Em 2015, 2.024 pessoas iniciaram tratamentos em ambulatório por problemas relacionados com o consumo de droga e 3.704 procuraram ajuda por causa do álcool. Foram mais de 5.700 novos utentes a iniciarem tratamentos na rede pública, o valor mais alto registado desde 2010. Isto apesar de o consumo de álcool e drogas ter vindo a diminuir, de acordo com os vários inquéritos (nacionais e internacionais) feitos à população. Estes são alguns dos dados presentes nos dois relatórios que estão a ser apresentados pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), esta quarta-feira de manhã, na Assembleia da República.
Ao todo, em 2015, frequentavam unidades de tratamento públicas 39.491 pessoas: 12.498 com problemas de álcool e 26.993 por causa do consumo de drogas. Se, por um lado, estes números revelam um aumento do número total de utentes em tratamento nas unidades de alcoologia naquele ano — contando com os que iniciaram tratamentos no passado, novos utentes e reincidentes –, por outro, evidenciam um reforço da tendência de queda desde 2009, no que respeita a utentes em tratamento por causa das drogas, lê-se nos relatórios. Isto apesar do aumento de overdoses pelo segundo ano consecutivo. Em ambos os casos o número de readmitidos no ano de 2015 baixou face ao ano anterior.
Quanto aos utentes em tratamento por causa do consumo de drogas em 2015, lê-se no relatório anual que “a maior heterogeneidade das idades dos utentes que iniciaram tratamento no ambulatório”, com o grupo dos novos utentes mais jovem e readmitidos cada vez mais envelhecidos, torna “essencial reforçar a diversificação de respostas e confirmar a aposta nas intervenções preventivas de comportamento de consumos de risco”.
A estes doentes somavam-se ainda, em 2015, 2.793 pessoas internadas por causa dos problemas associados ao álcool e 2.928 internados por conta do consumo de drogas.
Quebra no consumo e Portugal com níveis abaixo da média europeia
O Relatório Anual sobre a Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependência e o Relatório Anual sobre a Situação do País em Matéria de Álcool, referentes ao ano de 2015, acolhem e compilam a informação de várias entidades, que foi sendo publicada ao longo dos últimos anos. E além destes números relativos aos tratamentos, permite traçar o panorama do consumo destas substâncias no país.
A principal conclusão que se pode retirar dos vários inquéritos mencionados é que tanto o consumo de álcool como o consumo de drogas revelava, em 2015, uma quebra.
“Estudos nacionais em ambiente escolar em 2014 e 2015 evidenciam uma descida da prevalência de consumo recente de bebidas, assim como de padrões de consumo de risco acrescido e embriaguez”. Esta é apenas uma das passagens que fala desse decréscimo. É, de resto, também citado o European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs, de 2015, que mostra “pelo segundo quadriénio uma tendência de diminuição dos consumos recentes e atuais” no caso do álcool e também uma “descida da prevalência de consumo da generalidade das drogas” entre 2011 e 2015.
O mesmo conclui um outro estudo que se debruça sobre populações escolares (ECATD-CAD): as populações escolares estão a consumir menos drogas entre 2014 e 2015.
E tanto no caso do álcool como das drogas, os vários estudos internacionais têm revelado que Portugal regista prevalências de consumo inferiores às médias europeias, tanto no que toca ao álcool como às drogas.
Cada inquérito, uma percentagem diferente
Mas olhando para os números, o que nos mostra o Inquérito Nacional de Saúde, de 2014, é que 70% da população com 15 ou mais anos tinha consumido bebidas alcoólicas no último ano, sobretudo com regularidade diária ou semanal e um terço da população já tinham tomado, alguma vez ao longo da vida, seis ou mais bebidas numa mesma ocasião (binge) e 10% tinham chegado ao estado de embriaguez.
Já o inquérito feito no Dia da Defesa Nacional, aos jovens com 18 ou mais anos, mostrou que 88% já tinha bebido álcool, 83% dos quais no último ano e 65% no último mês. Dos inquiridos, 9% assumiu ter um consumo diário ou quase diário e quase um terço (30%) admitiu ter chegado ao estado de embriaguez severa.
Um outro estudo feito a populações escolares (ECTAD-CAD), em 2015, concluiu que 31% dos miúdos com 13 anos já tinham bebido álcool, alguma vez na vida, uma percentagem que ascendeu aos 91% nos jovens de 18 anos.
Já de acordo com o Standardised European Alcohol Survey, de 2015, 3% da população portuguesa apresentava um consumo de álcool considerado de risco elevado e 0,3% revelava mesmo dependência, sendo que tinham aumentado as percentagens de desistentes ou abstinentes, face a 2007.
Cannabis é a droga preferida
No que toca às drogas, também cada inquérito, sua conclusão. O inquérito sobre comportamentos aditivos levado a cabo no Dia da Defesa Nacional, em 2015, concluiu que 31% dos jovens já tinha experimentado droga ao longo da vida e 11% admitiram já ter consumido, na mesma ocasião, mais do que uma substância ilícita.
Já o European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs, de 2015, apontou para prevalências de consumo de qualquer droga na ordem dos 16%.
Em dois pontos todos os inquéritos sobre a droga combinam: a prevalência do consumo baixou, em 2015, e a cannabis é a droga preferida.