“Se deixares passar no Spotify da última canção do novo disco para a primeira do anterior, a diferença no som é ABSURDA”, escreveu-me um amigo. Assim mesmo, em maiúsculas. A canção que encerra Villains, o sétimo e novo disco dos Queens of the Stone Age, chama-se “Villains Of Circumstance”, som minimalista e misterioso até chegar a um refrão meio baladeiro rock retro. Continua a estar ali o som da guitarra que associamos à identidade dos QOTSA, embora mais tímida.
Mas quando entra “Keep Your Eyes Peeled”, de … Like Clockwork (2013), o som é tão mais cru que talvez se justifiquem as maiúsculas.
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Por esta altura, já toda a gente sabe que Joshua Homme, americano alto com ar de vilão, que um dia ajudou a fundar a banda stoner rock Kyuss, foi buscar Mark Ronson para produzir o novo álbum dos Queens of the Stone Age. Britânico, DJ, não tão alto, conhecido pelas colaborações com Bruno Mars, Adele, Amy Winehouse, Lily Allen ou Lady Gaga e por ser um dos produtores mais requisitados da atualidade.
O resultado chama-se Villains e tem nove canções mais uptempo. “Sinceramente, é só porque eu gosto de dançar”, justificou Josh Homme, com cara séria, à revista Rolling Stone.
Logo no início, em “Feet Don’t Fail Me”, há um sintetizador. Não propriamente a convidar os pés à dança, mas sim à fuga de uma casa de horrores. A letra começa com uma verdade, “I was born in the desert, May 17 in ’73”, e segue com a confissão inesperada: “When the needle hit the groove I commence to moving, I was chasing what’s calling me. Oh-oh-oh, feet don’t fail me now.”
Em “The Way You Used to Do”, os pés já são mais chamados para dançar, num tema onde só faltam palmas a la Pharell Williams. Sim, Villains tem sintetizadores, apontamentos eletrónicos, convida à dança e até a bater palmas. “Fortress” põe um travão no groove, com uma melodia mais melancólica, mas ainda assim a mensagem é de esperança.
Every fortress falls
It is not the end
It ain’t if you fall
But how you rise that says who you really are
So get up and come through
If ever your fortress caves
You’re always safe.
“Head Like A Haunted House” é aceleração retro, “The Evil Has Landed” tem riff a fazer lembrar ao de leve Led Zeppelin, “Villains Of Circumstance” é a despedida de 48 minutos de variedades que Homme e companhia juntaram num álbum, tão diferentes entre si e, ao mesmo tempo, com elementos tão interligados.
Os Queens of the Stone Age não quiseram ficar na idade da pedra, isto é, presos a um tipo de som rock que hoje está na moda dizer que é datado. Isso não é novidade. Há sempre um intervalo de alguns anos entre discos e muito planeamento envolvido para não libertar para as lojas trabalhos banais. Em …Like Clockwork, de 2013, Josh Homme já tinha chamado figuras como Sir Elton John e Jake Shears dos Scissor Sisters. Eu e o meu amigo ainda não nos conhecíamos em 2013, mas sinto que poderíamos ter tido um diálogo parecido quando saiu … Like Clockwork. “Se deixares passar no Spotify da última canção do novo disco [chamada “Like Clockwork”, do disco com o mesmo nome] para a primeira do anterior [“Turnin’ on the Screw”, de Era Vulgaris, 2007], a diferença é ABSURDA”.
Um diálogo parecido, e não igual, porque as duas músicas são muito diferentes, é certo. Mas o som, a produção, não diferem assim tanto. Se há uma mudança assinalável em Villains, ela foi trazida por Mark Ronson, produtor que soube moldar o som da banda e deixar a sua marca. Pelo contrário, para a bateria, por exemplo, Homme chamou Jon Theodore, verdadeiro portento ex-Mars Volta. Neste caso, é como ter um Ferrari para andar dentro das localidades a 50 à hora. Cumpre bem, mas poderia dar tanto mais.
Deixarão os Queens of the Stone Age a sua marca? Serão eles influenciadores, ou deixaram-se simplesmente influenciar? Talvez os maiores fãs daquele rock cru, acelerado, enraivecido que os QOTSA já deram ao mundo vejam Mark Ronson como o vilão da história. Outros vão ver nesta parceria o casamento perfeito, o salto para a modernidade. Para nós, a verdade anda ali pelo meio.