Em 1992, os U2 fizeram-se à estrada e levaram os fãs para “dentro” do seu novo álbum, Achtung Baby. Entre os ecrãs a fazerem zapping de canais, as transmissões em direto e as partidas por telefone, a digressão Zoo TV proporcionou grandes espetáculos multimédia e sensoriais à plateia, que conseguiu assim perceber a crítica à saturação dos meios de comunicação social da época, que o disco retratava. Mais de 30 anos depois, nada mudou. Mas, desta vez, a banda britânica tinha um palco bem maior para fazer a sátira.

Essa, no entanto, não foi a premissa do primeiro concerto da banda em quatro anos. Em vez disso, os U2 levaram o público para a sua definição de Las Vegas dos anos 50, também chamada Atomic City, o título do seu novo tema, lançado na passada sexta-feira. Com estrelas a cair, borboletas a pairar e uma viagem aos desertos de Nevada — que marcou a canção Where the Streets Have No Name —, os U2 inauguraram a Sphere, uma das maiores e mais inovadoras salas de espetáculo do mundo.

Além de já ser considerado o maior edifício em forma esférica, com 112 metros de altura e 157 de largura, os 58 mil metros quadrados revestidos e por painéis LED e as 170 mil colunas de som fazem-no também o mais futurista de sempre.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A Sphere começou a nascer na paisagem de Las Vegas em 2018, tendo sido mandada construir pela empresa Madison Square Garden Entertainment e o CEO James Dolan, que pretende “reinventar o entretenimento ao vivo”, como confessou à Variety. E, tendo em conta os rostos incrédulos e vibrantes que saíram da arena após o concerto “U2: UV Acthung Baby Live at Sphere”, os 2,3 mil milhões de euros parecem ter cumprido o propósito.

O espetáculo imersivo que se viveu dentro e fora da sala — porque o exterior também é revestido por painéis LED — deixou os mais de 18 mil fãs de U2 “boquiabertos”. E nem mesmo Bono, vocalista dos U2, resistiu a comentar a ilusão de ótica que, durante a canção Even Better Than The Real Thing, deu a impressão de que o palco e as pessoas que o rodeavam se aproximavam do teto.

“Que espaço tão chique. Olhem para todas estas… coisas”, apontou Alexis Petridis, crítico do jornal The Guadian.

O mesmo repórter considera que “efeitos visuais” podiam “ofuscar a banda”, “tornando a sua música num mero acompanhamento de um espetáculo de luzes dispendioso e impressionante”. No entanto, rapidamente cai em si e percebe que é dos U2 de que está a falar e que a sua “inteligente seleção de canções”, com temas do álbum Achtung Baby e outros êxitos, como All I Want is You e Desire, tornou impossível que tal acontecesse.

O concerto da banda britânica foi o primeiro em 45 anos em que a bateria não contou com o músico Larry Mullen, que está a recuperar de uma cirurgia, apesar de ter “desobedecido às ordens do médico”, como referiu Bono, e de ter assistido ao espetáculo na plateia. Além deste, os U2 terão mais 24 atuações até 16 de dezembro, estando já todas esgotadas.

Antes do espetáculo, estendeu-se uma passadeira vermelha no exterior do edifício, que estará ligado em breve ao Venetian Resort, que contou com a presença de Paul McCartney, Oprah, Snoop Dog, Jeff Bezos, entre outras celebridades.

Já esta semana, a Sphere exibirá o filme Postcard From Earth, de Darren Aronofsky, que promete levar a plateia para uma viagem imersiva pelo planeta Terra.