O presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, António Saraiva, classificou esta quarta-feira de “ofensivas” as declarações do ministro das Finanças holandês, Jeroen Dijsselbloem, e pede o seu afastamento da presidência do Eurogrupo.
“As declarações do presidente do Eurogrupo […] demonstram a total falta de sensibilidade e a ausência de preparação de alguns dirigentes que ocupam cargos na tecnocracia europeia”, refere o líder do patronato português em comunicado enviado à Lusa que pede o afastamento de Jeroen Dijsselbloem do cargo.
O presidente da CIP refere ainda a “falta de sensibilidade” e a “ausência de preparação” de certos dirigentes que “tanto têm prejudicado a economia e o esforço dos empresários dos países do sul da Europa, em particular os portugueses”. Para a associação empresarial, este episódio “evidencia a urgência da mudança de atitude dos dirigentes europeus e das políticas financeiras e económicas da União Europeia”.
E prossegue: “Desta forma poderemos reforçar e renovar o empenho de todos os países em prol do projeto europeu, contrariando o desencanto e afastamento dos povos em relação ao Governo da Europa”. A CIP, ao falar “em nome das empresas, dos empreendedores e de todos os portugueses”, pede que as políticas europeias “caminhem no sentido de consolidar um espaço político e económico de crescimento e de coesão”.
E isso, exige, em seu entender, “a escolha de políticos equilibrados, com uma visão de mundo e atual, fora dos preconceitos e discriminação, pensamento contrário aos princípios fundamentais do projeto europeu e que tanto prejudicam a União”.
O presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, rejeitou na terça-feira, pedir desculpa por ter acusado os países do sul de gastarem o dinheiro “em copos e mulheres”, depois de pedidos de eurodeputados para se retratar.
“Não, não, eu sei o que disse porque saiu da minha própria boca”, disse o político holandês, em resposta a um pedido do eurodeputado espanhol dos Verdes, Ernest Urtasun, para que se desculpasse pelo comentário durante uma audição de uma comissão parlamentar. Dijsselbloem manifestou-se surpreendido por as suas palavras — proferidas numa entrevista concedida ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung publicada na segunda-feira — terem tido tanta repercussão nos meios de comunicação social.
“Deixei muito claro que a solidariedade caminha de mãos dadas com a responsabilidade e os compromissos”, afirmou. O também ministro das Finanças da Holanda insistiu que os Estados-membros devem assumir o quadro fiscal que acordaram e realizar reformas e ajustes de forma a garantir uma “posição sólida”.
“Durante a crise do euro, os países do norte mostraram solidariedade com os países afetados pela crise. Como social-democrata, atribuo uma importância extraordinária à solidariedade. Mas também deve haver obrigações: não se pode gastar todo o dinheiro em copos e mulheres e depois pedir ajuda”, afirmou na entrevista Jeroen Dijsselbloem, que tem sido alvo de críticas em diferentes frentes.
As declarações foram consideradas “vergonhosas” e “chocantes” pelo grupo dos Socialistas Europeus — ao qual Dijsselbloem pertence — que entende que o presidente do Eurogrupo “foi longe demais, ao utilizar argumentos discriminatórios contra os países do sul da Europa”.
“Não há desculpa ou razão para recorrer a tal linguagem, especialmente de alguém que é suposto ser um progressista”, comentou o líder da bancada dos Socialistas Europeus no Parlamento Europeu, Gianni Pittella.
Em Portugal também houve reações, com o PS a pedir ao Partido Socialista Europeu (PSE) a condenação “imediata” das declarações “ultrajantes” proferidas por Jeroen Dijsselbloem e a retirada de apoio político a uma sua recandidatura ao cargo de presidente do Eurogrupo. Também o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, pediu em Washington o afastamento do presidente do Eurogrupo.
Esta nova polémica a envolver Dijsselbloem ocorre numa altura em que a sua posição como presidente do Eurogrupo está particularmente fragilizada, na sequência dos resultados eleitorais da passada semana na Holanda, que ditaram uma derrota histórica do seu partido, o PvdA, que era parceiro de coligação do VVD (centro-direita) do primeiro-ministro Mark Rutte, mas que agora passou de 38 para nove deputados.