Ainda perdura na memória aquela vez em que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, classificou Meryl Streep como uma das mais sobrevalorizadas atrizes de sempre, mesmo sendo fácil de verificar que, ao contrário, Streep é a pessoa, entre homens e mulheres, com mais nomeações para os Óscares de sempre, e uma das que mais prémios recebeu.

Se nas salas de cinema, Streep é rainha, esse lugar pertence, nos courts de ténis, a Serena Williams. A norte-americana de 35 anos venceu 23 Grand Slams e tem quatro medalhas olímpicas mas para John McEnroe, tenista norte-americano já reformado com umas estonteantes sete taças, “Williams estaria em 700º lugar se jogasse no circuito masculino”. Numa entrevista à rádio pública norte-americana NPR, McEnroe admitiu que Williams é a melhor tenista de sempre mas ressalvou que “se ela tivesse que jogar no circuito — no circuito masculino — a história seria completamente diferente”.

McEnroe é conhecido pelas suas tiradas machistas, pelas ofensas a árbitros, por partir raquetes e por muitas vezes eleger os palavrões como forma mais eficaz de transmitir a sua exasperação. E conseguiu, mais uma vez, como explica Tyson Otto, jornalista desportivo na página de notícias online australiana news.com.au, “roubar a atenção” e “definir a agenda” do mundo do ténis, precisamente por altura da edição da sua segunda autobiografia: Eddie MrEnroe: But, Seriously.

Mas a sério, então. E, a sério, é isto: “Talvez em algum desporto uma mulher possa ser a melhor, mas eu nunca vi isso em nenhuma modalidade e nunca o vi no ténis”.

Serena Williams que venceu o Open da Austrália quando já estava grávida de oito semanas, já respondeu, através do Twitter. A tenista diz que “adora e respeita” MrEnroe mas pede respeito pela sua privacidade e pela sua gravidez e que “por favor, favor” ele a deixe fora de “ilações que não são baseadas em factos”.

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Já em 2000 McEnroe tinha dito que qualquer tenista universitário poderia derrotar Serena ou a sua irmã Venus, também ela uma tenista premiada. A frase foi dita na altura em que Donald Trump propôs a MrEnroe jogar uma partida contra uma das irmãs Williams, em dos seus casinos em Atlantic City por um prémio de um milhão de dólares.

Há 44 anos, em 1973, Billie Jean King, a tenista-estrela norte-americana, concordou em bater-se contra Bobby Riggs, numa partida que até teve um nome: “A Batalha dos Sexos” depois de Riggs ter feito uma série de comentários misóginos. “Em primeiro lugar, as mulheres devem estar no quarto, em segundo na cozinha e em terceiro devem apoiar o apoiar o homem”, foi uma das frases do californiano na altura. Acabaria por ter que as engolir quando perdeu em três sets seguidos (6-4, 6-3, 6-3) para a maior lenda feminina do ténis antes da chegada de… Serena.

Mesmo que seja provável que uma mulher não consiga vencer repetidamente homens que estejam classificados no topo do ranking, os torneios são diferentes por algum motivo. E entre MrEnroe e Williams só um ficará para a história como um dos melhores de sempre.