O crítico e ensaísta português Eduardo Lourenço foi distinguido, esta quinta-feira à tarde, na Academia Francesa, com o Prémio de Divulgação da Língua e Literatura Francesas, algo que descreveu à Lusa como um “conto de fadas”.

“Nunca esperava que algum dia tivesse um prémio por me ter interessado e divulgado a própria cultura francesa. Eles não precisam de ninguém, porque a [sua] cultura está espalhada no mundo inteiro — e há muitos séculos. Mas, enfim, estas coisas… parecem contos de fadas”, afirmou o filósofo na Academia Francesa.

Eduardo Lourenço, de 93 anos, disse que o prémio da Academia Francesa foi “uma surpresa absoluta”, porque nunca imaginou receber “um prémio dado por esta famosa academia — que é tão velha como o [rei] François I ou Luís de Camões”. “Não tenho palavras para comentar esta coisa: é uma honra. E também penso muito nos meus amigos — e toda a gente que eu gostaria que estivesse aqui neste momento –, para eu não ser sozinho a confrontar-me com este tipo de fantasmas”, afirmou.

Questionado sobre que tipo de “fantasmas”, Eduardo Lourenço — que partiu para França em 1949 — falou no “diálogo permanente dos portugueses com a França” e lembrou que viveu “a maior parte do tempo nesta segunda pátria que é a França”. “Nós estamos aqui numa praça da capital de um país que é o mais literário de todos os países que eu conheci. Mas a França, sobretudo para nós portugueses, foi sempre aquilo com que nós sonhámos, comentámos, vivemos, imitámos, detestámos. Mas é incontornável a nossa relação cultural com o mundo”, considerou.

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Na hora de receber o Prémio de Divulgação da Língua e Literatura Francesas, Eduardo Lourenço lembrou também quem não está com ele “para partilhar esta espécie de honraria”. “Sobretudo a minha mulher, que é francesa e que não está comigo. Curiosamente, as coisas acontecem assim tão extraordinárias. É o dia do aniversário da sua morte”, explicou.

Durante a cerimónia anual de entrega de prémios na Academia Francesa, Danièle Sallenave, diretora em exercício da instituição, apresentou Eduardo Lourenço como um “filósofo português que escreveu uma parte da sua obra em francês”, acrescentando que ele é “conhecido pelos seus trabalhos sobre Fernando Pessoa” e que “publicou várias obras, algumas diretamente escritas em francês, como ‘Montaigne’ ou ‘La Vie écrite'”. “Ele considerou sempre a França como a sua segunda pátria. É uma das razões do reconhecimento que hoje lhe presta a Academia Francesa”, afirmou Danielle Sallenave.

Na histórica sala da Academia Francesa, o anfiteatro coberto por uma monumental abóbada recebeu as dezenas de laureados dos diferentes prémios e diferentes personalidades, como o ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, o embaixador de Portugal em Paris, José Filipe Morais Cabral, o conselheiro cultural da Embaixada, João Pinharanda, e o diretor do Théâtre de la Ville, o franco-português Emmanuel Demarcy-Mota.

O Prémio de Divulgação da Língua e Literatura Francesas, atribuído a Eduardo Lourenço, é destinado a personalidades francesas ou estrangeiras que tenham prestado serviços excecionais à divulgação da língua e da literatura francesa. A distinção, criada em 1960 e atribuída anualmente, faz parte da categoria “Grands Prix” da Academia Francesa e foi também atribuída hoje ao investigador suíço de literatura Jean Paul Barbier-Mueller, à Alliance Française em Abu Dabi, à historiadora de arte italiana Elena Fumagalli e à produtora libanesa do programa televisivo “Espaço Francófono” Mona Makki-Gallet.

A Academia Francesa distinguiu, em diferentes categorias, 69 pessoas, sobretudo na área da literatura, mas também foram agraciados o cantor belga Stromae, a cineasta franco-luxemburguesa Anne Fontaine e o cantor francês Jean-Jacques Goldman.