Pondera ter dois escritórios em Lisboa, mas nenhum será a sede da Web Summit. Essa fica na Irlanda, “onde a empresa começou”, explicou Paddy Cosgrave ao Observador. Mesas e cadeiras à parte, é a partir de Lisboa que o líder da maior conferência europeia de empreendedorismo e tecnologia quer mudar o mundo. Ou, pelo menos, a Europa. É por isso que, em 2017, quer trazer os nomes mais sonantes das várias organizações políticas e sociais ao pavilhão da FIL e ao MEO Arena. Para “tomarem as decisões que vão mudar para sempre a forma como as empresas tecnológicas operam na Europa”.
“Temos a responsabilidade de trazer diferentes vozes para esta mesa. Não podem ser sempre as mesmas. É importante que não sejam apenas as dos políticos e legisladores, mas também as dos cientistas, académicos e filósofos, que pensam e estudam o mundo. Que não estão apenas a tentar ganhar eleições”, explica ao Observador no final da inauguração do primeiro escritório lisboeta da Web Summit, no Edifício Enter, da Portugal Telecom, no Cais do Sodré.
Web Summit abre primeiro escritório em Lisboa e vai recrutar 20 pessoas
Na edição de 2016 da Web Summit — a primeira que ocorreu em Lisboa — Paddy Cosgrave já tinha trazido alguns nomes da política europeia e mundial — vindos de instituições como o World Trade Organization ou o Banco Mundial –, ao palco do evento tecnológico que recebeu mais de 50 mil pessoas, mas para a edição de 2017 quer trazer mais.
“Foi a primeira vez que juntámos estas pessoas todas. A tecnologia está a ter um impacto no mundo todo e a política, a legislação tem de acompanhá-la. Foi um pequeno começo, muito modesto, mas o nosso apetite é enorme. Este ano, vai tornar-se um elemento ainda maior. Alguns dos legisladores mais importantes da Europa vão estar na Web Summit. E vão tomar decisões que vão mudar para sempre a forma como as empresas tecnológicas operam na Europa”, afirmou.
Sobre outras mudanças que podem estar a caminho, Paddy Cosgrave optou pela discrição e prometeu novidades para os últimos meses. Com uma estimativa que passa por receber 60 mil pessoas em Lisboa, entre 6 e 9 de novembro, o fundador da Web Summit explicou que optou por aumentar os preços dos bilhetes em 30% (custam atualmente 850 euros) para não correr o risco de ter demasiadas pessoas na conferência.
“Foi o maior aumento da nossa história. Podíamos ter mantido os preços mais ou menos na mesma, com um pequeno aumento, mas depois venderíamos demasiado bilhetes. E nós não precisamos de vender mais bilhetes, mas acho que devíamos fazer mais pelas pessoas que vão ao evento”, afirmou, explicando que este ano, ao contrário do ano passado, vão utilizar todo o espaço que lhes é permitido no Parque das Nações, ou seja, ocupando também o Pavilhão de Portugal.
“No ano passado, estava tudo muito ocupado. A pergunta que fiz foi: quero ter mais pessoas no evento ou quero adicionar algo mais? É uma coisa ou outra. E eu quero acrescentar algo mais ao evento. A experiência só vai melhorar, a qualidade vai melhorar. Todos os anos, as coisas melhoram. E quando o evento fica maior, percebes que podes fazer melhor”, afirmou.
A Web Summit é “como um bom queijo ou um bom vinho”
Paddy Cosgrave quer apostar na qualidade e não é por acaso. O fundador e líder da Web Summit pega no exemplo da CES, em Las Vegas (que acontece há 51 anos), do SXSW, em Austin (que acontece há mais de 30 anos) e do Mobile World Congress, em Barcelona (que acontece há 31 anos) para dizer que são “estas as grandes conferências do mundo” e que são “como um bom queijo ou um bom vinho”. Levam algum tempo para chegar ao nível a que estão atualmente.
“Toda a gente hoje pensa nesta lógica das apps. Bastaram três anos ao Instagram para ser enorme. Mas as outras coisas, como um bom queijo ou um bom vinho, é preciso mais tempo para se chegar a esse nível. E a Web Summit já cresceu tão depressa. Acho que temos uma grande responsabilidade. No ano passado, quisemos aumentar a participação feminina, por exemplo. E vamos continuar, mas a pergunta agora é ‘ok, já fizemos isto, por isso, o que é que se segue?”, explicou Paddy.
Para a edição de 2017, Paddy Cosgrave quer trazer mais jovens ao evento e talvez replicar o modelo que testou, no ano passado, com os estudantes portugueses. O Governo e a Web Summit lançaram uma iniciativa para que cerca de 6 mil bilhetes diários fossem vendidos a 9 euros a jovens entre os 16 e os 23 anos.
Governo e Web Summit lançam campanha para vender mais de 6 mil bilhetes a 9 euros
“No ano passado, recebi uma série de emails, talvez 20 ou 30, de estudantes entre os 19 e os 21 anos, que me disseram que a experiência na Web Summit lhes tinha mudado a vida. Viram coisas, ficaram expostos a ideias às quais nunca teriam a oportunidade de estar, com aquela idade, e pagando 800 euros para ir. Por isso, o que fizemos para milhares de estudantes portugueses também podemos fazer para outros estudantes no mundo? E, com isto, trazer uma geração ainda mais jovem à Web Summit”, referiu Paddy Cosgrave.
Consciente de que a conferência nunca será perfeita, confessa que cada edição é uma oportunidade para pensar no que é que pode ser feito. E que quer que, em Lisboa, seja possível andar pelas ruas e encontrar um ator de Hollywood ou um grande jogador de futebol, sem dificuldade.
“Lembro-me que há três ou quatro anos, Elon Musk e Bono foram a um dos pub crawl com pessoas que não eram famosas, mas empreendedores e outras pessoas que trabalhavam em empresas. E isso foi uma oportunidade de nivelar as coisas, não havia uma área VIP e outra onde estava toda a gente”, contou.
Para Paddy Cosgrave, a “Web Summit mais perfeita é aquela onde as oportunidades de conhecer pessoas aumentam ainda mais do que aquelas que já existem. Devias ser capaz de entrar nas ruas de Lisboa, sem saber quem poderás encontrar. Podes cruzar-te com um dos jogadores de futebol mais conhecidos no mundo, com um ator de Hollywood, com o líder de uma empresa muito velha ou outro de uma empresa muito nova. Vou passar muito tempo a tentar que isso seja cada vez mais uma realidade”.
Confirmando o que já tinha dito na conferência de imprensa, o líder da Web Summit sublinhou que anda à procura de outras localizações em Portugal para fazer mais eventos, em 2018. “Há mais em Portugal do que apenas Lisboa. E, por isso, talvez decidamos dar mais oportunidades [às pessoas que vêm para a Web Summit] de conhecerem algumas cidades maravilhosas. Mas isto é um processo longo e até podemos decidir que queremos manter tudo à volta de Lisboa”, concluiu.