Rachid Kassim é um jihadista “triste”. No ano passado, este homem de 29 anos, que os serviços secretos acusam de ser o ideólogo e instigador de ataques terroristas na Europa, mudou-se de França para a Síria com a mulher e a filha de três anos. Agora está arrependido. “Muitos de nós estamos invejosos dos irmãos que atacam no dar ul-kufr“, os países não-muçulmanos, diz Kassim em entrevista.
Em conversa com Amarnath Amarasingam, professor universitário e especialista em terrorismo da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, Rachid Kassim afirma que a mentalidade do Estado Islâmico mudou nos últimos meses, à medida que o grupo terrorista foi perdendo territórios no Iraque e na Síria. “No início, o califado apelou à hijrah“, a migração de muçulmanos para aqueles países. Mas agora “acreditamos que um pequeno ataque no dar ul-kufr é melhor do que um grande ataque na Síria”, diz o jihadista.
Na entrevista, concedida através da aplicação Telegram, Kassim justifica os ataques a alvos europeus com as práticas de guerra desses países. “A França bombardeia hospitais, bombardeia civis. Eles sofrem todos os dias com os bombardeamentos da França e da Europa. A violência não começou do nosso lado. A França e os Estados Unidos é que começaram com os homicídios. Quando eles pararem, nós paramos”, afirma o terrorista, cuja conta no Telegram foi entretanto apagada.
O entrevistador explicou ao jornal El Español que foi fácil falar com Kassim e que este tinha vontade em contar a sua história. “Do que mais me arrependo é não ter conseguido convencê-lo a falar mais abertamente sobre detalhes operacionais. Foi muito cauteloso para não me dar pormenores”, disse Amarasingam. O especialista diz ter ficado surpreendido com algumas afirmações de Kassim na conversa.
Rachid Kassim tem 29 anos e nasceu na Argélia, filho de pai iemenita e mãe argelina. Viveu em França durante quase vinte anos e, antes de se mudar para a Síria, dedicou-se ao rap. Foi nesse país que se radicalizou e começou a chamar a atenção das autoridades. “A polícia sabia. Sempre que eu ia correr havia dois polícias que me seguiam. E depois escondiam-se. Era ridículo”, comenta.
Uma noite, às três da manhã, o jihadista acabou por sair de casa e abandonou França com a família. Chegaram à Sicília, depois à Turquia e, daí, passaram à Síria, onde Kassim se tem dedicado a influenciar potenciais terroristas na Europa. Uma atividade que, apesar de não se saber se é encorajada pelos responsáveis do Estado Islâmico, é pelo menos permitida. Apesar da notoriedade que alcançou, alguns analistas ouvidos por Amarnath Amarasingam pensam que Rachid Kassim tem perdido importância dentro da organização, sobretudo porque as autoridades estão agora, ainda mais, atentos às comunicações do terrorista.