Só há um candidato, o resultado é certo, mas há muito mais em jogo do que uma simples eleição da distrital do PSD em Lisboa, que decorre este sábado. Pedro Pinto, ex-vice-presidente do PSD, próximo de Pedro Passos Coelho e da linha de Carlos Carreiras e Miguel Pinto Luz, os seus antecessores, é candidato único e representa o projeto da continuidade. Mas a linha crítica do passismo — numa demonstração de força de barões que nunca alinharam com Passos — aposta tudo na na eleição de delegados no concelho de Lisboa para a Assembleia Distrital: Lisboa vale 267 de um total de 825 delegados. É um teste e uma contagem de espingardas para a eventual luta interna após as eleições autárquicas.
A lista de oposição a Passos para delegados à Assembleia Distrital é encabeçada pelo ex-ministro Nuno Morais Sarmento, e foi promovida por Rodrigo Gonçalves, um dos caciques lisboetas que controla mais votos. O objetivo é ganhar a eleição de delegados na secção de Lisboa com maioria. E fazer prova de força na guerra interna que dura há meses. O controverso Rodrigo Gonçalves subiu a presidente interino da concelhia de Lisboa, depois de Mauro Xavier se ter demitido do cargo com a escolha de Teresa Leal Coelho como candidata à câmara lisboeta, mas a comissão política tentou afastá-lo do cargo. A crispação interna entre os sociais-democratas chegou ao rubro quando a distrital fez com que a concelhia vetasse todos os candidatos às juntas de Freguesia apresentados pelo Núcelo Central do PSD (estrutura controlada por Rodrigo Gonçalves). E subiu ainda mais de tom, com acusações de “estalinismo” quando a Distrital vetou Daniel Gonçalves — pai de Rodrigo — como candidato à Junta de Freguesia das Avenidas Novas depois de uma investigação do Observador. É o único dos cinco presidentes de junta do PSD que não se recandidata.
Comissão política de PSD/Lisboa propõe afastamento de Gonçalves de interino
No que respeita à disputa pela Distrital de Lisboa, os alinhados com Passos alegam que os críticos da direção não tiveram coragem para avançar com uma candidatura. Os críticos do líder acusam a candidatura de Pedro Pinto (apoiada pelo anterior presidente da distrital, Miguel Pinto Luz, pelo coordenador autárquico, Carlos Carreiras, e pelo próprio líder, Passos Coelho) de desrespeitar uma recomendação da direção nacional do partido e do Conselho Nacional de não haver eleições para órgãos internos até às autárquicas.
A rede da família Gonçalves: como se tornaram poderosos no PSD/Lisboa
O passismo pode perder a batalha, mas ganha a distrital
O próximo presidente da distrital vai assim ser, sem surpresa, Pedro Pinto — que presidia até agora à Mesa da Assembleia Distrital. Na contagem de espingardas de ambos os lados, espera-se para ver que mobilização vão gerar as listas únicas para os órgãos do partido afetas ao ex-vice-presidente do PSD nas restantes nove secções (Amadora, Azambuja, Cascais, Loures, Mafra, Oeiras, Odivelas, Sintra e Vila Franca de Xira). Resta perceber qual o nível de participação eleitoral dos militantes do PSD no distrito.
O único candidato à distrital, Pedro Pinto, explica ao Observador que se candidata porque nos próximos dois anos tem “grandes desafios pela frente, autárquicas e legislativas”. Assumindo-se como “apoiante de Passos Coelho, Pedro Pinto antecipa que “a distrital também vai ter uma posição no próximo congresso [no primeiro trimestre de 2018]” e que “enquanto se mantiver esta liderança, com o líder que venceu as últimas legislativas e tirou Portugal da situação de resgate” vai “manter-se ao lado do líder”. Ou seja: a distrital tudo fará para levar Passos às próximas legislativas”.
Quanto à lista adversária para a lista de delegados à Assembleia Distrital em Lisboa, Pedro Pinto lembra que nenhum crítico teve a coragem de avançar contra ele na corrida à liderança de distrital. O antigo vice-presidente do PSD recorda que teve “disponibilidade” para avançar e tem “pena que outras pessoas que supostamente têm outros projetos para o partido não tenham mostrado essa disponibilidade”. No início de junho, chegou a ser noticiada a candidatura de Pedro Rodrigues.
Pedro Pinto acha estranha a “mistura de pessoas nessa lista” e diz não gostar da classificação de barões: “Mas se há barões, não vejo ninguém nessa lista que corresponda à designação”. O candidato não dá a secção de Lisboa por perdida:
Primeiro vamos ver quais são os resultados, mas a Assembleia tem cerca de 600 delegados e mais de 200 inerências. Lisboa é só uma parte. O importante é Assembleia Distrital. Quem só pensa vencer Lisboa são as pessoas que acham que o país é Lisboa e que a distrital é Lisboa. Mas não é.”
Sem querer comentar a fama de caciquismo de alguns dos delegados da outra facção, Pedro Pinto prefere dizer que não se identifica “politicamente com essas pessoas” e diz ainda, “não apresentando qualquer ideia” é “no mínimo é muito pouco clara a intenção pela qual se candidatam.”
Pedro Pinto encabeça a lista “Afirmar Lisboa”, que concorre também isolada à presidência da Assembleia Distrital — apresentando como ‘número um’ o presidente da Câmara Municipal de Mafra Hélder Silva — bem como ao Conselho de Jurisdição e à Comissão de Auditoria Financeira distritais.
Lista L, factor R (de Rodrigo Gonçalves)
Se a eleição para a distrital vai ser um passeio para os apoiantes de Passos Coelho, a expectativa é que a votação no concelho de Lisboa para os delegados possa mesmo ser ganha pela lista de Morais Sarmento. É a lista que representa a oposição ao atual líder, tendo vários “barões” que habitualmente criticam Passos Coelho. Desde logo, é o ex-ministro Nuno Morais Sarmento que encabeça a lista de delegados a Lisboa. Embora não haja um confronto direto Pinto/Sarmento, esta disputa remete para os anos 80, quando Nuno Morais Sarmento representava a oposição na JSD às lideranças de Pedro Pinto, a que se seguiu Carlos Coelho e depois Pedro Passos Coelho.
Na apresentação da lista “Lisboa Sempre”, a 23 de junho, Nuno Morais Sarmento assumiu a vontade de ajudar a construir uma “etapa nova” na vida do PSD, “para já” com uma candidatura em Lisboa, que não excluiu como um caminho para outras disputas. Nessa ocasião, e questionado por que razão não concorria à liderança da distrital, o ex-ministro da Presidência de Durão Barroso e Santana Lopes disse não ter problemas em assumir combates e salientou que já o fez no passado.
“Mas há alturas em que podemos dar o sinal de que participar politicamente não é necessariamente disputar poderes e concorrer a lugares, pode ser apenas um gesto cívico de um conjunto de militantes que conhecem o partido e que reconhecem que a hora é difícil para o partido e para o país”, disse, classificando a sua lista como “um grito de urgência”.
A primeira subscritora da lista foi Manuela Ferreira Leite (também crítica de Passos Coelho) e contou com ex-ministros como Pedro Roseta e Graça Carvalho ou o ex-chefe de gabinete de Passos, Feliciano Barreiras Duarte. O antigo líder da distrital de Lisboa do PSD, António Preto, é outro dos apoiantes desta lista. Outro antigo dirigente local e apoiante da lista é Ismael Ferreira, antigo líder da extinta Secção Oriental — agora pastor de uma igreja evangélica — que também já foi acusado várias vezes por companheiros de partido de promover o caciquismo através da captação de militantes em bairros sociais das zonas de Chelas e de pagar votos.
António Preto absolvido 14 anos depois: “Para mim isto termina aqui”
Outro delegado da lista é Rodrigo Gonçalves — antigo presidente da junta de freguesia de São Domingos de Benfica e considerado um dos maiores caciques do PSD/Lisboa. Fontes de ambas as fações sabem do peso da família Gonçalves no partido. “Toda a gente sabe que o Rodrigo vale pelos 600 votos”, disse um apoiante de Pedro Pinto ao Observador. A mesma fonte acrescenta: “Eles não tiveram condições para apresentar um candidato à distrital e vão usar os votos do Rodrigo para conseguirem um título de jornal do género ‘Apoiantes de Rio vencem em Lisboa’ ou ‘Oposição a Passos vence em Lisboa’ para dar ideia que os críticos estão a crescer”.
Críticas à continuidade chegam ao Conselho Nacional
Esta não é a primeira vez que a linha de Carlos Carreiras e Miguel Pinto Luz antecipa eleições para manter o controlo da distrital. Eleito pela primeira vez em 2011 para presidir à distrital, já em 2015 Miguel Pinto Luz tinha antecipado as eleições que seriam em novembro para maio, com as legislativas de setembro no horizonte. Nessa época, a oposição interna no distrito encabeçada por Pedro Rodrigues acusou Pinto Luz de fazer a jogada de antecipar as eleições distritais para antes das legislativas prometendo lugares de deputados para conquistar apoios. Pinto Luz viria a ganhar com perto de 91% dos votos, vencendo nos 10 concelhos do distrito. Em 2013 foi quando teve maior oposição, com a lista de Pedro Rodrigues a conseguir 36% dos votos, reduzindo a vantagem de Pinto Luz.
Na primeira vez que foi eleito, em 2011, o também vice-presidente da câmara de Cascais ganhou a distrital com 72% dos votos, contra a lista de Jorge Roque Cunha. Depois de três mandatos consecutivos, Pinto Luz teria inevitavelmente que passar a pasta este ano. Em todo o caso — e indo contra a decisão do Conselho Nacional de não haver distritais antes das autárquicas — as eleições da distrital de Lisboa foram novamente antecipadas.
No Conselho Nacional do PSD, realizado esta quinta-feira em Lisboa, também houve críticas à forma como foram convocadas as eleições para a distrital de Lisboa. O conselheiro nacional e ex-presidente da distrital de Setúbal do PSD, Luís Rodrigues, disse na sua intervenção que Passos Coelho foi “quem teve a responsabilidade de propor a recomendação. Haver uma pessoa da sua confiança [Pedro Pinto] que vai contra uma recomendação sua, torna o presidente do partido responsável por este clima de disputa interna”. Luís Rodrigues, como o próprio explicou ao Observador, também não poupou a oposição a Pedro Pinto em Lisboa, dizendo que é “uma oposição de faz de conta, porque se fosse uma oposição a sério avançava com uma candidatura para a distrital.
Também o antigo líder da JSD, Jorge Nuno Sá, terá criticado no Conselho Nacional — segundo várias fontes relataram ao Observador — a forma como foram convocadas eleições da distrital de Lisboa e disse estar desiludido pela falta de cultura democrática que existe na distrital do partido, denunciando as poucas vezes que a Assembleia Distrital reúne.
As eleições na distrital de Lisboa estrutura que tem cerca de 20 mil militantes ativos (com quotas em dia e capacidade eleitoral) vão decorrer entre as 17:00 e as 23:00 do próximo sábado.
Quem são os candidatos únicos?
Além de Pedro Pinto, na corrida à distrital o vice-presidente na lista é o presidente da concelhia do PSD/Oeiras e candidato à autarquia, Ângelo Pereira, a candidata a secretária é a presidente da concelhia do PSD/Odivelas, Sandra Pereira, e o tesoureiro é Nuno Piteira Lopes (vereador na câmara de Cascais, presidida pelo coordenador autárquico Carlos Carreiras). Os vogais são Paulo Quadrado, Joaquim Sardinha, Nuno Firmo, Ricardo Andrade, Ana Mateus, Paula Neves, Francisco Domingues, Rui Rei, Lina Lopes, Augusto Felício, Rui Castelhano e Filipe Ferreira
Para a Comissão de Auditoria Financeira, a fação de Pedro Pinto apresenta Martinho Caetano, Victor da Silva, Francisco Peres, João Faria e João Chaves. Na lista para o conselho de Jurisdição Nacional o candidato a presidente é José Luís Moreira da Silva e os vogais são António Pinheiro Torres, Catarina Marques Vieira, Jorge Veiga Testos, Tiago Cartaxo, Ivan Duarte e Helena Pereira de Jesus.
Para a Assembleia Distrital, o candidato a presidente é o presidente da câmara municipal de Mafra, Hélder Silva. O candidato a vice-presidente é Fernando Ferreira, a secretária Júlia Vilas Boas e os restantes são João Gomes da Silva e Carlos Valada.