A Sociedade de Antiquários de Londres, proprietária do quadro Vista da Rua Nova dos Mercadores, ainda não tomou uma decisão relativamente à realização de novos estudos laboratoriais. Contactado pelo Observador, o organismo inglês explicou que o pedido, avançado pelo Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) depois da polémica envolvendo a pintura, exposta em Lisboa no âmbito da exposição A Cidade Global, chegou por email durante a tarde desta quinta-feira.

Este terá agora de ser analisado pelo responsável da biblioteca e coleções, juntamente com o Conselho de Administradores. “A permissão depende da análise, pesquisa e métodos propostos e do impacto na segurança dos objetos, assim como de outros detalhes e fatores logísticos. Todas as propostas são analisadas pela nossa equipa e administradores individualmente, mas o que é mais importante é ter em conta o impacto físico que qualquer análise interventiva poderá ter no objeto”, esclareceu a Sociedade de Antiquários, garantindo que dará uma resposta ao MNAA muito em breve.

Questionada sobre a polémica que se instalou depois da publicação de um artigo assinado pelo historiador Diogo Ramada Curto no Expresso, que colocou em causa a autenticidade da Vista da Rua Nova dos Mercadores, peça central da exposição do MNAA, e de outro quadro pertencente à Coleção Berardo, o organismo inglês disse estar muito contente por saber que se existe tanto interesse em torno da pintura em Portugal.

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“Esperamos que encoraje os visitantes do Reino Unido a incluir Kelmscott Manor nos seus itinerários de viagem e a verem as pinturas quando regressarem para aqui e voltarem a ser expostas depois da exposição de Lisboa”, afirmou, frisando também o debate académico que o quadro, composto por duas partes, tem suscitado.

A Vista da Rua Nova dos Mercadores foi adquirida no século XIX pelo pintor e poeta inglês Dante Gabriel Rossetti. Esta foi depois levada para Kelmscott Manor, uma casa de campo em Oxfordshire, algures entre 1871 e 1874. A casa, alugada durante esse período por Rossetti e por William Morris, acabou por ser depois comprada pela mulher deste último, Jane, e pela sua filha, May. O quadro, que nunca mais saiu de Kelmscott e que, de acordo com a Sociedade de Antiquários de Londres, nunca esteve à venda, foi referido por May numa lista datada de 17 de junho de 1926, onde fez um apanhado de todos os objetos da mansão.

May viveu em Kelmscott até à data da sua morte, em outubro de 1938, e foi só anos mais tarde que este foi identificado como sendo uma vista da Rua Nova dos Mercadores, uma antiga rua lisboeta que desapareceu depois do Terramoto de 1755, pelas historiadoras Annemarie Jordan Gschwend e Kate Lowe, esta última membro da Sociedade de Antiquários de Londres.

Depois da descoberta, em 2009, foi publicado um livro onde se reconstrói a viagem do quadro de Rossetti (datado de finais do século XVI, inícios do século XVII, e atribuído a um pintor flamengo desconhecido) e a Lisboa nele retratada. É este livro que serve de ponto de partida à exposição do MNAA, que tem Annemarie Jordan Gschwend e Kate Lowe como curadoras.

Além de Vista da Rua Nova dos Mercadores, A Cidade Global inclui ainda uma outra pintura da Rua Nova dos Mercadores, que tem também sido posta em causa por alguns historiadores, incluindo Diogo Ramada Curto. Ao Observador, Gschwend, chegou mesmo a questionar a autenticidade do quadro, admitindo que existem “dúvidas”. A polémica levou o museu a pedir aos proprietários que autorizassem uma nova peritagem. Segundo o Público, Joe Berardo, a quem pertence o quadro O Chafariz d’El-Rey, já autorizou a realização de novos testes.