Rodrigo Gonçalves, líder interino da concelhia de Lisboa do PSD desde que Mauro Xavier se demitiu do cargo, viu a comissão política da secção votar o seu afastamento esta quinta-feira. Segundo o Observador apurou, os seus adversários internos, que também fazem parte daquele órgão, propuseram uma votação que o dirigente perdeu por 10-4. Ao contrário da distrital de Lisboa, que terá eleições durante o verão, a concelhia só deverá ir a votos depois das eleições autárquicas. Paulo Quadrado, líder do Núcleo Oriental de Lisboa, foi o nome proposto para substituir aquele controverso dirigente até haver eleições.

Rodrigo Gonçalves diz ao Observador que não foi afastado e que apenas foi proposto o seu afastamento, porque, segundo os Estatutos do PSD, a substituição de qualquer titular que ocupe um cargo no caso de ter havido uma vacatura pertence à assembleia de secção.

O que há é uma proposta da concelhia em que propõe o nome de elemento para ocupar a vacatura do cargo. Só tem efeito quando foi ouvido o plenário de militantes”, diz o dirigente ao Observador.

“Estou à espera de eleições para a concelhia”, diz Rodrigo Gonçalves, que assume a sua candidatura à liderança deste organismo. “Se vai haver eleições para a distrital, porque não marcam para a concelhia? Alguém tem algum receio”, sugere Gonçalves. A decisão da concelhia foi tomada no mesmo dia em que se soube que a Distrital de Lisboa ia convocar eleições para o verão, mesmo contrariando uma recomendação da direção do partido e do Conselho Nacional.

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O dirigente social-democrata classifica a decisão da concelhia como “um golpe palaciano”, e acrescenta: “Tenho as bases comigo. Posso não ter o apoio de Pedro Passos Coelho, mas tenho o apoio das bases”.

A rede da família Gonçalves: como se tornaram poderosos no PSD/Lisboa

Este foi mais um dos episódios da guerra interna do PSD em Lisboa. Poucas semanas depois de a concelhia ter chumbado todos os nomes para presidentes de junta propostos pelo Núcleo Central do PSD/Lisboa, de Rodrigo Gonçalves, a Distrital de Lisboa do PSD decidiu não integrar nas listas às autárquicas os elementos da família, que tem acumulado tanto poder quanto polémicas na capital. Daniel Gonçalves, o patriarca e presidente da junta de freguesia das Avenidas Novas, foi o único dos cinco presidentes de junta do PSD em Lisboa que não será recandidato na eleições de outubro. Rodrigo Gonçalves, o filho — que já foi presidente da junta de São Domingos de Benfica e é assessor dos vereadores do PSD na câmara de Lisboa –, também não vai integrar as listas para a Assembleia Municipal, ao contrário do que aconteceu em 2013.

É possível identificar o peso da fação “Gonçalves” — em relação aos outros grupos em Lisboa — através das votações para a lista de delegados à Assembleia Distrital. E tem vindo a crescer em influência. Na eleição interna para o PSD distrital em 2011, em que havia uma disputa entre quatro fações, a lista patrocinada por Rodrigo Gonçalves venceu o concurso para os delegados distritais com 30% dos votos, o que correspondeu à mobilização de 511 militantes. Em 2013, noutra disputa entre quatro listas, a percentagem subiu para 40% e 535 votos de militantes. Na votação para a lista de delegados ao congresso do PSD em abril de 2016, esta ala cresceu: num concurso entre seis listas, teve 726 votos, o que correspondeu a 51% dos militantes do PSD que foram votar. Significam estes resultados que a influência de Rodrigo Gonçalves tem estado a crescer, o que lhe permitiu ser escolhido para integrar a lista de Pedro Passos Coelho para o Conselho Nacional nesse mesmo congresso.