Os U2 celebram na quinta-feira os 30 anos de “The Joshua Tree”, o álbum que os empurrou para a fama e que vão recuperar numa digressão mundial que começa em maio. Esta quinta-feira, para assinalar a data, os músicos Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. vão estar ‘online’, na página oficial dos U2 no Facebook, para responder a perguntas dos fãs, a propósito do álbum.
“The Joshua Tree” é o quinto disco de carreira e reúne três dos maiores sucessos do grupo: “Where the streets have no name”, “I still haven’t found what I’m looking for”, de inspiração gospel, e “With or without you”. No ‘site’ oficial estão reunidas as estatísticas de sucesso do disco: Vendeu mais de 20 milhões de cópias, valeu-lhes os prémios Grammy de álbum do ano e melhor atuação rock e colocou-os no topo das tabelas de vendas e na capa da revista Time, onde tinham estado antes os Beatles, The Band e The Who.
“A reação dos fãs deu um salto enorme e a atenção da comunicação social rebentou a escala. (…) Andávamos entusiasmadíssimos, mas espantados com o que nos estava a acontecer. Comecei a aperceber-me de que já não éramos meros músicos”, recordou o baterista Larry Mullen Jr., no livro biográfico “U2 by U2”, editado em 2006.
Produzido por Daniel Lanois e Brian Eno, e gravado em Dublin, o disco espelhava a interpretação que Bono fazia então do mundo e a vontade do grupo em olhar para os Estados Unidos. “The Joshua Tree” começou por ter o título de trabalho “The Two Americas”. “Apaixonei-me pela literatura americana ao mesmo tempo que tomava consciência do perigo que a política estrangeira norte-americana podia ter nos países à sua volta, com a aniquilação brutal dos sandinistas. Comecei a ver duas Américas, a América mística e a verdadeira América”, diz Bono naquele mesmo livro.
Em “U2 by U2”, no qual os quatro músicos falam detalhadamente sobre a carreira, o guitarrista The Edge recorda que a ideia era fazer um “‘disco cinematográfico’, onde cada música projetasse um local e um momento (…). A paisagem do sudoeste americano e do deserto tornou-se um tema lírico recorrente”. E o baixista Adam Clayton acrescenta: “Dar ao álbum o nome ‘The Joshua Tree’ foi, de certa forma, um reconhecimento da influência que a cultura americana teve nos U2. A América estava ter um impacto sobre nós maior do que aquele que alguma vez poderíamos ter sobre ela. Vindos da Irlanda, o único espetáculo na cidade era aquele que acontecia na América”.
Para interligar a música e a letra com a paisagem que o grupo estava a tentar evocar, decidiu-se que a capa do disco teria de mostrar um deserto. Rumaram aos Estados Unidos, com o fotógrafo e realizador Anton Corbijn, e fizeram uma sessão em Death Valley, no deserto de Mojave, na Califórnia. “Lembro-me de todo esse período como sendo um momento de consciência, no sentido de que encarámos a fama de forma séria, fingindo que não a queríamos, que era uma intrusão e que não nos iria mudar. É tudo mentira. Nós quisemos a fama”, admitiu Bono naquela autobiografia.
Trinta anos depois, os U2 preparam-se para tocar, pela primeira vez na íntegra, as 11 canções de “The Joshua Tree”, numa digressão que começa a 12 de maio em Vancouver (Canadá), seguindo-se datas nos Estados Unidos e na Europa. Portugal continua de fora desta digressão. Nesta ‘tour’, o grupo fará um concerto a 22 de julho em Croke Park, em Dublin, cidade onde o grupo se formou em 1976 e onde nasceu “The Joshua Tree”.
Em janeiro, o grupo anunciou que se dedicaria a celebrar “The Joshua Tree” e que adiaria, possivelmente para o final do ano, a edição de um novo álbum, “Songs of Experience”. Em entrevista à Rolling Stone, The Edge afirmou que a decisão foi tomada depois de o grupo perceber que “o mundo é um lugar diferente”, numa alusão à eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Quanto aos concertos da digressão de “The Joshua Tree”, Bono diz o que espera: “Que seja uma noite transcendente de rock n’roll” e que seja uma oportunidade para espetadores e músicos se questionarem “o que é ser, nos dias de hoje, americano ou europeu”.