Joaquim Jorge, fundador do Clube dos Pensadores, um ciclo de tertúlias que já juntou algumas das personalidades mais influentes da política portuguesa, considera que o PSD é hoje um “barco à deriva” dominado por “interesses obscuros” que condicionam o partido. Essa e outras considerações constam no livro “Candidato que Não Chegou a Sê-lo”, uma obra centrada no processo conturbado em que se viu envolvido: escolhido pela concelhia do PSD/Matosinhos como candidato à autarquia liderada pelo socialista Eduardo Pinheiro, Joaquim Jorge acabou por se ver afastado da corrida eleitoral depois de o seu nome ter sido chumbado em plenário de militantes.
O livro vai ser apresentado esta quinta-feira, dia 29 de junho. Em declarações ao Observador, Joaquim Jorge aponta o dedo a uma figura social-democrata em particular: Marco António Costa, o “homem invisível” que controla todas as ações do aparelho nas sombras, segundo o autor e ex-candidato a candidato autárquico.
“Marco António Costa é o ‘senhor partido’. O ‘homem invisível’, que julga fazer tudo sem ninguém ver. Aliás, dou-lhes os parabéns. Conseguiu manter-se há tantos anos à frente do partido sem ir a eleições ou concorrendo sempre em lista única. É um homem muito ambicioso”, afirma o ex-militante socialista — desfiliou-se em 2008 –, em declarações ao Observador.
Joaquim Jorge era uma aposta do presidente da concelhia do PSD/Matosinhos, José António Barbosa, para tentar conquistar a autarquia a uma das múltiplas fações do PS que lutam no terreno. No entanto, o nome do fundador do Clube dos Pensadores nunca foi bem aceite por alguns setores do aparelho social-democrata e teve de ir a votos repetidas vezes em sede de concelhia.
A concelhia acabaria por forçar uma aprovação do nome de Joaquim Jorge através de voto secreto. No entanto, o plenário de militantes acabou por chumbar o independente, exigindo que o candidato a Matosinhos fosse militante do PSD. A decisão não tinha valor vinculativo, mas Joaquim Jorge acabou por se afastar da corrida à liderança do município. Com ele, afastaram-se também José António Barbosa — que vinha há muito mantendo um braço de ferro com o líder da distrital do PSD/Matosinhos, Bragança Fernandes — e outros 15 membros da comissão política concelhia do partido.
No último capítulo do livro, intitulado Game Over, Joaquim Jorge é claro: “O PSD está refém do aparelho do partido, anquilosado e desfasado da realidade. O dossier Matosinhos do PSD foi uma peça teatral trágica ao nível de Hamlet de Shakespeare com intriga, deslealdade, traição, vingança e imoralidade”.
O professor formado em biologia não poupa aquele que diz ter sido responsável pela condução do processo que culminou com o seu afastamento:
Esta luta também foi pelo poder na concelhia de Matosinhos, mas também , pela sucessão de Pedro Passos Coelho. Marco António Costa é uma pessoa muito ambiciosa: numa 1.ª fase vai tentar ser líder parlamentar e numa 2.ªfase vai tentar ser líder do PSD. Deste modo, tem que colocar pessoas da sua confiança em lugares chave. Os elogios públicos a Passos Coelho não passam de faits divers. Endereço os parabéns a Marco António Costa, é preciso ter muito valor para se manter tantos anos no PSD, a dominar e influenciar as estruturas do PSD e não haver ninguém que lhe faça frente“, escreve o autor.
Em declarações ao Observador, Joaquim Jorge desvaloriza o papel do líder do partido na luta pelo poder em Matosinhos. “Pedro Passos Coelho não sabia de nada do que se estava passar. Nunca me disse que não me queria como candidato. Tive uma conversa com ele de 25 minutos ao telefone e até fiquei com a ideia de que poderia ser candidato.”
No livro, Joaquim Jorge revela ainda uma carta que enviou a Pedro Passos Coelho, no final de maio, onde expunha o diferendo entre a concelhia e a distrital de Matosinhos. A distrital, liderada por Bragança Fernandes, acabaria por decidir à revelia do presidente do partido, sugere o fundador do Clube dos Pensadores.
Noutra passagem do livro, Joaquim Jorge faz outro ataque velado a Marco António Costa. “O meu problema é que sou uma pessoa impoluta, que nunca tive problemas com a Justiça, não devo nada às Finanças e honro-me de ter um passado imaculado. Mas, tenho um enorme defeito, para alguns: penso pela minha cabeça e não tenho cartão de militante do PSD”, escreve.
A obra Candidato que não chegou a sê-lo (Quinto Império Editora) vai ser apresentada às 21h30, na FNAC do NorteShopping, em Matosinhos. A apresentação do livro contará com a presença de José António Barbosa e de Ernesto Páscoa, professor universitário e presidente da concelhia do PS/Matosinhos.
Joaquim Jorge fundou o Clube dos Pensadores em 2006, organizando ao longo de 11 anos debates com personalidades como Marcelo Rebelo de Sousa, Passos Coelho, Paulo Portas, Jerónimo de Sousa, Belmiro de Azevedo, Pedro Santana Lopes, Alberto João Jardim ou Miguel Relvas.