A associação de escolas privadas está a concluir um Livro Branco sobre a rede do ensino artístico especializado (EAE), um “mapeamento muito detalhado” de instituições e alunos que pretende transformar em ferramenta de negociação com o Governo.
“É um projeto que temos vindo a desenvolver ao longo do último ano e meio e no qual apostamos muito. Nós desejamos ter, na próxima vez que formos negociar com o Governo a rede e o financiamento, um mapeamento muito micro, muito detalhado do que é hoje no terreno o ensino artístico especializado, as suas instituições e os seus alunos”, explicou à Lusa o diretor executivo da Associação de Estabelecimentos do Ensino Particular e Cooperativo (AEEP), Rodrigo Queiroz e Melo.
O Livro Branco do EAE, que a associação quer ter concluído antes do verão, vai ser apresentado no domingo, último dia do 1.º Congresso do EAE, promovido pela AEEP, e que decorre desde sexta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
O objetivo do projeto, referiu o responsável, é um conhecimento aprofundado da rede de EAE, que é maioritariamente privada — em 137 estabelecimentos 128 são privados, de acordo com os dados da AEEP — por forma a aumentar a rede com uma base sustentada.
“Queremos acreditar que este Governo, daqui a um ano, também estará disponível para um salto quantitativo importante para garantir que mais portugueses têm acesso a esta oferta educativa. O nosso objetivo é dizer: o que existe é isto, comparar com o número de alunos em cada nível de escolaridade em cada região do país, para podermos fazer um maior equilíbrio na distribuição da oferta e para percebermos onde há zonas de carência que precisam claramente de um investimento maior”, disse Queiroz e Melo.
Há 25 mil alunos matriculados na rede privada de EAE, 19 mil dos quais integrados no ensino articulado, uma modalidade que permite aos jovens frequentar o ensino regular, onde aprendem uma parte mais genérica do currículo, e um estabelecimento do EAE, onde aprendem o restante currículo com vertente artística, de forma gratuita, uma vez que o Estado financia a frequência devido às carências da rede pública.
As escolas privadas inserem-se nos mais variados tipos de instituições: estão integradas em fundações, associações, cooperativas, sociedades. Um leque “muito diversificado”, sublinhou Queiroz e Melo, mas que oferece sobretudo música.
Dos 25 mil alunos matriculados no EAE privados, 22.500 frequentam escolas de música, cerca de 1.800 escolas de dança, e apenas 96 outras artes.
“Há um investimento enorme na música, que é bom, mas faz sentido olharmos para outras formas de expressão artística, que precisam de um novo olhar. Nomeadamente as artes visuais, que têm uma oferta absolutamente residual e que faz sentido desenvolver, ou o teatro, existe oferta de ensino profissional de teatro, mas não existe ensino artístico especializado. As artes plásticas não têm nenhuma oferta”, disse.
O benefício seria para a própria economia portuguesa, frisou o diretor executivo da AEEP.
“As artes em Portugal podem ganhar uma nova expressão. Quanto mais alunos pudermos ter a fazer estes percursos no ensino artístico especializado, mais intérpretes teremos no futuro, mais público teremos e há até um ‘cluster’ económico das indústrias criativas em que Portugal pode e deve afirmar-se, mas precisa de pensadores nestas áreas. Haver este currículo muito forte de artes é muito importante até para o desenvolvimento económico do país”, defendeu.
Até domingo o congresso vai discutir “o ensino no ensino artístico especializado”, focando-se nos currículos e na forma de ensinar nestas escolas, deixando a “discussão política” sobre a rede de escolas fora da iniciativa.
“Pela primeira vez temos com o Estado um financiamento plurianual negociado e as escolas não estão a pensar nas questões administrativas e financeiras e podemos agora fixar-nos nas questões pedagógicas”, disse.
A ex-ministra da Educação, Isabel Alçada, integra o painel de abertura do congresso, e está agendada uma grande conferência com outra ex-governante, a antiga ministra do 1.º Governo socialista de José Sócrates, Maria de Lurdes Rodrigues.
Segundo a AEEP, o congresso conta já com mais de 400 inscritos, entre docentes, investigadores e outros participantes.