Novos estudos laboratoriais feitos ao quadro O Chafariz d’El-Rey, uma das peças centrais da polémica exposição A Cidade Global — Lisboa no Renascimento, do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), revelaram que é verdadeiro, confirmou ao Observador Joe Berardo, a quem pertence a pintura.
Berardo frisou que nunca teve dúvidas relativamente à autenticidade da pintura, que adquiriu há já vários anos. Datado de finais do século XVI e atribuído a um pintor holandês desconhecido, o quadro foi posto em causa por Diogo Ramada Curto, num artigo publicado no Expresso antes da abertura da exposição a 23 de fevereiro, e em duas peças jornalísticas assinadas por jornalistas do semanário. Apesar de o MNAA ter defendido que o O Chafariz d’El-Rey era verdadeiro, acabou por pedir a Joe Berardo autorização para a realização de novas exames técnicos e materiais.
De acordo com o relatório elaborado pelos laboratórios Hércules e José Figueiredo (primeiramente divulgado pelo Expresso na quinta-feira), tudo indica que o quadro tenha sido pintado antes do século XVIII, dada a ausência de materiais utilizados a partir desse período. Esta conclusão coincide com a de um estudo prévio, feito em 2011 por um laboratório espanhol.
“No que diz respeito à análise dos materiais constituintes e da forma como estes são aplicados esta obra terá sido executada muito provavelmente por um pintor de influência ou naturalidade do norte da Europa a partir da segunda metade do século XVI”, refere o Relatório Sumário de estudo técnico e material da pintura sobre madeira — Chafariz D’El Rei.
Sociedade de Antiquários de Londres não permite nova análise
No mesmo artigo, o historiador Diogo Ramada Curto questionou também a autenticidade de uma outro quadro, Vista da Rua Nova dos Mercadores, que pertence Sociedade de Antiquários de Londres. Esta, porém, não permitiu a realização de novas análises em Portugal com base em “especulações jornalísticas”. Estas teriam de ser feitas no Reino Unido por uma instituição de conservação certificada, supervisionadas por um representante qualificado da sociedade e financiadas pelo museu português.
Num comunicado divulgado na noite de quinta-feira, o MNAA partilhou a resposta que recebeu por parte da Sociedade de Antiquários:
“Existem provas documentais claras de que as pinturas se encontram em Kelmscott Manor desde meados da década de 1870, quando Dante Gabriel Rossetti as trouxe para aqui. (…) Desde meados de 1870, os quadros só saíram de Kelmscott Manor em 2010, para serem restaurados e expostos no Rietberg Museum, em Zurique. Assim sendo, é impossível que as pinturas sejam falsificações do século XX, como foi especulado. Como instituição responsável, não podemos aceitar um pedido de análises científicas em resposta a especulações jornalísticas.”
Apesar de a Sociedade de Antiquários de Londres não pôr completamente de parte a realização de novos testes — desde que estes sejam feitos no Reino Unido –, o MNAA “não perspetiva a realização de mais análises”. “Sendo, pois, inquestionável o valor histórico e documental de ambas as pinturas como testemunhos contemporâneos da realidade urbana que a evolução da cidade de Lisboa e o Terramoto de 1755 definitivamente ocultaram, confirma-se a justeza da sua integração na exposição A Cidade Global — Lisboa no Renascimento“, afirmou o museu no comunicado.
Artigo atualizado a 7/4, às 13h27, com a informação divulgada pelo Museu Nacional de Arte Antiga.