O Presidente da República vai condecorar hoje o arquiteto Álvaro Siza Vieira, com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, “uma das poucas condecorações que não recebeu” e que assinala a vertente de pedagogo.
O anúncio da distinção foi feito no início do mês pelo próprio Presidente, no lançamento do livro “Guia de Arquitetura Álvaro Siza – Projetos Construídos Portugal”, na Galeria Millennium, em Lisboa.
“Sendo uma das poucas condecorações que não recebeu será galardoado com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública e será no dia 25 de Abril, porque a democracia merece-o, Álvaro Siza merece-o e Portugal também”, disse então Marcelo Rebelo de Sousa.
De acordo com o chefe de Estado, “Álvaro Siza tem sido celebrado e objeto da gratidão e reconhecimento nacional em vários momentos por diversos Presidentes da República” e “é pois difícil encontrar galardão adicional a juntar aqueles que recebeu”.
“Mas há uma vertente fundamental da sua personalidade que ainda não foi devidamente assinalada e sobretudo galardoada, que é a do pedagogo. É um pedagogo. Ajudou a criar uma escola, criou discípulos, mas criou uma nova mentalidade no país, abriu caminhos através da sua formação”, justificou.
Marcelo Rebelo de Sousa considerou que o arquiteto “é um professor e é um mestre, além de ser um genial criador do domínio da cultura”.
“E essa dimensão não foi galardoada, e o Presidente da República decidiu galardoá-la. Tinha apenas uma dúvida existencial: se deveria entregar as insígnias hoje – o que seria mais heterodoxo – ou se deveria guardar para uma ocasião mais icónica”, confidenciou.
Nascido em Matosinhos, em junho de 1933, Álvaro Siza Vieira estudou na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, onde foi professor, e criou em Portugal obras emblemáticas como, entre outras, o Pavilhão de Portugal e a reconstrução da zona do Chiado, em Lisboa, destruída por um incêndio, em 1988, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, a piscina das Marés, em Leça da Palmeira, ou a igreja de Marco de Canaveses.
O arquiteto tem obras da América à Ásia, passando por países como Espanha, Holanda, Bélgica, Brasil, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, muitas delas, premiadas.
O projeto habitacional que concebeu para Veneza, na década de 1980, esteve na base da representação oficial portuguesa na Bienal de Arquitetura, no ano passado.
Siza Vieira é o mais premiado arquiteto português, tendo sido distinguido com o Prémio Pritzker, em 1992, a Medalha Alvar Aalto e o Prémio de Arquitetura Contemporânea Mies van der Rohe, em 1988, o Prémio AICA/SEC, da Associação Internacional dos Críticos de Arte, assim como o Leão de Ouro da Bienal de Veneza, em 2002, e o Leão de Ouro de Carreira, entregue dez anos mais tarde.
Foi igualmente distinguido pelo Colégio de Arquitetos de Madrid e pelo Royal Institute of British Architects, recebeu o Prémio Nacional de Arquitetura, o Grande Prémio de Urbanismo de França, o Prémio Luso-Espanhol de Arte e Cultura e o Prémio Vida e Obra da Sociedade Portuguesa de Autores, entre outros.
É Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, desde 1992, e detentor da Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, em desde 1999.
No verão do ano passado, o arquivo do arquiteto permitiu uma visão sobre a sua obra, no Museu de Serralves, na exposição “Matéria-prima: Um olhar sobre o arquivo de Álvaro Siza”.
Na altura, disse que a sua única má memória reside na “não realização” de projetos.
“Há projetos que não se realizam. A maioria do que está nos arquivos, talvez 70 a 80%, não são realizados por razões diferentes. Poucas vezes tem a ver com desinteligências entre o dono da obra e projetistas. Aliás, sem isso, o trabalho é pobre. (…) Outras vezes é por falta de dinheiro, mudanças políticas, tantas vezes”, lamentou.