“Sou uma editora de moda de 24 anos e sou viciada na Zara” — é assim que Lauren Eggertsen se apresenta, num texto publicado em abril deste ano, no site de moda e tendências Who What Wear. A crónica tem tanto de declaração de amor à cadeia espanhola como de ata de confessionário. Ao mesmo tempo que Lauren relata a evolução da sua relação com a marca, justifica as razões pelas quais o seu guarda-roupa não viveria sem ela. “Não tenho vergonha de fazer compras na Zara. Na verdade, tenho aprendido a abraçar este vício peculiar, apesar das críticas frequentemente feitas pela comunidade da moda”, escreve.
Antes de mais explicações, Lauren partilha um conceito que, até então, mantinha só para si, o de obsessive Zara disorder (algo como distúrbio obsessivo Zara). Sentimentos que nasceram há anos, quando chegou à faculdade e teve de procurar as primeiras roupas formais para vestir em entrevistas. “A Zara era mais do que um sítio acessível para comprar roupa. Para mim, era a estética que sempre esperei alcançar quando entrasse na idade adulta — chique, cuidada e moderna”, afirma no mesmo texto.
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A mesma versatilidade é salientada por Maria Guedes, autora do blogue Stylista. “Há um magnetismo qualquer que faz com que a pessoa goste de entrar e de se perder um bocadinho. Depois, tem roupa para todas as idades e todos os estilos”, afirma. Versátil, democrática e transversal — todas as opiniões sobre a Zara parecem ser unânimes e mesmo para quem se movimenta dentro do mundo da moda é difícil (para não dizer impossível) passar ao lado deste gigante espanhol. Maria fala por experiência própria — todas as semanas, no blogue, os artigos sobre tendências e as produções fotográficas incluem doses generosas de peças da marca –, mas também pelo que vê nas ruas das grandes capitais da moda. “Vê-se no street style das próprias semanas da moda”, comenta. Num momento em que tudo se mistura, por muito poder de compra que se tenha para usar marcas mais caras, a Zara parece ser a loja de eleição para encontrar aquelas peças statement e trazer para o guarda-roupa as tendências mais passageiras.
“A Zara dá-me as tendências que eu quero e as peças de que preciso e se a elite da moda pode usar Zara, então também não tenho de ter vergonha de usar”, continua Lauren Eggertsen.
Olivia Palermo e Alexa Chung, dois ícones da moda frequentemente avistados a vestir peças da marca espanhola. A primeira, chegou a usar peças da Zara na Semana da Moda de Londres. E então? Então, já não é só uma questão de preço. “Acho que mesmo que tivesse um daqueles cartões pretos continuava a fazer compras na Zara.” Quem o diz é Margarida (nome fictício), de 27 anos, para quem “ir tomar café” com uma amiga é uma espécie de nome de código para “ir às compras” à dita loja.
Volta ao mundo em 80 zaras
“Identifico-me com o estilo. É uma loja que consegue cobrir as várias fases da vida de uma mulher, vários momentos da semana e do dia. Conseguimos comprar roupa para ir trabalhar e estar flawless, como diz a Beyoncé. Podemos vestir Zara e parecer que estamos a vestir Zara, mas também podemos vestir Zara sem que ninguém perceba de que marca são as peças”, diz Margarida. Mais do que ter queda para as compras (de roupa, entenda-se), Margarida tem um fraquinho por esta loja. Fala em relações de amizade entre ela e funcionários das três lojas que visita com mais frequência na zona de Lisboa. Alguns, já lhe guardaram peças enquanto os saldos não chegavam.
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Se vai com amigas, é certo que há festa no provador. Se a companhia for o namorado impaciente, a solução é mesmo fazer sinal a um funcionário de confiança para que o vá distrair para a secção de homem. “Os namorados têm uma relação má com esta loja. O meu já me chegou a dizer que tinha de escolher entre ele e a Zara. Escolhi sempre a segunda opção”, conta. Em época de saldos, os esforços são redobrados. Margarida não é das que vai para a porta no primeiro dia de promoções, antes da loja abrir (não só acontece, como há lojas da Zara que abrem mais cedo nesse dia), mas é menina para passar o site a pente fino, logo à meia-noite e meia. O cenário repete-se sempre que há insónias — aliás, os colegas de trabalho costumam dar pelas noites mal dormidas quando, uns dias depois, chegam as caixas ao escritório.
Em média, Margarida gasta 250€ euros por mês em compras na Zara e a marca representa cerca de 40% do seul closet. Já chegou a fazer um desvio de 50 quilómetros para comprar um vestido que estava esgotado noutras lojas, se bem que é quando viaja em trabalho para outros continentes que a relação com a marca fica ainda mais emotiva. “A zaras são todas iguais, aqui ou na outra ponta do mundo. É um sentimento de confiança numa marca, que é fiel a ela mesma onde quer que esteja. E do ponto de vista do marketing, isso é muito difícil. Acho incrível que tenham criado uma marca que se consegue identificar com pessoas de culturas tão diferentes”, explica.
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Quando passa duas e três semanas fora, entrar numa Zara é, para Margarida, regressar a um espaço familiar, mas de onde nunca sai de mãos a abanar. Nisto, parece que tem sempre uma estrelinha da sorte, tanto que já chegou a encontrar uma camisa, esgotadíssima em Portugal, em plena Ásia. Recentemente, a mais de 10 mil quilómetros de casa, numa semana, foi à mesma loja todos os dias. Nas compras na Zara, tal como nas viagens intercontinentais, Margarida não prevê abrandamento.
I <3 Zara
Com o primeiro emprego, a relação de Lauren Eggertsen com a Zara intensificou-se. Começou a visitar o site com mais frequência para estar a par das novidades, descarregou a aplicação e as compras por impulso tornaram-se cada vez mais recorrentes. “Foi aí que as pessoas começaram a perceber que esta era oficialmente uma das minhas lojas favoritas (…). O que eu não sabia é que estava a transformar a minha atração pela loja num estilo de vida”, completa. O gosto pela Zara escalou depressa e, pouco depois, o conhecimento que tinha sobre coleções e disponibilidade de stocks saltava à vista. Estava na altura de aceitar que a Zara era vital. Lauren vive bem com isso até hoje.
Provavelmente, gasto muito dinheiro lá, mas a questão é que não posso dar 900 dólares por um par de sapatos quando o dia de pagar a renda continua a ser o mais triste do mês. Mas um par por 50 dólares? Levo três”, admite no texto.
A relação com as compras, em particular com a loja, deixa de ser racional e passa a ser emocional, um cenário que se repete também em Portugal, onde a primeira Zara abriu em 1988, na Rua de Santa Catarina, no Porto. Por cá, o pronto-a-vestir nunca mais foi o mesmo. Sem os excessos de outras “zarómanas”, Maria Guedes lembra-se bem do momentos em que entrou numa Zara pela primeira vez. “Lembro-me de ter 10 anos e de abrir a Zara no CascaiShopping. Foi o meu primeiro contacto com o mundo da moda”, conta.
Sabemos que os preços são acessíveis, que há quase uma loja em cada esquina (na próxima semana, a Zara abre a loja número 60 em Portugal) e que chega a todos os estilos e idades, mas será só isso que explica o fenómeno? “Está sempre em cima das tendências, mas já nem as vai buscar só aos desfiles, vai à rua, ao street style, às redes socais e, às vezes, as interpretações que faz das peças até são mais giras”, defende Maria Guedes. Mas os toques de sofisticação que fazem a Zara distanciar-se de outras lojas do mesmo segmento vão além da roupa. Tal como na estação anterior, a campanha deste outono foi fotografada por Steven Meisel, o mesmo fotógrafo que, nos últimos tempos, trabalhou também para marcas como Moschino, Loewe, Coach e Max Mara.
Assim, fica difícil resistir ao apelo, mesmo correndo o risco de abrir o guarda-roupa e só ver etiquetas da Zara à frente. “É muito mais interessante misturar, mas quem é que tem tempo e vontade? A maior parte das pessoas não quer estar à procura, por isso, por que não ir à Zara que lança peças novas todas as semanas?”, conclui Maria.
“Envianos tus mejores looks Zareros”
Uma relação com tanto amor como a que une Lauren Eggertsen à Zara tinha de chegar ao Instagram. Em fevereiro, a editora de moda juntou-se a uma amiga para criar a conta The Devils Wear Zara, onde ambas partilham os looks do dia. Têm quase 45 mil seguidores e escusado será dizer de que marca são as roupas. Mas há outras demonstrações de afeto “zareiro”. Zara Outfits (onde se lê a frase “Envianos tus mejores looks Zareros”), Zara Obsession, Zarareando Ando, Zara Addiction — contas de Instagram com dezenas de milhares de seguidores e centenas de imagens que chegam dos quatro cantos do globo, através de hashtags. Portugal não é exceção e também tem uma conta criada por fãs da marca espanhola. É o street style possível num país que, sem a Zara, ficava seminu.