Os trabalhadores da PT/MEO, que fizeram greve e desfilaram hoje pelas ruas de Lisboa em protesto contra a transferência compulsiva de funcionários, prometem continuar a “maratona de luta”, convidando o primeiro-ministro a ser cliente da operadora.

“Gostava de dizer que os trabalhadores merecem e tinham todo o gosto em que o sr. primeiro-ministro fosse cliente”, afirmou o membro do secretariado da comissão de trabalhadores da PT/MEO, Francisco Gonçalves, à saída do encontro de mais de uma hora de uma delegação de representantes dos funcionários da empresa detida pela multinacional de origem francesa Altice com um assessor para a área financeira do chefe do executivo socialista, em São Bento.

António Costa fez declarações de apreensão para com o futuro da PT e a qualidade dos seus serviços, sugerindo ser cliente de outra operadora, no debate parlamentar sobre o estado da nação. As palavras do primeiro-ministro mereceram críticas por parte da oposição (PSD/CDS-PP), por intromissão em negócios privados, e BE e PCP exigiram a defesa dos direitos dos trabalhadores.

Francisco Gonçalves destacou ainda o facto histórico de “há mais de 30 anos as duas centrais sindicais [CGTP e UGT] não desfilarem juntas”, algo que se concretizou hoje entre a sede da operadora de telecomunicações, nas Picoas, e a residência oficial do primeiro-ministro.

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“Estamos numa maratona, parámos agora para beber água e repor as forças, mas vamos continuar. Queremos resgatar os 155 trabalhadores que a partir de amanhã [sábado] vão ser transferidos para outras empresas e resgatar a própria PT”, continuou, admitindo “todas as formas de luta”, a decidir numa reunião das organizações representativas dos trabalhadores na próxima semana e desejando também obter informação por parte da nova presidente da empresa, Claudia Goya.

Francisco Gonçalves encabeçou a comitiva de cinco pessoas, com elementos de quatro dos oito sindicatos mais significativos da PT/MEO na reunião como o gabinete do primeiro-ministro, depois da concentração na rua de Borges Carneiro, à Estrela, na qual discursaram o próprio, o representante do Sindicato dos Trabalhadores de Telecomunicações e Audiovisual (SINTTAV), Manuel Gonçalves, os deputados Bruno Dias (PCP) e José Soeiro (BE) e os secretários-gerais da UGT, Carlos Silva, e da CGTP, Arménio Carlos.

“O assessor transmitiu-nos que o primeiro-ministro está a acompanhar a situação, dentro das prerrogativas legais que considera, mas vamos insistir para sermos recebidos pelo próprio. O Governo empurrou um bocadinho para os resultados que hão de vir da ação inspetiva [da Autoridade para as Condições do Trabalho, ACT]”, acrescentou o membro da comissão de trabalhadores.

O secretário de Estado do Emprego, Miguel Cabrita, anunciou quarta-feira, no parlamento, que “está já em curso uma ação inspetiva” desencadeada pela Autoridade das Condições de Trabalho (ACT) sobre o processo de transferência de trabalhadores da PT Portugal para outras empresas.

Em causa está a mudança de mais de 150 trabalhadores para empresas do grupo da multinacional de comunicações e conteúdos de origem francesa Altice, que detém a PT Portugal, como a Tnord, a Sudtel ou a Winprovit e ainda para a parceira Visabeira, recorrendo à figura de transmissão de estabelecimento, prevendo-se a conclusão do processo até final do mês.

O português e cofundador da Altice Armando Pereira declarou entretanto que o Governo português, “muitas vezes, não vê essa importância” do investimento que está a ser feito na economia de Portugal.

O grupo gaulês, que comprou há dois anos a PT Portugal por cerca de sete mil milhões de euros, anunciou em 14 de julho que chegou a acordo com a Prisa para a compra, por 440 milhões de euros, da Media Capital SGPS, SA, que detém a TVI, mas o negócio aguarda ainda pareceres da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e da Autoridade da Concorrência (AdC).