Banhado pelo rio, na margem esquerda do Tejo, o Cais do Ginjal tem, provavelmente, a melhor vista sobre Lisboa e tornou-se um ponto de paragem obrigatória para os turistas que chegam a Cacilhas e que ignoram os avisos de perigo repetidos ao longo de um quilómetro. Mas a degradação do Ginjal está com os dias contados. Os velhos edifícios que se estendem entre o terminal fluvial e o Jardim do Rio vão dar lugar a casas, lojas, restaurantes, espaços culturais e jardins.
A proposta de Plano de Pormenor para o Cais do Ginjal vai entrar, em breve, num período de 120 dias de discussão pública e a obra avançará “assim que aprovado e publicado o Plano e concluídos os projetos de infraestruturas”, respondeu fonte oficial da Câmara Municipal de Almada ao Observador, acrescentando que não há prazo para a sua conclusão.
A ideia é aproveitar o “clima económico favorável ao investimento e que se traduz em Almada numa procura crescente por parte de investidores interessados nesta área” para reabilitar o cais ribeirinho, com cerca de 80 mil metros quadrados, e criar habitação, hotelaria, comércio, serviços, estacionamento, miradouros, apartamentos turísticos e espaços públicos, como mercados das artes e diversos equipamentos de apoio.
Nas palavras do Presidente da Câmara de Almada, Joaquim Judas, este projeto permitirá aumentar o espaço público e a segurança, manter a memória histórica daquele local e consolidar a arriba, “ao mesmo tempo que valoriza o território e o bem-estar de quem cá vive e trabalha, através da criação de mais postos de trabalho, conseguindo-se também uma maior atratividade para o concelho e para a região”.
Quanto aos dois únicos restaurantes que existem no Cais do Ginjal — o Atira-te ao Rio e o Ponto Final — não terão de fechar portas quando as obras começarem porque “na área dos dois restaurantes a intervenção a realizar, após publicação do Plano e concluídos os projetos de infraestruturas, será essencialmente nas traseiras para permitir um acesso ao Jardim do Rio e na frente para a consolidação do cais existente”, garantiu a mesma fonte da autarquia ao Observador.
Não é de agora que há intenção e vontade de renovar o Cais do Ginjal. Houve uma tentativa frustrada em 1990 e a atual proposta de Plano de Pormenor é de 2009, já depois de a empresa Tejal ter comprado mais de 90% da área. Não avançou até hoje por falta de condições financeiras.
O que também não é de hoje é o abandono e a degradação do Ginjal. Os relatos históricos situam o início da “queda do império” no ano de 1966. Com o aparecimento da Ponte 25 de Abril o transporte de mercadorias passou a ser feito via rodoviária, destronando a via fluvial.
Mas as causas não se ficam por aí. O Ginjal vivia não só da indústria de abastecimento de água aos navios, mas também de armazéns de vinho, azeite e vinagre. Por isso, a criação de cooperativas vinícolas, a proibição de exportação de vinho em barris, a descolonização – as colónias eram importantes mercados para o vinho, azeite e conservas – e a concorrência externa na pesca do bacalhau foram fatais para o local.