O líder parlamentar do PCP não arrisca retirar o PS do grupo de partidos que o PCP classifica como os principais precursores de uma “política de direita”, isto ainda que o seu partido tenha firmado uma posição conjunta com os socialistas há um ano, que permitiu que António Costa se tornasse primeiro-ministro. “Estamos perante um Governo minoritário do PS que está condicionado pela relação de forças que existe na Assembleia da República”, lembra João Oliveira em entrevista ao Observador.

Confrontado com a classificação que ainda resiste quando os dirigentes comunistas se dirigiram ao congresso e falaram do PS, João Oliveira diz que se trata de “uma identificação objetiva do ponto de vista das opções que o PS faz e dos compromissos que tem e dos quais não abdica”. Ainda não confiam ao ponto de retirar o PS desse grupo que acusam de levar a cabo uma política de direita? “Temos bem memória do que significou para os trabalhadores e para o povo a governação de José Sócrates, particularmente durante a maioria absoluta”, exemplifica João Oliveira que nunca diz diretamente se já tem motivos para confiar no PS e retirá-lo desse grupo — ainda que deixe claro que a desconfiança se mantém.

Já tivemos governos minoritários do PS que não estavam condicionados pela relação de forças na Assembleia da República nos mesmos termos que este está. Conhecemos as opções e compromissos do PS, portanto não vendemos a ilusão a ninguém que o PS rasgou todo o seu passado, todas as suas responsabilidades na situação do país, todas as suas opções e compromissos porque isso não corresponde à verdade”.

É por o PS não mostrar “opções de rutura com a política de direita” que o líder da bancada comunista na Assembleia da República diz que por agora “é preciso aproveitar todos os avanços, todos os elementos positivos que esta relação de forças permite”.

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O comunista não vê necessidade em renovar os compromissos vertidos na posição conjunta assinada há um ano, até porque considera que ainda há muito por fazer do que lá está escrito: “As matérias identificadas na posição conjunta ainda vão precisar que muita água corra debaixo das pontes para que possam ser integralmente adquiridas”. Quanto à necessidade de deixar tudo preto no branco, mais uma vez, a postura é clara: não. “A posição conjunta corresponde a uma circunstância concreta em que era preciso reunir um conjunto de condições para encontrar uma resposta que correspondesse à alteração da correlação de forças na Assembleia da República. Aliás dissemos logo que haver ou não haver papel era perfeitamente irrelevante”.

A solução política encontrar seria sempre encontrada mesmo não havendo qualquer tipo de compromisso escrito”.

Também não arrisca previsões sobre a durabilidade do atual Governo, suportado pelos partidos da esquerda no Parlamento: “É na natureza da política que está a resposta à duração do Governo”. E atira para canto a questão da sucessão do atual líder comunista, Jerónimo de Sousa, eleito no congresso do partido em 2004, que também se realizou em Almada. Não está nas Teses que os comunistas trazem a este congresso, mas João Oliveira diz nesta entrevista que também não tinha de estar. Quer isso dizer que, assim, a questão vai colocar-se nos próximos quatro anos? “A questão fica colocada com a decisão do Comité Central”. Mas está em equação? “Não está definitivamente em consideração”.