Tweets polémicos, decisões contestadas, penteado comentado. O actual Presidente dos Estados Unidos da América é hoje conhecido por todas estas facetas. Mas, e se recuarmos um pouco mais tempo? Vamos até finais dos anos 80.

Na altura, em Nova Iorque, ainda que se vaticinasse uma recessão, para um jovem em particular, Donald Trump, os tempos eram dourados. Tanto que o magnata quis transferir esse esplendor para um automóvel, feito precisamente à sua imagem e semelhança. Ao qual, aliás, haveria de vir a emprestar pela primeira vez o seu nome, como depois continuou a fazer (como marca registada) em grande parte das suas empresas.

Esta história podia chamar-se Trump Golden Series. Passou-se há muitos, muitos anos. E envolve o actual presidente dos EUA, um empresário com ligações à máfia italiana e a reputada marca automóvel norte-americana Cadillac. Curioso?

Publicações de 1988 descreveram o acontecimento. A 1 de Março, a imprensa dava conta da mais recente novidade do universo Cadillac: a apresentação de duas limusinas, a Trump Golden Series e a Trump Executive Series – a primeira mais opulenta, a segunda mais sóbria – no Limousine and Chauffeur Show de 1988, em Atlantic City (New Jersey).

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Donald Trump, John Grettenberger e Joseph Bisson na apresentação das Trump Series

A cerimónia teve direito a discursos, com a devida pompa e circunstância. Por um lado, o então director-geral da Cadillac, John Grettenberger, frisava que embora a marca e limusinas fossem “realmente sinónimos”, com estas duas propostas tinha-se atingido um patamar ainda mais acima, graças à “ajuda de Donald Trump e da Dillinger Coach Works”. Esta última, uma empresa especializada em transformar automóveis convencionais em limusinas, com ligações à General Motors, e que tinha como um dos seus proprietários John Staluppi – homem que, por várias vezes, foi notícia pelas suas provadas ligações à máfia italiana.

Donald Trump mantinha uma relação de amizade ou, pelo menos, de alguma confiança com Staluppi. Tanto que, dois anos antes, em 1986, ao encontrar-se com ele em Miami, lhe sugeriu que usasse a sua influência junto da Cadillac, a fim de esta criar um verdadeiro escritório sobre rodas, com todos os requintes e tecnologias (à época) que o dinheiro pudesse pagar. Mais tarde, conta o próprio Trump, terá recebido num telefonema de John, em que este lhe perguntava se ele gostaria de se envolver no projecto. Ao que Trump diz ter respondido: “Eu não percebo nada de carros, excepto o que pessoalmente gosto…”

O projecto acabou por avançar, com vários recuos pelo meio e com a promessa de que Trump iria adquirir 50 unidades à Cadillac, para colocar ao serviço de VIPs na ligação entre os seus casinos de Nova Iorque e Atlantic City. O que nunca aconteceu. Foram construídos apenas os dois exemplares revelados ao público em 1988, com Trump a ficar (naturalmente) com o primeiro. Facto que lhe mereceu o seguinte comentário:

Estou muito honrado por eles me terem feito a primeira limusina e, francamente, eu mereço.”

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As Trump Series custavam, na altura, cerca de 80 mil dólares, ou seja, cerca de 160 mil dólares (149 mil euros) nos dias que correm. O actual Presidente dos EUA pagou exactamente isso, nem mais um dólar, para ter um carro que foi construído à sua imagem e semelhança. Mais à medida, seria impossível. E, a prová-lo, detalhes como a grelha cromada na frente, os emblemas específicos, o nome claramente destaque. Por dentro, mantinha-se o estilo Trump, com bancos em pele, dourados, muita madeira de cerejeira e um bar, para acomodar o champanhe e outras bebidas espirituosas. Tecnologia também havia: de telefones NEC, fax, passando por televisões com VHS até uma trituradora de papel (?), não faltavam aparelhos para facilitar os negócios.

Para a Cadillac, é que o negócio não foi grande coisa: Trump cancelou a tal encomenda das 50 unidades, alegando que a economia não estava no seu melhor momento, e o amigo Staluppi terá ficado com o dinheiro que a Cadillac lhe terá dado para equipar as limusinas, fazendo fé na intenção de Trump de comprar umas quantas.

Online, algumas referências levantam a possibilidade de Trump ter acabado por ficar mesmo com as duas limusinas, a Executive e a Golden. Mas certeza mesmo, só a de que ofereceu uma ao pai, tendo o veículo sido posteriormente adquirido, em 1991, por um coleccionador de carros britânico. E a última vez que se ouviu falar dela, ia a leilão.