Os noventa minutos de voo que separam Pyongyang de Pequim não podiam ser mais agradáveis. Os funcionários são corteses e delicados, oferecem uma refeição complementar a meio da viagem e disponibilizam bebidas gratuitamente, até mesmo cerveja norte-coreana bem fresca. Pelo meio, uma pitada de patriotismo: nos ecrãs junto às cadeiras, os passageiros podem assistir a concertos ao vivo de bandas norte-coreanas num cenário de manobras militares. Viajar dentro deste avião da era soviética, com sinais de ferrugem e do envelhecimento do material pelo aparelho, não é diferente de viajar a bordo de um Airbus ou de um Boeing do último modelo algures num país europeu. Ainda assim, a Air Koryo, a única companhia aérea da Coreia do Norte, é considerada a pior do mundo. Para Arthur Mebius, o fotógrafo que documentou a vida desta companhia, é tudo uma questão de horários.

A Air Koryo é a única companhia aérea avaliada com apenas uma estrela pela Skytrax, principalmente porque não tem voos regulares. Nem pode: atualmente, além dos escassos voos domésticos, só pode viajar até à China ou à Rússia, graças às relações internacionais entre estes países. Em tempos, a frota da Air Koryo não assustava as autoridades no estrangeiro, mas as sanções internacionais e as restrições ambientais puseram-na na Lista de Proibições de Operação para o Espaço Aéreo da União Europeia. Dos 15 aviões com selo da Coreia do Norte, apenas quatro são dos anos noventa ou posteriores: dois Tupolev 204 e dois Antonov 148, os mais usados para deslocações internacionais. Os restantes onze são Antonovs dos anos 60, Ilyushins e Tupolevs mais antigos.

Já lá vai o tempo em que a Air Koryo tinha representação em aeroportos de Pequim, Shenyang (China), Berlim (Alemanha), Kuwait, Vladivostok e Moscovo (Rússia). Agora, tudo se resume a curtas viagens dentro do país, que servem apenas para desenferrujar as práticas das hospedeiras de bordo e dos pilotos. Para eles, é o que basta: são todos muito dedicados e têm grande orgulho em pertencer à Air Koryo. Pelo menos é este o relato que Arthur Mebius faz da vida dentro da pior companhia aérea do mundo, que para ele é tão boa como qualquer empresa ocidental.

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Ao fim de três viagens à Coreia do Norte em que conviveu de perto com os funcionários e os serviços da Air Koryo, Arthur Mebius, escreveu “Dear Sky”. E revelou que os norte-coreanos querem ser visitados, querem oferecer experiências a baixo custo e importam-se com a impressão com que os estrangeiros ficam da Coreia do Norte.

Sempre foi assim, embora a Air Koryo andasse à deriva dos conflitos na Coreia. Ela é a sucessora da Chosonmingang, fundada em 1950 em parceria com a União Soviética. Os serviços foram suspensos durante a Guerra da Coreia, mas regressaram ao ativo em 1953. A empresa como é conhecida agora foi estabelecida a 21 de setembro de 1955 com o controlo da Agência de Administração da Aviação Civil da Coreia. Nem assim foi totalmente aceite na Europa e as atividades internacionais foram reduzidas com o fim da Guerra Fria e a queda do comunismo na Europa Oriental.

Em 67 anos de atividade, a Air Koryo tem no currículo três acidentes. A 30 de junho de 1979, o trem de aterragem de um Tupolev Tu-154B colapsou quando o avião se aproximou da pista de aterragem 31 no Aeroporto de Budapeste (Hungria). A asa direita do avião cedeu, mas sem provocar feridos. O avião foi reparado e voltou ao ativo. Quatro anos mais tarde, a 1 de julho de 1983, 23 pessoas morreram quando um Ilyushin Il-62M que fazia a ligação Pyongyang – Conacri (Guiné) caiu nas Futa Yallon, já perto do destino. E este ano, a 25 de maio, um Tupolev TU-204-300 que viajava para Pequim teve de regressar a Pyongyang porque o aparelho começou a vibrar ao chegar aos 9.200 metros de altitude. Os passageiros dizem ter visto partes das asas a cair.

Na fotogaleria pode encontrar algumas das imagens captadas por Arthur Mebius, que estão no livro que pode comprar por 35 euros a partir deste link. Visite ainda o site do fotógrafo, a sua página de Facebook e o mural no Instagram.