Foi anunciada esta terça-feira a lista de nomeados para a 89ª edição dos Óscares, entregues a 26 de fevereiro. E sem grandes surpresas: “La La Land”, o musical de Damien Chazelle protagonizado por Ryan Gosling e Emma Stone, que conseguiu dividir a crítica, foi o filme que mais nomeações recebeu. Já “Moonlight”, outro dos grandes favoritos, ficou aquém das expectativas, quando comparado com o filme de Chazelle, ao mesmo tempo que representa um sucesso e uma mudança: é um filme feito à margem dos grandes estúdios e que foca o argumento nos dilemas de uma família afro-americana nos EUA da atualidade.
Tudo isto está também relacionado com uma das novidades (ainda que sem grandes surpresas): a maior diversidade de atores e filmes incluídos na lista deste ano. Um ano depois da polémica sobre a diversidade racial nos Óscares se ter instalado em Hollywood, tendo levado a mudanças drásticas nas regras que permitem a entrada de novos membros na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, as nomeações de 2016 são bem mais diversificadas, com filmes como “Moonlight” e “Fences” na corrida ao prémio de Melhor Filme. Entre os atores nomeados, contam-se seis negros — em 2016, e pelo segundo ano consecutivo, todos os nomeados eram brancos.
A confirmação
Já se estava mesmo a ver: “La La Land”, de Damien Chazelle, foi o filme que mais nomeações arrecadou esta terça-feira. Foram 14 ao todo (em 13 categorias diferentes, duas na de Melhor Canção), número que só foi atingido duas vezes na história dos Óscares, prémios criados em 1929 — uma com “Eva” (1950) e outra com “Titanic” (1997).
O musical, com Ryan Gosling e Emma Stone nos papéis principais, conta a história de um pianista de jazz que se apaixona por uma atriz de Los Angeles. Considerado há muito um dos favoritos para os prémios deste ano pelos críticos norte-americanos, o filme conta já com vários galardões, incluindo sete Globos de Ouro, um record absoluto.
As categorias para que foi nomeado são as seguintes:
- Melhor Filme
- Melhor Realizador
- Melhor Ator Principal
- Melhor Atriz Principal
- Melhor Argumento Original
- Melhor Fotografia
- Melhor Montagem
- Melhor Design de Produção
- Melhor Guarda Roupa
- Melhor Banda Sonora
- Melhor Canção Original (duas nomeações)
- Melhor Edição Sonora
- Melhor Mistura Sonora
Outra confirmação: a do valor de Lucas Hedges. Com 20 anos, e pela sua prestação em “Manchester By The Sea”, está nomeado para Melhor Ator Secundário.
A curiosidade
A maior terá a ver, mais uma vez, com “La La Land” e com o facto de ter conseguido duas nomeações na mesma categoria (a de Melhor Canção original). Não é a primeira vez que algo semelhante acontece mas não é habitual. Por exemplo: em 2001, Steven Soderbergh foi nomeado para Melhor Realizador por “Traffic” e por “Erin Brokovich” (ganhou pelo primeiro); da mesma forma que Michael Curtiz foi nomeado, em 1939, para Melhor Realizador por “Anjos de Cara Negra” e “Quatro Filhas” (não ganhou nenhum). Mas, já agora, o esclarecimento: “La La Land” só poderá ganhar o Óscar por uma das canções e não por ambas, claro está.
A surpresa
Por esta ninguém esperava: “Passageiros”, de Morten Tyldum, com os atores Jennifer Lawrence e Chris Pratt nos papéis principais, conseguiu duas nomeações — para Melhor Design de Produção (categoria para a qual estão também nomeados “La La Land” e “Fantastic Beasts and Where to Find Them”, a prequela de “Harry Potter”), e Melhor Banda Sonora (composta por Thomas Newman). É certo que são categorias mais técnicas mas, ainda assim, e depois do desdém com que foi recebido pela crítica, acabou por ser uma revelação. E com mais nomeações que “Silêncio”, de Scorsese. isso mesmo.
A dúvida
Um dos grandes candidatos aos Óscares era “Moonlight”, de Barry Jenkins (chega às salas no dia 2). Apontado por muitos como um dos favoritos, o filme sobre um jovem negro na cidade de Miami acabou por receber oito nomeações, incluindo a de Melhor Ator Secundário, Melhor Atriz Secundária, Melhor Realizador e Melhor Filme. Não foram poucas mas, feitas as contas, foi um número bem inferior ao de “La La Land”, perto de metade. Ainda assim, está nomeado para algumas das principais categorias. Vencer em cada uma delas não seria de todo surpreendente e essa á uma das principais questões que vamos querer ver respondidas no dia 26 de fevereiro.
As desilusões
A maior desilusão, porém, parece ter sido “Silêncio”, de Martin Scorsese. Apesar das críticas positivas, o filme sobre um jesuíta português que viaja até ao Japão só conseguiu uma nomeação — para Melhor Fotografia. Também “Jackie” (que estreia em Portugal a 9 de fevereiro), o filme de Pablo Larraín sobre Jacqueline Kennedy e os momentos que se seguiram ao assassinato de John F. Kennedy só foi nomeado para três categorias — Melhor Atriz Principal, Melhor Guarda Roupa e Melhor Banda Sonora.
Amy Adams não está nomeada para melhor atriz. Esta a Academia podia explicar melhor. Ao mesmo tempo que volta a não dar espaço a um filme de super heróis. Muitos esperavam que “Deadpool” conseguisse algo. Bom: não conseguiu.
Teremos Meryl Streep contra Donald Trump, round 2?
Meryl Streep foi nomeada pela 20ª vez pelo filme “Florence Foster Jenkins”, de Stephen Frears. Case Streep ganhe, este será o quarto Óscar da sua carreira. A atriz de 67 anos recebeu o primeiro prémio da Academia em 1980, pelo papel secundário em “Kramer contra Kramer”. Ganhou pela primeira vez na categoria de Melhor Atriz em 1983, com “A Escolha de Sofia”, e depois em 2012, com “A Dama de Ferro”.
Recentemente, a atriz chamou a atenção dos media ao dirigir críticas diretas a Trump durante o seu discurso dos Globos de Ouro. Streep, que recebeu o prémio de carreira “Cecil B. de Mille” atribuído pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, acusou o Presidente dos Estados Unidos da América de usar “a sua posição de poder para amesquinhar os outros”.
Meryl Streep's anti-Trump speech at The Golden Globes touches on protecting journalists RT @goldenglobes: pic.twitter.com/FTubRjDN5T
— Dan Rather (@DanRather) January 9, 2017
Num discurso onde lembrou a “diversidade que enriquece o mundo do cinema”, Streep falou dos perigos de “seguirmos os exemplos errados”: “Este instinto para humilhar, quando vem de alguém que tem acesso a plataformas de promoção pública, de alguém numa posição de poder, entranha-se na vida de todos nós, porque dá permissão a toda a gente para agir da mesma forma. O desrespeito cria mais desrespeito, a violência incita a mais violência. Quando alguém utiliza a sua posição de poder para amesquinhar os outros, todos nós perdemos”, disse.