A Coreia do Norte lançou um míssil que chegou a sobrevoar o norte do Japão, naquilo que é um novo e perigoso passo na escalada de tensões naquela região, motivando a convocatória de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas para esta terça-feira. As forças armadas japonesas confirmaram que foi enviado um “projétil não identificado” por volta das 5h58 locais (21h58 de Lisboa) e referiram que o míssil caiu no mar às 6h12 locais (22h12 de Lisboa).

O Presidente dos EUA, Donald Trump, reagiu ao lançamento do míssil dizendo em comunicado que “todas as opções estão na mesa”.

O ministro de Estado Yoshihide Suga confirmou entretanto em conferência de imprensa que o míssil caiu no mar, a cerca de 1000 km do cabo Erimo, na ilha de Hokkaido. Suga considerou o lançamento do míssil “uma ameaça grave e séria à segurança do Japão”. O míssil partiu-se em três partes e terá percorrido uma distância de 2700 quilómetros no ar, a uma altura de 550 quilómetros, segundo o Comité de Chefes do Estado-Maior da Coreia do Sul.

Não houve relatos de estragos em solo japonês, nem em aeronaves ou embarcações. As forças armadas japonesas não atingiram o míssil por acharem, à altura, que este não representava um perigo para o país.

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Numa declaração aos media, em que não falou diretamente do lançamento do míssil nesta segunda-feira, o embaixador da Coreia do Norte nas Nações Unidas disse que o seu país está agir em “legítima defesa”. “Agora que os EUA declararam abertamente a sua intenção hostil perante a República Popular Democrática da Coreia [nome oficial da Coreia do Norte], ao fazerem exercícios militares conjuntos apesar de repetidos avisos (…) o meu país tem todas as razões para reagir com medidas para exercer o seu direito à legítima defesa“, disse Han Tae Song.

Depois de falar com Shinzo Abe, Trump diz que “todas as opções estão na mesa”

Na manhã desta terça-feira, a Casa Branca emitiu um comunicado de Donald Trump, onde este assinalava a tensão na região. “O mundo recebeu a alto e bom som a última mensagem da Coreia do Norte: o regime deixou claro o desprezo que tem pelos seus vizinhos, por todos os membros da Nações Unidas e pelos mínimos padrões do que é um comportamento internacionalmente aceitável”, lê-se nesse comunicado, citado pelo Politico.

Sem se comprometer com uma via, Donald Trump acabou por deixar tudo em aberto: “Ações ameaçadores e desestabilizadoras só aumenta o isolamento do regime da Coreia do Norte na região e entre todas as nações do mundo. Todas as opções estão na mesa”.

As declarações de Donald Trump surgem depois de ter falado durante 40 minutos com Shinzo Abe pouco depois de a Coreia do Norte ler lançado o míssil. De acordo com Shinzo Abe, dessa conversa resultou que os dois países estão “100% de acordo” em relação ao que deve ser a resposta à Coreia do Norte: “Ambos concordamos totalmente que deve ser aumentada a pressão contra a Coreia do Norte ao convocar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU”. A reunião está agendada para esta terça-feira.

“O Governo vai colaborar com a comunidade internacional nas Nações Unidas para fortalecer a pressão contra a Coreia do Norte”, garantiu Shinzo Abe. “Vai haver uma cooperação entre o Japão, os EUA e a Coreia do Sul. Também vamos abordar a China, a Rússia e a comunidade internacional para exercer pressão para a Coreia do Norte mudar de política.”

Além disso, de acordo com Shinzo Abe, Donald Trump terá dito que “os EUA estão 100% ao lado do Japão” e sublinhou o “forte compromisso” de Washington D.C. com a defesa do Japão.

O Japão e os EUA têm em vigor desde 1960 um acordo de defesa mútua. O tratado define que os EUA devem defender o Japão caso este seja atacado. Em troca, os EUA podem usar bases militares em território japonês.

Fogo e fúria?

A 8 de agosto, depois de a Coreia do Norte ter ameaçado que podia bombardear Guam (uma ilha no Pacífico onde vivem 160 mil pessoas e que pertence aos EUA), Donald Trump deixou uma mensagem a Pyongyang: “É bom que a Coreia do Norte não faça mais ameaças contra os EUA. Eles vão receber fogo e fúria como o mundo nunca viu”.

Na ausência de novos lançamentos de mísseis norte-coreanos, 15 dias depois, a 23 de agosto, Donald Trump discursava em Phoenix, no Arizona, dando sinal de um aparente volte-face norte-coreano. “Eu respeito o facto de ele [Kim Jong-un] começar a respeitar-nos”, disse, tendo em conta as suas declarações feitas uma quinzena antes. “E talvez — provavelmente não, mas talvez — algo positivo possa resultar daí”, acrescentou.

Os últimos desenvolvimentos demonstram que o líder norte-coreano não se terá deixado inibir pelas promessas de “fogo e fúria” dos EUA.

Numa entrevista transmitida pela Fox News no domingo, sensivelmente 24 horas antes do lançamento do míssil norte-coreano desta segunda-feira, o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, referiu que a Coreia do Norte “não estava pronta para recuar totalmente na sua posição”. “Ainda assim, vamos continuar a manter a nossa campanha de pressão pacífica, trabalhando com aliados, também com a China, para ver se conseguimos trazer o regime de Pyongyang à mesa de negociações.”

Em declarações à agência RIA Novosti, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Riabkov, diz que a Rússia está “extremamente preocupado” perante “uma tendência para uma escalada” da tensão naquela região. Da China, falou a porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros, que referiu que a crise na região “aproximar-se de um ponto crítico”.

Uma porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse: “O lançamentos prejudica a segurança e a estabilidade regional, e também os esforços para criar um espaço para diálogo”.

Coreia do Sul faz exercício militar horas depois de míssil norte-coreano

A Coreia do Sul também reagiu ao gesto da Coreia do Norte, com um comunicado. “Condenamos fortemente mais uma provação do Norte apesar da mensagem da Resolução 2371 [aprovada no Conselho de Segurança da ONU a 5 de agosto e que impôs sanções à Coreia do Norte] pela comunidade internacional após as suas repetidas provocações estratégicas”, lê-se nesse comunicado. “O Norte deve entrar no caminho das conversações o mais cedo possível e reconhecer que o desarmamento nuclear é a única via para a segurança e para o desenvolvimento económico, em vez de provocações imprudentes.”

Porém, ainda mais substancial do que as palavras da Coreia do Sul são as suas ações. Poucas horas depois do lançamento do míssil norte-coreana, a força aérea da Coreia do Sul levou a cabo exercícios militares para reagir a um ataque. “O exercício confirmou que a Força Aérea da Coreia do Sul tem capacidades para destruir a liderança do inimigo em caso de emergência”, disse um membro do Ministério da Defesa sul-coreano à CNN.

Segundo a Yonhap, agência noticiosa da Coreia do Sul, o exercício militar foi uma ordem direta do Presidente, Moon Jae-in, que quis demonstrar o poder de resposta do seu país em caso de agressão ou de escalada ainda maior da tensão na região. “A demonstração de força esmagadora incluiu o lançamento de oito bombas MK84 [de fabrico norte-americano] a partir de quatro caças F15K perto da fronteira inter-coreana em Taebaek”, disse o porta-voz do Presidente sul-coreano.

Governo enviou SMS de alerta: “Refugie-se em edifícios seguros”

O governo japonês aconselhou a população do norte do Japão a refugiar-se em edifícios sólidos ou abrigos subterrâneo, acrescentando que o míssil norte-coreano terá passado perto da região de Tohoku, no norte do país, tendo sobrevoado o território japonês.

https://twitter.com/proinsiasmac/status/902282266881220608

De acordo com a AFP, as autoridades japonesas enviaram SMS com alertas e conselhos para a população. “Míssil em trajetória. Míssil em trajetória”; “Há poucos momentos, um míssil terá passado sobre esta zona”; “Se encontrar algum objeto suspeito, por favor não se aproxime e chame imediatamente a polícia ou os bombeiros”; “Refugie-se em edifícios seguros ou em zonas subterrâneas”; foram algumas das mensagens enviadas.

Nas redes sociais começaram a surgir os primeiros vídeos onde se podem ouvir as sirenes que recomendam a população a procurar abrigo.