As críticas ao candidato do PSD e do CDS à câmara de Loures já passaram da esquerda para a direita. Há mesmo um dirigente do CDS, Francisco Mendes da Silva, que pede que “nem mais um dia” o seu partido “fique associado a tão lamentável personagem“. André Ventura voltou esta segunda-feira a dar uma entrevista polémica ao jornal i, onde diz que “os ciganos vivem quase exclusivamente de subsídios do Estado”, depois de já ter dado uma entrevista ao Notícias ao Minuto a dizer que “há minorias no nosso país que acham que estão acima da lei”.
André Ventura encabeça a coligação “Loures Primeiro”, que une PSD e CDS. Francisco Mendes da Silva destaca, num post no Facebook, que “não há praticamente nada que André Ventura diga” que não considere “profundamente errado, ligeiro, fruto da ignorância e de um populismo que tanto pode ser gratuito, telegénico ou eleitoralista.” O centrista diz ainda que já viu o advogado e professor universitário “falar de tudo e mais alguma coisa, em muitos casos de assuntos que conheço técnica e/ou factualmente. Nunca desilude na impreparação e no gosto em ser o porta-estandarte das mais variadas e assustadoras turbas.” O Observador contactou o coordenador autárquico do CDS, bem como o porta-voz do partido, mas ambos optaram por não comentar o assunto.
À noite, Diogo Feio, coordenador do Gabinete de Estudos dos CDS e antigo deputado ao Parlamento Europeu, entre 2009 e 2015, deixou também um comentário com uma simples frase no Facebook: “Ainda bem que não voto em Loures”.
https://www.facebook.com/DiogoFeio/posts/1534317613298832?pnref=story
A candidatura do Bloco de Esquerda à câmara de Loures, encabeçada por Fabian Figueiredo, apresentou logo na quinta-feira, no dia seguinte à entrevista ao Notícias ao Minuto, uma queixa na Comissão pela Igualdade e Contra a Discriminação Racial.
Na sexta-feira, o próprio líder parlamentar do Bloco de Esquerda escreveu também no Facebook que “André Ventura tem um sonho: ser o Donald Trump de Loures”. Pedro Filipe Soares diz que, para seguir o estilo do presidente do EUA, o candidato do PSD e do CDS “está gratuitamente a ofender pessoas e comunidades. É lamentável e ilegal.” O bloquista acrescenta ainda que “o apoio do PSD a este extremismo diz muito do que hoje esse partido significa.”
A candidata do PS à Câmara de Loures considera que as declarações de André Ventura “são racistas e que o candidato discriminou cidadãos portugueses”. Sónia Paixão considera ainda que “a atual autarquia comunista coligada com o PSD na câmara contribuiu para um aumento do sentimento de insegurança em Loures, ao ter liquidado os contratos locais de segurança que o último executivo do PS tinha criado.”
O líder do PNR, José Pinto-Coelho, respondeu a uma provocação no Twitter, de um outro utilizador a perguntar se André Ventura não era do seu partido. O líder do partido de extrema-direita, nessa réplica, afirmou: “Infelizmente, ao que parece, alguns dos meus andam pelos partidos do sistema”.
Infelizmente, ao que parece, alguns dos "meus" ainda andam pelos partidos do sistema.
— José Pinto-Coelho ???????? ✋???? (@jpintocoelho60) July 17, 2017
O candidato do Bloco de Esquerda à autarquia, Fabian Figueiredo considera que — a partir do momento em que José Pinto Coelho se identifica com André Ventura — “chegou o tempo de Cristas e Passos se pronunciarem sobre este seu candidato.”
José Pinto Coelho acaba de se identificar com André Ventura. Chegou o tempo de Cristas e Passos se pronunciarem sobre este seu candidato.
— Fabian Figueiredo ???? (@ffigueiredo14) July 17, 2017
À esquerda, o líder da oposição vai sendo visado por não afastar André Ventura. O vice-presidente da bancada do PS, Filipe Neto Brandão, afirma que “Passos Coelho ainda vai a tempo de impedir que este possa ser discurso do PSD numa autarquia, seja ela qual for. Não o fazendo, Passos Coelho será conivente com o candidato e o PSD descerá um enorme degrau na sua degradação moral (não, o racismo não tem desculpa nem justificação). Deplorável.”
O antigo secretário de Estado do PS, Francisco Seixas da Costa também utilizou o Facebook para destacar que “um silêncio da direção do PSD sobre estas declarações funcionaria como uma objetiva rutura desse consenso, deslocando o nome do partido para um terreno eticamente muito pouco cómodo.”