Manuel Abrantes, o antigo provedor-adjunto da Casa Pia, saiu esta sexta-feira em liberdade condicional da prisão da Carregueira, onde estava preso há quatro anos. Numa entrevista à RTP, Abrantes diz que vai “continuar a reclamar a inocência” e queixa-se de ter sido “discriminado“, em relação aos outros condenados no mesmo caso, quanto aos pedidos de liberdade condicional que foi fazendo e que foram sempre negados.

A informação sobre a liberdade condicional foi avançada pela RTP e o Correio da Manhã e chega quando Manuel Abrantes já cumpriu mais de dois terços da pena. O antigo provedor da Casa Pia foi condenado a cinco anos e nove meses de prisão, em setembro de 2010, por crimes de abuso sexual de menores.

Nas declarações à RTP, Abrantes explica que já tinha tentado liberdade condicional, com pulseira eletrónica, em dezembro de 2013, mas que lhe foi recusada. Disse ter ficado “em choque” quando, no mês seguinte, viu Ferreira Diniz, outro dos condenados no mesmo caso, a sair da Carregueira em liberdade condicional: “Fiquei arrumado a um canto, é algo que dói muito”. O antigo provedor-adjunto interroga-se ainda: “Fui acusado por dois crimes de abuso sobre dois alunos da Casa Pia — alunos maiores, com 16 e 17 anos — e fizeram-me um desconto rídiculo de 23%” da pena inicial”. Já Ferreira Diniz, volta a comparar, “teve um desconto de 8 anos”.

O antigo provedor-adjunto da instituição de ensino diz ainda ter “esperança” que o Tribunal Europeu de Justiça se pronuncie a favor dos condenados no caso, recuperando algumas das críticas que sempre fez ao julgamento, dizendo que foram acusados por alunos tratados “como se fossem crianças de 10 ou 11 anos quando o mais novo tinha 18 anos. Pode ser que o Tribunal nos venha a dar razão, porque tudo isto foi um erro, para não dizer uma fraude, em alguns casos“.

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O caso Casa Pia surgiu em 2002, envolvendo nomes de políticos e de outras figuras mediáticas num escândalo de pedofilia naquela instituição e que abalou o mundo judicial. A investigação iniciou-se e, no ano seguinte, foram feitos vários presos preventivos, entre os quais o ex-ministro do Trabalho do Governo de António Guterres, Paulo Pedroso (o seu caso acabou por ser arquivado e o Estado condenado a pagar uma indemnizção), o apresentador de televisão Carlos Cruz ou o embaixador Jorge Ritto.

O julgamento decorreu com sete arguidos constituídos: Carlos Cruz, Carlos Silvino (funcionário da Casa Pia), Jorge Ritto, Manuel Abrantes (ex-provedor da instituição), Hugo Marçal (advogado), Ferreira Diniz (médico da Casa Pia) , Gertrudes Nunes (dona da casa de Elvas, onde foram cometidos alguns dos crimes) — foi a única que não foi condenada. A leitura da sentença só aconteceu em setembro de 2010, com Silvino a ser condenado a 18 anos de prisão, Carlos Cruz e Ferreira Diniz a sete anos cada um, Jorge Ritto a 6 anos e oito meses, Hugo Marçal a 6 anos e dois meses (entretanto absolvido) e Manuel Abrantes teve a pena mais baixa, de 5 anos e 9 meses. Dos seis condenados em 2010, apenas Carlos Silvino, o antigo motorista da instituição, continua em prisão efetiva.

Texto atualizado as 16h40, com declarações de Manuel Abrantes à saída da Carregueira