O fotojornalista português Mário Cruz inaugura este mês a sua primeira exposição a solo, na galeria Manifesto, no Porto, com imagens da reportagem “Talibes — Modern Day Slaves” que lhe valeu um prémio World Press Photo no ano passado.
De acordo com o fotojornalista, em declarações à agência Lusa, esta será também a primeira vez que serão mostradas 23 imagens da reportagem “Talibes — Modern Day Slaves” (“Talibés — Escravos dos Tempos Modernos”), sobre as crianças escravizadas pelas falsas escolas islâmicas do Senegal e da Guiné-Bissau, distinguida na categoria Assuntos Contemporâneos do World Press Photo 2016.
A mesma reportagem, entretanto editada em livro, valeu ainda ao fotojornalista o Prémio de Fotojornalismo Estação Imagem Viana do Castelo. A inauguração está marcada para 28 de janeiro, na galeria Manifesto, no Mercado Municipal de Matosinhos.
Para a galeria, “estas imagens são não só um apelo à ação, como também uma celebração do poder do fotojornalismo”.
Mário Cruz, de 29 anos, que trabalha na agência Lusa, tomou conhecimento das falsas escolas corânicas em 2009, durante uma reportagem na Guiné-Bissau, onde ouviu casos de crianças que estavam a ser levadas para o Senegal para serem escravizadas por líderes religiosos, e esteve dois meses a investigar e a fotografar a situação no Senegal e na Guiné-Bissau.
Nas ruas das cidades do Senegal, nas contas de Mário Cruz, estarão a mendigar 50 mil crianças, que “são agredidas e violadas diariamente”, por falsos professores de falsas escolas.
Na apresentação do livro, em outubro, em Lisboa, o jornalista explicou as dificuldades por que passou para ter acesso às supostas escolas, onde viu crianças acorrentadas e chicoteadas, e disse que, após a divulgação do prémio World Press Photo, na categoria Assuntos Contemporâneos, 28 crianças foram logo resgatadas.
Nas ruas de Dacar, salientou, as autoridades distribuem panfletos, alguns com fotografias suas, para chamar a atenção para a causa e até agora já foram resgatadas mais de 500 crianças.
A galeria Manifesto tem um espaço de 150 metros quadrados, no requalificado Mercado Municipal de Matosinhos, “dedicado integralmente à fotografia documental”.
Segundo os responsáveis da galeria, “numa sociedade saturada de informação, o Manifesto quer ser um embaixador da narrativa lenta, contando para isso com uma programação de quatro exposições por ano, para iluminar imagens que nos ajudem a refletir e sejam rastilhos de ação”.