O ministro da Defesa assegurou que o estado das principais instalações militares é “razoável” e que não existem “situações de fragilidade semelhantes” às de Tancos, mas admite que foram detetados casos em que se justificou reforçar a segurança. Em entrevista ao Diário de Notícias e à TSF, Azeredo Lopes revelou alguns pormenores do relatório que pediu no final de junho à Inspeção-Geral de Defesa Nacional sobre o estado das principais instalações militares, concluindo que “é razoável”.

Situações de fragilidade semelhantes [a Tancos] não foram verificadas. Foram verificadas situações em que se justificava reforçar a segurança”, referiu o ministro na Defesa.

Azeredo Lopes indicou ainda que a Inspeção-Geral detetou a necessidade de implementar melhorias em “três dimensões fundamentais”, nomeadamente a concentração de material, o reforço dos mecanismos de vigilância e, na parte dos sistemas de informação e de gestão de informação, a criação de um sistema comum aos três ramos. Isto significa, sublinhou, “a necessidade de uma vez por todas de haver um conhecimento instantâneo, atualizado, de tudo o que está nos paióis para se evitar no futuro o que ocorreu em Tancos“.

Em junho, o Exército revelou a violação dos perímetros de segurança dos Paióis Nacionais de Tancos e o arrombamento de dois paiolins, tendo desaparecido granadas de mão ofensivas e munições de calibre nove milímetros. Entre o material de guerra furtado dos Paióis Nacionais de Tancos estavam “granadas foguete anticarro”, granadas de gás lacrimogéneo e explosivos, segundo a informação divulgada pelo Exército.

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Azeredo Lopes deixou ainda críticas ao aproveitamento do furto de material em Tancos, considerando que “foi aumentado por razões obviamente políticas”. Reiterando que mantém “plenamente” a confiança nas chefias militares, o ministro da Defesa lembrou também que o furto em Tancos está ainda a ser investigado e que há o plano da investigação criminal e o plano da investigação levada a cabo pelo Exército.

“Sei que há um furo na cerca e que foi declarado o desaparecimento de material militar. Não sou investigador criminal. Não quero saber se foi A ou B, se foi de dentro ou de fora, o que sei é que material que estava à guarda do Exército desapareceu. Quero saber por todas as razões. Porque, se se verificar que houve cumplicidades internas isso é muito preocupante, quero saber como cidadão e como ministro da Defesa Nacional como é que isto pôde acontecer, mas não sou investigador e não tenho sequer o direito de me intrometer na investigação que estava a cargo da PJ militar e que foi depois assumida pela PJ“, explicou.

No limite”, acrescenta, “pode não ter havido furto nenhum”, porque “não existe prova visual, nem testemunhal, nem confissão”. “Por absurdo podemos admitir que o material já não existisse e que tivesse sido anunciado… E isso não pode acontecer”, disse Azeredo Lopes.

Questionado se está convencido de que houve furto de material, Azeredo Lopes respondeu: “Dou-lhe a minha palavra de honra: não estou nem deixo de estar convencido, só sei que desapareceu. Tenho de presumir, por bom senso e porque não sou dado a teorias da conspiração, que desapareceu algures antes de 28 de junho quando tomei conhecimento“.

Relativamente à insistência do Presidente da República sobre a necessidade de levar até ao fim a averiguação das responsabilidades, Azeredo Lopes disse que “nem há como não acompanhar” essa preocupação. “Era bom, mas não entendam isto como uma pressão à investigação, que pudéssemos ir fechando ciclos, ou seja, o Exército está a fechar o seu através da instauração dos processos disciplinares, fechei aquilo que mais diretamente tinha comigo através da elaboração daquilo que era necessário para saber como melhorar. Como qualquer cidadão, espero que se possa vir a saber quem foi, porque foi e onde está o material”, sublinhou.

PSD exige esclarecimentos e acusa Governo de encobrimento

O PSD vai exigir esclarecimentos no Parlamento o que se passou em Tancos e acusou o Governo de querer disfarçar “fracassos e incapacidades”. Numa declaração lida na sede do partido, o deputado Carlos Costa Neves afirmou que o PSD vai “tudo fazer durante a próxima semana para que isto se esclareça e sejam assumidas responsabilidades políticas”, sem se referir à maneira concreta de o fazer, como seria uma comissão de inquérito ou convocar o ministro.

“Não deixaremos de partilhar com os portugueses aquilo que se souber”, garantiu, afirmando que “tudo se faz para que as situações não se apurem e para que se disfarcem os fracassos e as incapacidades”, referindo-se às declarações de Azeredo Lopes ao Diário de Notícias e à rádio TSF. Costa Neves criticou que “sem nenhuma comunicação prévia ao parlamento ou partilha de informação”, Azeredo tenha esta declaração, o que o PSD afirma que ultrapassa o ridículo: “Quando se pensa que não pode ser pior, é pior”.

O deputado reiterou que os sociais-democratas farão “todas as diligências até ao esclarecimento total do assunto”, salientando que se trata de “um assunto muito sério nos domínios da segurança interna e externa”. O PSD está preocupado com a segurança dos portugueses e com a “relação com os aliados” de Portugal, disse Costa Neves, acrescentando que está agora marcada por “vergonha e falta de credibilidade”.

Carlos Costa Neves lembrou que já passaram dois meses e meio desde que foi divulgado o desaparecimento de armas e munições militares dos Paióis Nacionais de Tancos. O “desnorte total” que afirma estar nas declarações de Azeredo Lopes revela “contradições profundas que existem entre os partidos que suportam o Governo” em áreas como a Defesa, Administração Interna ou Justiça, argumentou o social-democrata. “É por isso que se ocultam factos e esta incompetência existe e se revela com mais força”, considerou Costa Neves, afirmando que “não chegam encenações nem fazer de conta”. O PSD dá como garantido que o Governo sabia que havia problemas de segurança na vigilância aos Paióis Nacionais.