Hillary Clinton garantiu, numa entrevista à CBS, que pôs um ponto final na sua carreira política, mas isso não significa que estará totalmente afastada da política. “Enquanto política ativa, acabou. Não volto a ser candidata, mas não estou acabada na política porque acredito que o futuro do nosso país está em causa”, afirmou a candidata democrata às eleições presidenciais de 2016.

Esta é a primeira entrevista de Clinton de promoção ao seu livro sobre a derrota nas eleições presidenciais, intitulado “What Happened” e que será publicado amanhã, dia 12.

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A democrata recorda o momento em que se apercebeu que não iria vencer. “Entrei no quarto, deitei-me na cama e pensei: ‘Ok, vou ter de esperar que isto termine'”. Mas, à meia noite, Hillary Clinton decidiu ligar a Donald Trump, o recém-eleito presidente dos EUA, e ligou ainda para a Casa Branca para falar com Barack Obama.

Senti que tinha desiludido toda a gente.”

A derrota foi algo tão inesperado que Hillary Clinton nem sequer tinha feito um discurso de derrota. “Eu não tinha feito um discurso de derrota, tinha estado a trabalhar num discurso de vitória.”

Dez meses depois das eleições, a ex-primeira-dama disse estar “bem”, apesar de ainda ser “muito doloroso” pensar na derrota. “Estou bem, mas isso não significa que esteja complacente ou resolvida relativamente ao que aconteceu.”

Hillary diz ter passado por vários momentos até ultrapassar o “choque” da vitória de Trump, desde um “frenesim de limpar armários”, “longos passeios pelo bosque”, brincar “com os cães” e “ioga”, sem esquecer o copo de vinho. “Foi uma transição muito complicada. Eu não conseguia sentir; não conseguia pensar. Estava em choque.”

E ainda assim decidiu ir à cerimónia da tomada de posse de Trump. “Eu sou uma ex-primeira-dama, e outros ex-presidentes e primeiras-damas foram. Faz parte de uma demonstração de continuidade do nosso governo. Então lá estava eu, na plataforma, a sentir que estava a ter uma experiência fora do corpo.”

Na entrevista, a democrata justifica a sua derrota não só com os “estereótipos”, o “sexismo” e “misoginia”, mas também com os escândalos dos emails. “Acho que o erro mais grave que cometi foi usar o meu email pessoal. Já o disse anteriormente, e volto a dizer, a responsabilidade foi minha. Foi apresentado de uma forma tão negativa, e nunca consegui sair disso. E nunca parou.”

Seis respostas para perceber a gravidade do caso dos emails de Hillary

A ex-candidata refere ainda ter sentido, durante a campanha, que a ideia de uma mulher presidente não era bem vista. “Comecei a campanha sabendo que teria de trabalhar o dobro para fazer com que os homens e as mulheres se sentissem confortáveis com a ideia de uma mulher presidente. Não cabe nos estereótipos que temos nas nossas cabeças. E muito do sexismo e da misoginia estava ao serviço dessas atitudes. Do estilo: ‘Nós não queremos mesmo uma mulher como presidente’.”

Hillary Clinton também aponta ainda o dedo a Bernie Sanders, com quem disputou a candidatura democrata às eleições. A democrata considera que os ataques de Sanders “causaram danos que duraram” durante a campanha e que nunca os conseguiu ultrapassar.

A ex-primeira-dama começa esta terça-feira a promoção do seu livro, em Nova Iorque. Uma tour com vários eventos, que deverá prolongar-se até dezembro e que está a deixar os democratas inquietos.

Há quem não queira regressar aos dias negros de 2016 e há quem prefira manter-se concentrado na agenda política e nas próximas eleições. “[Isto acontece] talvez na pior altura possível, quando estamos a lutar contra políticas de alto risco e batalhas institucionais, numa altura em que estamos a tentar unir o partido para que possamos avançar. Ela tem todo o direito de contar a sua história. Mas é difícil para alguns de nós, até para mim que a apoiei”, afirmou o democrata Jared Huffman ao Politico.

John McCain também não está propriamente satisfeito. “Respeito, admiro e até sou amigo de Hillary, mas este tipo de coisas acontece na vida, temos de andar para a frente. É preciso andar para a frente rapidamente”, disse o senador, acrescentando que ele próprio não escreveu um livro após a sua derrota eleitoral em 2008.