Admitindo que “se houver falhas terão de ser corrigidas”, a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, disse esta quarta-feira em entrevista à RTP3 que o incêndio de Pedrógão Grande — que matou 64 pessoas — “foi o momento mais difícil ” da sua vida. “Este foi o momento mais difícil não só do meu mandato, mas da minha vida”, afirmou, depois de negar que admitiu a possibilidade de se demitir.
Aquilo que é mais fácil para um político é demitir-se perante uma dificuldade. Optei por continuar com a minha missão de serviço público, estando aqui a dar a cara e assumindo a responsabilidade 24 sobre 24 horas”, disse a ministra.
Acrescentou ainda que “um comandante nunca abandona os seus homens”. Afirmando que “nunca se está preparado para uma tragédia”, Constança Urbano de Sousa sublinhou que “é preciso uma enorme capacidade de superação para estar perante uma tragédia desta dimensão, tendo de reagir sempre de cabeça erguida, a ter de tomar decisões”. Por isso, respondeu que era “muito prematuro” dizer se o Estado falhou, porque as operações ainda não tinham acabado e é preciso perceber o que aconteceu no sábado. “Foi uma situação absolutamente anómala. Todos falam num fenómeno absolutamente anómalo e alucinante”, referiu.
“Neste momento, ainda não podemos afirmar com certeza absoluta que era possível prever e prevenir que este incêndio não tivesse estas consequências catastróficas”, esclareceu a governante.
A ministra explicou que só depois de ter “a fita do tempo” é que vai ser possível dizer quem fez o quê e a que horas no sábado, não excluindo que possa haver um inquérito independente ao que aconteceu, além dos que já estão a decorrer. “Preciso de dados que ainda não disponho.”
Constança Urbano de Sousa reforçou que não houve “uma falha total” nas comunicações da rede SIRESP — rede de comunicações utilizada por bombeiros e outras equipas de emergência –, mas que houve intermitências, sendo que a fibra ótica foi destruída pelo incêndio, mas que por volta das 20h foram colocadas duas antenas móveis no local. Negou que as redes tivessem estado cortadas durante 9 horas e que o relatório sobre a rede SIRESP deverá estar concluído esta quinta-feira.
Admitindo que pode ter havido uma subvalorização da informação dada pelo IPMA — que tinha posto a região em risco máximo de incêndio –, a ministra da Administração Interna lembrou que no sábado estavam ativos 156 incêndios em Portugal, que envolveram cerca de 9 mil operacionais e quase 3 mil viaturas. Contudo, afirmou que “o alerta de prontidão é algo que terá de ser avaliado de uma forma mais aprofundada”.
Sobre a hipótese levantada esta quarta-feira pelo presidente da Liga dos Bombeiros, Jaime Marta Soares, de que o incêndio teria mão criminosa, a ministra esclareceu que “o inquérito não terminou e não podemos afirmar se houve ou não mão criminosa. Dizer isso é leviano”, afirmou.
Questionada sobre o adiamento da reforma das florestas de ano para ano, a ministra da Administração Interna disse que se estava no início, mas que estas reformas estruturais não têm um efeito imediato, só vão produzir efeitos daqui a 10 anos, e que é preciso “tornar as nossas florestas mais resilientes”, incutindo também nas pessoas e nas comunidades sistemas de auto-prevenção.
Quanto à pergunta sobre se havia “demasiada complacência com a indústria da celulose” a propósito da plantação de eucalipto, a ministra admitiu que “é verdade que temos imensa área de eucalipto, sobretudo muito contínua, e que já foi publicado um pacote legislativo que inclui uma “série de medidas para fazer este reordenamento florestal”.