No outono de 1991 todas as supermodelos da década faziam capa da Vogue como um gangue glamouroso com boinas de pele, collants pretas e botas de motard ao melhor estilo Easy Rider. Qualquer semelhança com as tendências atuais não é pura coincidência. É que quando moda e arte se juntam criam um tempo que não é o dos calendários mas sim o dos espíritos. Ora estamos a navegar nas águas da nostalgia dos anos 90, ora do cinema dos anos 60, ora da música dos anos 70, vamos da iconografia comunista de Che Guevara à iconografia militar americana do pós 11 de setembro, isto tudo com uma simples boina.
Este outono/inverno a Dior deu o mote e muitos outros aceitaram o repto: Prada, Moschino, Louis Vuitton, Isabel Marant, Desquared2 fizeram regressar a boina nas suas muitas variantes mas com uma regra implícita: a rebeldia quer-se chique. Com materiais nobres como a pele, a lã, os axadrezados escoceses, o veludo. Com ornamentos ostensivos a lembrar os militares de alta patente, grandes e farfalhudas, em patchwork ou em malhas grossas. Ideais para compor looks masculinos, andróginos, mas também para fazer um volte-face naquela combinação básica de calças de ganga e ténis.
As boinas são um acessório tradicionalmente masculino, embora desde o início do século XX as mulheres o tenham vindo a adotar. Desde a década de 60 que elas entram e saem das pautas da moda reiventando e indisciplinando uma peça que tem a sua origem no mundo militar e no mundo do trabalho e, por isso mesmo, esteve durante muito tempo associada às classes sociais mais desfavorecidas e depois aos movimentos de contra-cultura como os motards, os queer ou os gangues violentos dos anos 50.
No final do século XXI os artistas e intelectuais levaram para os salões a famosa “boina basca” ou boina francesa (que na verdade tem origens celtas, daí ser comum no País Basco, no sul de França e na Escócia). Wagner, Picasso, Jean-Paul Sartre foram algumas das cabeças célebres que a usaram, mas também Brigitte Bardot, Faye Dunaway, Marilyn Monroe, Jane Birkin, Charlotte Rampling. A sua expressividade foi bastante explorada no cinema e só depois nas passerelles, de tal forma que é na Sétima Arte que encontramos a grande fonte de inspiração para usar este acessório: Bonnie & Clyde, Easy Rider, O Porteiro da Noite, Oficial e Cavalheiro, entre muitos outros filmes.
Muito associada ao estilo french girl, intelectual e artista, a boina basca representa o lado romântico desta tendência. Do outro estão as “boinas de motard” e as “boinas de motorista de autocarros”, os bonés de “vendedor de jornais” ou os “bonés de cadete”. As primeiras mais duras e estruturadas, as outras mais moles e mais informais. Se nos anos 90 Kate Moss foi a grande embaixadora da boina basca e Christy Turlington da boina motard, hoje temos Bella Hadid a fazer desta última um verdadeiro e inescapável diktat. Adeus gorros, viva as boinas. Para raparigas e rapazes, claro.