Se durante a semana o despertador é o nosso pior inimigo quando começa a dar por si às 7h ou às 8h, quando impõe a sua ditadura do barulho às 5h45 de um domingo dá mesmo vontade de transformá-lo em 1.001 bocadinhos. Mas as grandes provas que se realizam na Ásia a isso obrigam: têm um horário simpático para uns e quase criminoso para outros. Vamos à janela, ouvem-se uns passaritos e pouco mais. Sentamo-nos no sofá e está tudo a postos. Portugal prepara-se para dar o pontapé de saída na sua participação no Mundial Sub-20. E como desde que ganhámos o Europeu de seniores em França que parece que tudo corre bem, recordamos a frase recente de Marcelo Rebelo de Sousa e também nós acreditamos que podemos mesmo ganhar tudo. Portugal anda em altas, seja com a bolas nos pés ou com o poder da voz. Sonhamos, sonhamos mas pouco depois das 8h da manhã já estávamos prontos para ir outra vez para a cama: a Seleção Nacional perdeu o primeiro jogo na prova frente à Zâmbia por 2-1.

O primeiro tempo foi, numa palavra, incaracterístico. O que é a mais recorrente característica neste tipo de grandes competições, seja pela ansiedade ou pela simples necessidade de adaptação. Mais do que marcar, interessava era não sofrer. E os 45 minutos iniciais tiveram sobretudo muitos passes falhados, poucas oportunidades e um quase total encaixe dos dois conjuntos. Ainda assim, foi a equipa de Emílio Peixe, melhor jogador do Mundial Sub-20 de 1991, que terminou com o triunfo de Portugal na Luz frente ao Brasil, a beneficiar das melhores chances de golo, como a que o guarda-redes Mangani Banda evitou quase no intervalo num remate de Diogo Gonçalves, já depois de ter começado a partida com uma intervenção apertada a um disparo perigoso de Xadas.

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Ficha de jogo

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Zâmbia-Portugal, 2-1

1.ª jornada do grupo C do Mundial Sub-20

Jeju World Cup Stadium, na Coreia do Sul

Árbitro: César Ramos (México)

Zâmbia: Mangani Banda; Nyondo, Chiluya, Solomon Sakala, Mayembe; Musonda, Mwepu, Fashion Sakala; Chilufya, Daka (Emmanuel Banda, 42’) e Luchanga (Siama, 63’)

Treinador: Beston Chambeshi

Portugal: Diogo Costa; Diogo Dalot, Rúben Dias, Jorge Fernandes, Yuri Ribeiro; Florentino Luís (Pedro Rodrigues, 68’), Gedson Fernandes, Xadas; André Ferreira (Hélder Ferreira, 61’), Diogo Gonçalves e José Gomes (Xande Silva, 52’)

Treinador: Emílio Peixe

Golos: Chilufya (52’), Fashion Sakala (76’) e Hélder Ferreira (90+1’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Solomon Sakala (35’)

Peixe optou por manter algumas dinâmicas de equipa: apostou na dupla Florentino Luís-Gedson Fernandes no meio-campo com Xadas um pouco mais adiantado e colocou Diogo Gonçalves a cair mais na esquerda para combinar com o também companheiro de equipa Yuri Ribeiro. Além disso, acrescentou o factor surpresa no ataque, com a mobilidade de José Gomes e André Ferreira a tentar desposicionar a defesa adversária. No entanto, a Zâmbia, tal como a maioria das equipas africanas de primeira linha, evoluiu muito no plano tático e emocional, os outrora calcanhares de Aquiles. Com isso, foi controlando a partida mesmo sem ter tanta bola.

A entrada no segundo tempo acabou por ser fatal para as ambições nacionais nesse jogo de equilíbrios: já depois de uma boa intervenção de Diogo Costa a remate de Fashion Sakala, Chilufya inaugurou mesmo o marcador aos 52′, na recarga a mais um disparo bem travado pelo guarda-redes português. Nada a que esta equipa não estivesse habituada pois, no último Campeonato da Europa Sub-19 que valeu a qualificação para o Mundial, Portugal começou a perder em todos os jogos da fase de grupos mas conseguiu apurar-se para as meias-finais da prova.

A Seleção Nacional criou, criou e criou oportunidades, mas acabou sempre por desafinar na hora de chegar ao golo. Só Diogo Gonçalves, um dos melhores em campo, falhou três oportunidades claríssimas, daquelas que parece ser só encostar. O tempo passava, os nervos aumentavam, a ansiedade tornava-se cada vez mais traiçoeira e seria mesmo a Zâmbia, campeã africana neste escalão, a aumentar para 2-0 numa grande jogada de Fashion Sakala, aos 76′. E o máximo que Portugal conseguiu fazer foi mesmo atenuar a desvantagem já em período de compensação, com Hélder Ferreira (chamado à última hora para substiuir o lesionado Aurélio Buta) a aproveitar mais uma defesa de Banda para a frente para, na recarga, quebrar de vez a muralha adversária.

Para início de conversa, e em resumo, a música até nem foi má mas faltou um Salvador para dar voz à capacidade criativa que os portugueses foram tendo e não desafinar na hora da verdade, em frente à baliza.