Quando tomou posse como presidente da Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica, em outubro de 2013, António Cardoso — um militante socialista recente — não queria acreditar. “Os discos rígidos dos computadores dos dirigentes e o servidor não tinham nada e as passwords estavam erradas”, conta o autarca ao Observador. “Não havia relatórios técnicos da atividade da junta, nem da saúde, nem da educação, nem da ação social. Zero”. Aquela junta era há vários mandatos um centro de poder para uma das fações do PSD de Lisboa e tinha sido gerida no último mandato por Rodrigo Gonçalves, considerado no aparelho lisboeta como um dos caciques com mais peso na capital. Envolvido em processos judiciais naquela época — entretanto resolvidos –, não se recandidatou nas autárquicas de 2013. Mas o seu pai, Daniel Gonçalves, ganhou a Junta das Avenidas Novas. E o poder da família transferiu-se para o centro da cidade.

Depois de iniciar funções, António Cardoso e a sua equipa aperceberam-se de um conjunto de ajustes diretos que haviam de originar uma queixa-crime contra a anterior gestão por suspeitarem de “participação económica em negócio”.

Rodrigo Gonçalves tinha cancelado seis contratos com fornecedores da junta, para em simultâneo com a denúncia contratual assinar — a 31 de julho de 2013 –, novas adjudicações diretas com as mesmas seis empresas de amigos e militantes da sua fação do PSD. O valor total dos ajustes: 212,7 mil euros (para cinco dessas seis empresas). No dia seguinte a firmar os novos contratos, a 1 de agosto, Rodrigo Gonçalves deixava as funções de presidente da junta e começava a trabalhar como assessor do secretário de Estado do Emprego. Dois meses depois, a 29 de setembro, o PSD perdia a junta para o PS. Poucos dias após as eleições autárquicas, Emília Noronha, que tinha ficado como substituta de Rodrigo Gonçalves na presidência da junta, denunciava esses mesmos seis contratos — contra um parecer dos serviços porque o executivo estava em gestão — e procedia ao pagamento a essas empresas antes da nova junta tomar posse. Os pagamentos refletiam verbas correspondentes a valores que oscilavam entre quatro e cinco meses de trabalho quando, segundo fontes da atual gestão da junta, essas empresas só terão prestado serviços ao longo de dois meses.

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