Quem olha para a largura de ombros de Etiene Medeiros dificilmente consegue acreditar que ali estava uma potencial bailarina. Mas é mesmo verdade: há 20 anos, quando tinha apenas seis, a pernambucana praticava natação apenas por questões de saúde (asma) mas gostava mesmo era de ballet e de basquetebol. Pouco depois, as prioridades mudaram. Saltou do Recife para o Rio de Janeiro até chegar a São Paulo. Tudo para evoluir, para ser melhor. E esta quinta-feira tornou-se a primeira brasileira de sempre a ganhar uma medalha em Campeonatos do Mundo de piscina longa nos 50 metros costas.

A canarinha, que já tinha sido a primeira a ganhar uma medalha em Mundiais (prata em 2015), terminou a prova com o tempo de 27,14, naquela que foi a terceira corrida mais rápida de sempre da distância, batendo no limite a chinesa Fu Yuanhui (27,15) e a bielorrussa Aliaksandra Herasimenia (27,23). Curiosamente, Etiene Medeiros tinha apostado nos 50 metros livres nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, onde foi oitava na final, e praticamente “preteriu” do estilo de costas, onde concluiu as eliminatórias dos 100 metros no 25.º lugar (não há prova de 50 metros costas nos Jogos Olímpicos); agora, orientou o treino para outra disciplina e conseguiu colher os frutos.

3.º sargento da Marinha brasileira (a percentagem de atletas militares do país com sucesso em provas internacionais de variados desportos é elevada), Etiene deu o grande salto na natação em 2014, quando ganhou duas medalhas de ouro nos Mundiais de piscina curta de Doha (a de 50 metros costas com recorde mundial) um ano depois de ter começado a trabalhar no SESI. No ano seguinte, em Kazan, conseguiu a prata também nos 50 metros costas nos Mundiais de piscina longa, ficando atrás de… Fu Yuanhui, a rival que conseguiu hoje bater.

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No ano passado, Etiene Medeiros, que também foi a primeira brasileira a ganhar o ouro nos Jogos Pan-Americanos, esteve envolvida numa polémica depois de ter acusado positivo num controlo anti-doping perto dos Jogos. A atleta resolveu retirar-se das competições enquanto o processo estava a ser julgado e viria a ser considerada inocente pelo Tribunal Superior de Justiça Desportiva, que ilibou a pernambucana de qualquer culpa ou negligência por sofrer de asma e tomar medicação prescrita pelos médicos que continha fenoterol.

Ainda no setor feminino, nota para mais uma fabulosa prestação da espanhola Mireia Belmonte, que já tinha ganho a medalha de prata nos 1.500 metros livres e conquistou agora a medalha de ouro na prova de 200 metros mariposa, triunfo inesperado tendo em conta que tinha como adversária a ‘Dama de Ferro’, Katinka Hosszu. A húngara contentou-se mesmo com o bronze, também atrás da alemã Franziska Hentke.

A acabar o dia, mais uma medalha de ouro para Katie Ledecky (vai com três de ouro e uma de prata, nos 200 metros livres), que fez parte da equipa dos Estados Unidos que venceu a estafeta dos 4×200 metros livres com Leah Smith, Mallory Comerford e Melanie Margalis. China e Austrália fecharam o pódio da prova.

Numa das outras surpresas do dia, o americano Chase Kalisz ganhou a primeira grande prova internacional na final dos 200 metros estilos (tinha feito prata em 2013 e bronze em 2015 nos 400 metros estilos), batendo com 1.55,56 o japonês Kosuke Hagino (1.56,01) e o chinês Shun Wang (1.56,28). Já nos 100 metros livres, os americanos conseguiram atingir os dois primeiros lugares com Caeleb Remel Dressel (47,17) e Nathan Adrian (47,87), deixando o bronze para o francês Mehdy Metella (47,89).

Entre os portugueses, Victoria Kaminskaya foi 20.ª nas eliminatórias dos 200 metros bruços (sétimo lugar na terceira série, com 2.29,16) e ficou longe do recorde nacional, ao passo que o estreante Gabriel Lopes fez o 33.º melhor tempo nas eliminatórias dos 200 metros costas com 2.02,78 na primeira série.