O antigo líder da Comissão de Trabalhadores (CT) da Autoeuropa, António Chora, mostra-se “espantado” com a greve de 24 horas — a primeira paralisação na história da empresa — agendada para esta quarta-feira pelos trabalhadores da fábrica de Palmela. Numa entrevista ao Jornal de Negócios, António Chora lamenta que a Comissão de Trabalhadores esteja a ser tomada pelo SITE Sul, um sindicato afeto à CGTP, que chegou à empresa pela mão de “quatro ou cinco populistas”.
“Nunca pensei ver tanta verborreia como tenho visto ultimamente, mas o populismo é assim”, critica o histórico sindicalista, que liderou durante 20 anos a Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa. Essas duas décadas foram marcadas por relações pacíficas entre trabalhadores e administração, nunca tendo sido necessário recorrer à greve. Chora deixou a liderança da CT em janeiro deste ano.
Trabalhadores da Autoeuropa iniciam greve contra trabalho aos sábados
Para António Chora, que falou ao Negócios antes da greve, “é capaz de haver uma adesão significativa porque as pessoas estão demasiado instrumentalizadas e demasiado confiantes nas palavras de pessoas que nunca viram na vida delas”. Recorde-se que a greve foi marcada como protesto contra os novos horários de três turnos e contra o trabalho obrigatório aos sábados, uma medida da empresa para atingir a produção de 240 mil automóveis em 2018.
António Chora acredita que haja um acordo até ao final do ano para resolver esta situação — os trabalhadores aceitam o trabalho ao sábado desde que num regime diferente, designadamente sob o regime de horas extraordinários — mas apenas “se houver uma nova comissão de trabalhadores com carisma”, liderada por uma lista independente e não por elementos afetos ao sindicato SITE Sul.
Já esta quarta-feira, em declarações à TSF, o líder da CGTP, Arménio Carlos, rejeitou a ideia de um “assalto ao castelo” por parte do sindicato SITE Sul na Comissão de Trabalhador. A resposta à acusação de António Chora “está dada pela adesão massiva dos trabalhadores à greve”, afirmou Arménio Carlos.