Sábado, 10 de Junho, último dia de Primavera Sound. Para quem caminhou, durante os três dias do festival, pelo recinto verde do Parque da Cidade do Porto, sabe que o conforto pode (muito bem) estar na lista de prioridades dos festivaleiros. Desde as sapatilhas velhas e gastas que servem para qualquer urgência até aos casacos e camisolas com capuz para fazer frente ao frio da Invicta, há elementos do vestuário difíceis de contrariar num festival de música.

Que o digam Ana Morais e Afonso Pinheiro: “O melhor é sempre trazer um casaco quente e uns ténis velhos, mas confortáveis, para estragar aqui à vontade”, diz Ana. Afonso acrescenta: “E uns óculos de sol estilosos”.

A francesa Marie tem a mesma linha de pensamento, mas substitui os elementos. “Não compro roupa de propósito para os festivais de música. Calço as minhas botas e os vestidos de há muito tempo.” Os amigos alemães, habituais a estas andanças de festivaleiros, reforçam que os hoodies (casacos ou camisolas com capuz) não podem faltar mesmo.

Outras pessoas no público acreditam que este tipo de eventos pode ser suscetível a mais criatividade e também a mais liberdade na aparência. Rui Paulo Magalhães tem 26 anos e é médico. Há vários anos que não frequenta festivais de música, mas vê neles uma oportunidade de ouvir boa música e também de largar a roupa formal de todos os dias. E por isso, colocou uma bandana à volta da nuca. “É uma forma de me expressar livremente”, confessa.

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Francisca Marques Pereira e Hugo Figueiredo Nogueira também adaptam um bocadinho o visual para os festivais de música. E há uma razão para isso: “Os festivais dão-nos a liberdade de usar o que quisermos, sem sermos olhados de lado”, dizem os amigos.

A londrina Isabel Adomakoh Young admite que se veste “de forma particular” no dia-a-dia, mas “num festival há ainda mais liberdade”. Portanto, a festivaleira de 24 anos diz que “aumenta o volume” de ousadia neste tipo de eventos.

1, 2, 3: “Correr” para a fila das flores

Passaram poucos minutos desde a abertura do recinto, às 16h, mas a fila para as coroas de flores naturais continua longa e mais longa irá ficar. Muitos não dispensam o acessório, que se tornou uma das imagens de marca do NOS Primavera Sound.

Cerca de dez raparigas “constroem” as coroas com um elástico preto — para colocar à volta da cabeça — e enfeitam com alguns margaridas e outro tipo de flores naturais. Brancas, rosas, azuis: são vários os tons a decorar as nucas de pequenos e graúdos, homens e mulheres.

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A “ação das coroas das flores”, o nome dado ao lugar onde são feitos os acessórios, esteve aberta durante cinco horas em cada dia de festival. Mas para já, torna-se quase impossível contabilizar o número de festivaleiros que foi até lá.

“Muitas vezes temos de dizer às pessoas que não podem escolher as cores ou as flores”, diz uma das coordenadoras da ação. A linha de montagem é pensada pormenorizadamente e isso significa que cada “construção” de coroa deve demorar cerca de cinco minutos a ser feita.

O “Sr. Garcez”, como é apelidado o fornecedor de flores do festival NOS Primavera Sound” olha atónito para a quantidade de pessoas que fazem fila. “Nunca pensei que isto estivesse assim”, diz.

Ao Observador, confessa que já teve propostas de outros festivais de música, mas manteve-se no NOS Primavera Sound porque percebeu que a coroa de flores se tinha tornado uma imagem de marca do festival a Norte. Durante os três dias de Primavera Sound passaram cerca de 400 “molhos” de margaridas e 60 pacotes de vivás.

O NOS Primavera Sound terminou este sábado, ao som de Elza Soares, Death Grips e Aphex Twin. A organização já confirmou que para o ano há mais.