Os trabalhos de renovação da Grenfell Tower, em Londres, foram revistos 16 vezes pela empresa Kensington & Chelsea. Mas estas verificações não conseguiram impedir que fosse utilizado um revestimento inflamável e poupar a vida a 79 pessoas no incêndio de dia 14 de junho.
As inspeções foram prolongadas durante quase dois anos, entre 2014 e 2016, enquanto decorriam a renovação do edifício. Mas, os funcionários que levaram a cabo estas verificações não conseguiram perceber que estavam, na realidade, a revistar todo o prédio com um material altamente inflamável e que já tinha sido proibido, pelo Governo. Um executivo do Kensington & Chelsea disse ao The Guardian que a primeira inspeção foi realizada a 29 de agosto de 2014 e a última a 7 de julho de 2016, na altura em que o certificado de conclusão foi emitido.
Judith Blakeman, uma representante dos residentes da Greenfell Tower, disse que esta situação levantava questões sobre a competência dos funcionários encarregues da inspeção do prédio.
Isto leva-nos a questionar se os funcionários que estavam encarregues da regulação do prédio seriam, ou não, competentes e se eles sabiam, de facto, para o que estavam a olhar”, questionou.
Também se realçou que, em 2012 os designers do Studio & Architects propuseram um revestimento retardador de fogo, mas o produto que foi fornecido à Grenfell Tower era feito por polietileno inflamável. A Kensington & Chelsea tem vindo a enfrentar críticas por causa da sua pobre reposta ao incêndio que deflagrou na torre. Tem sido a Cruz Vermelha que tem prestado o maior auxílio às vítimas.
Theresa May pediu desculpas, no Parlamento, àquilo que ela própria descreveu como “um fracasso do Estado, local e nacional, para ajudar as pessoas que mais precisam”.
Numa tentativa de realojar permanentemente as famílias que estão agora desalojadas, o secretários das comunidades, Sajid Javid, anunciou que serão construídos 68 apartamentos mobilados e que estes estarão disponíveis no fim do próximo mês. Estes serão localizados num complexo de apartamentos de luxo na parte mais rica do município, contando com o dinheiro do governo que foi libertado para acelerar a sua conclusão.
A investigação de longo prazo que foi iniciada vai envolver cerca de 250 profissionais, liderado por Scotland Yard. Ele está a examinar onde é que o fogo teve origem, como é que este se espalhou tão rápido e como é que o edifício foi mantido e gerido, assim como as medidas de segurança contra incêndio e as condições sob as quais ocorreu a renovação.
O revestimento de alumínio que se acredita ter sido utilizado em Grenfeel tem uma parte de polietileno e não é compatível com os regulamentos de construção de prédios no Reino Unido. O Departamento de Comunidades e o Governo Local, que fiscaliza as regulamentações de construção disse ao The Guardian que o revestimento utilizado na Torre estava de acordo com a orientação indicada nos regulamentos.
Este tipo de revestimento não deve ser utilizado em edifícios com mais de 18 metros de altura”, declarou.
Continua a não ser conhecido como e quando é que o material inflamável foi substituído. O conselho da empresa nega-se a comentar os julgamentos que foram utilizados pelos inspetores para avaliar a renovação durante as suas visitas. Rydon, o contratador, disse que “todas as medidas de segurança e controlo foram cumpridas”.
Bombeiros e arquitetos alertam para a velocidade com que o incêndio se propagou pelo prédio e arrasou os painéis instalados para melhorar e aumentar o isolamento do edifício. Assim como, para a falta de rotas de fuga e a falha nos sistemas de alarmes.
Os planos e outros detalhes propostos foram revistos pela Kensington & Chelsea”, disse o conselho num comunicado citado pelo The Guardian.
Barry Turner, diretor da Autoridade Local de Controlo de Edifícios que representa as equipas municipais da Inglaterra e do País de Gales, disse: “O que precisamos de saber é o que foi inspecionado. Pode-se ter ido ao local 16 vezes, mas podemos não ver o que realmente precisamos de ver. Eles podem ter inspecionado as fixações, as barreiras de fogo e as cavidades, que não importantes, e igualmente inúteis se colocarmos um material inflamável à frente delas”.
Depois de instalados, Turner que era difícil distinguir painéis resistentes ao fogo daqueles que não o são. Sublinho que “a pessoa responsável por fazer essa inspeção é a pessoa que realiza esse mesmo trabalho“.
Há mais prédios com revestimento da Torre Grenfell
Verificações feitas noutros blocos de habitação em Londres, na sequência do incêndio na torre Grenfell, encontraram revestimento combustível idêntico ao do prédio destruído pelo fogo na semana passada, anunciou esta quinta-feira a primeira-ministra Theresa May, numa declaração no Parlamento britânico.
Sem indicar a localização dos mesmos, May garantiu que as autoridades locais e os corpos de bombeiros estão a tomar “todas as medidas possíveis” para garantir que os edifícios sejam seguros e os residentes informados. Diariamente, cerca de 100 torres idênticas estão a ser inspecionadas em todo o país, informou, e o resultado será tornado público nas próximas duas semanas.
May disse que, no total, 151 casas foram destruídas no incêndio de 14 de junho, incluindo os 120 apartamentos da torre e algumas nas imediações, e que 160 propriedades já foram identificadas no mesmo bairro ou na vizinhança para disponibilizar às pessoas que ficaram desalojadas.
Entretanto, as autoridades britânicas compraram 68 apartamentos num empreendimento de luxo local, cuja finalização é esperada até ao final de julho. Os processos de avaliação junto das famílias já começaram, mas May vincou que estes não serão usados para realizar verificações sobre o estatuto de imigração, nem sobre as vítimas ou próximos que ajudem nas identificações.
Entre 400 e 600 pessoas viviam na Torre Grenfell, de 24 andares e 120 apartamentos, que ficou totalmente consumida pelo fogo na madrugada da passada quarta-feira. As chamas terão deixado pelo menos 79 mortos e 78 feridos, 10 dos quais em estado crítico. O governo britânico anunciou uma verba de cinco milhões de libras (5,7 milhões de euros) para a ajuda de emergência às vítimas do incêndio. Theresa May indicou esta quinta-feora que 700 mil libras (794 mil euros) já foram pagos às vítimas.
Em resposta, o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, reivindicou a instalação de sistemas anti-incêndio [sprinklers]. Saudou também a demissão do responsável executivo da autarquia londrina de Kensington e Chelsea, Nicholas Holgate, anunciada esta quinta-feira, e defendeu que outros líderes autárquicos devem assumir também responsabilidades no incidente.