrevia João Bénard da Costa no jornal Público de 20 de abril de 2008. Veremos, em novembro de 2016, quem cai nos braços de quem nesta noite de Vodafone Mexefest.
Se o original Teatro Capitólio se apresentava como um inovador teatro, music-hall e cinema, com um grande salão de espetáculos interior, um palco e camarins anexos, e a vertente de cinema sobre o terraço superior, ao ar livre, é toda esta diversidade cultural que hoje regressa ao Capitólio, com três espaços de programação distinta: Auditório, Bastidores e Terraço.
Gostaria decerto Bénard da Costa de visitar o recinto nas suas novas roupagens, sobretudo aquela «esplanada no terraço para as noites de Verão, onde os monstros da lagoa negra evoluíam com o céu como limite.
Havia quem levasse cobertores ou para não ter frio ou para conhecer melhores calores». Reabre este fim de semana, para novas temperaturas e experiências no Vodafone Mexefest.
Novidades e continuidades
Outra das novas salas do Festival é o Sótão do Teatro Tivoli BBVA. Contemporâneo do Parque Mayer, o Tivoli foi inaugurado em 1924 para fazer de Lisboa uma verdadeira capital europeia no roteiro dos espetáculos.
Entre o cinema, o teatro, o bailado e a música, as artes que por ali passaram ao longo do tempo multiplicam-se pela diversidade de ambientes que a sua polivalência proporciona. Este ano, além da presença de Mallu Magalhães e Bruno Pernadas no palco principal, atuarão, no Sótão, os Irmãos Makossa e Pedro (Itch)Coqu.
A estes novos espaços, somam-se a já habitual Estação Ferroviária do Rossio. Inaugurada em 1891, é a mais bela e emblemática estação da capital portuguesa. Depois das obras de remodelação, terminadas em 2008, o seu pendor artístico volta a ser realçado e integra o leque de salas do Vodafone Mexefest, recebendo Octa Push, Kevin Morby, Baio e Sunflower Bean.
Outro palco «clássico» emerge a meio da Avenida da Liberdade: o Cinema São Jorge. Apesar de ter sido originalmente um cinema, este início de século devolveu ao São Jorge o estatuto de ser uma das mais conceituadas salas de espetáculos do coração lisboeta.
Com mais de 60 anos de história, uma das suas missões passa agora pela criação e formação de novos públicos, pelo que não poderia ficar de fora deste festival, que é já um emblema da cidade.
Algumas vozes poderão ser ouvidas aqui, como Sara Tavares ou os The Invisible, na sala Manoel de Oliveira, ou, Fandango e Acid Acid, na Sala Montepio.
Sobram ainda muitos lugares para deambular de pulseira no pulso, como a Sala Delta – Palácio Foz. O edifício do palácio foi projetado no século XVIII e apresenta uma fachada imponente setecentista. Com espaços interiores nobres, tem sido utilizado para vários eventos culturais e recebe agora, por exemplo, Fábia Rebordão e Celina da Piedade.
Herdeira de um vasto e valioso património arquitetónico espalhado por todo o país, a EPAL tem a sua sede localizada na Avenida da Liberdade, num edifício histórico que abre as portas da sua garagem, tornando-se no local perfeito para uma surpreendente Sala Super Bock, que irá animar-se com os Ciência Rítmica Avançada, Dead Pretties, Ganso e ainda Manuel Fúria e os Náufragos.
É do século XIX a próxima sala que transita da edição do ano passado. A Sociedade de Geografia de Lisboa possui um espólio riquíssimo virado para a ciência, e a sua inclusão nos espaços do Vodafone Mexefest faz com que os novos saberes da arte musical sejam o grande ponto de discussão, Lula Pena poderá confirmá-lo.
Nas proximidades estão mais dois espaços icónicos: o Coliseu dos Recreios, que dispensa apresentações –e irá receber os cabeça de cartaz Elza Soares, Jagwar Ma, NAO, Branko Live e Gallant, e a Sala Toyota CHR – a Casa do Alentejo.
Este edifício cuja origem remonta aos finais do século XVII, acabou por se tornar no primeiro casino em Lisboa, no início do século passado. Com uma arquitetura requintada, de fortes influências árabes, a casa mãe das raízes alentejanas na capital deixa a planície de lado durante dois dias e torna-se uma sala de concertos. Recebe as atuações de Howe Gelb e Taxi Wars, entre outras sonoridades.
Deixamos para o fim o palco mais móvel deste Vodafone Mexefest, o Vodafone Bus. Assumindo o compromisso de mexer, literalmente, com a música, o Vodafone Bus é o autocarro de serviço.
Para cima e para baixo, a festa faz-se do centro da Avenida da Liberdade até aos Restauradores, transportando simultaneamente o público e a música das duas bandas que irão animar o andamento destes dois dias de festival: 800 Gondomar e Fugly.
O Vodafone Mexefest já se afirmou como o festival de inverno de Lisboa e as últimas edições, sucessivamente esgotadas, confirmam esse estatuto. Todos os anos o objetivo é desenvolverem-se ações diferentes que surpreendam o público e que contribuem, em muito, para o sucesso do festival.
Assim, além do cartaz de luxo do festival, o destaque da edição deste ano vai para três ações que a Vodafone preparou: os Concertos Surpresa Vodafone, as Vodafone Vozes da Escrita e o Vodafone Cuckoo.
É caso para dizer, como provavelmente o faria João Bénard da Costa, «Nos amours sont de retour» (os nossos amores estão de volta).