Miguel Cardoso tem a “pinta” toda do italiano Luciano Spalletti. Barba geometricamente aparada, cabeça rapada e a reluzir, tez morena, vestindo sempre um fatinho slim fit primorosamente engomado. Mas é mesmo só a “pinta”.

É que ao contrário do Inter (e antes da Roma ou do Zenit) de Spalletti, o Rio Ave de Cardoso é tudo menos de “retranca”, defensivo, querendo sempre para si a “menina” (leia-se: bola) a rolar de pé em pé e sabendo o que fazer com ela, na defesa como a meio-campo ou no ataque. Miguel foi anos a fio o adjunto de Domingos Paciência, primeiro na Académica, depois do SC Braga ou no Sporting e Deportivo. Sairia da sombra de Domingos e mudar-se-ia para a Ucrânia, onde foi quase tudo no Shakhtar Donetsk: coordenador técnico, treinador do Shakhtar B e adjunto de Paulo Fonseca na última época.

Esta é a primeira vez que assume um clube sozinho. E desde a primeira jornada que se percebeu (pela qualidade do futebol que pratica o seu Rio Ave) que não tardará a deixar Vila do Conde e assumirá em breve um projeto maior.

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Rio Ave-FC Porto, 1-2

Estádio dos Arcos, em Vila do Conde

Árbitro: Jorge Sousa

Rio Ave: Cássio; Lionn, Marcelo, Marcão e Bruno Teles; Leandrinho (Gabrielzinho, 84′), Tarantini e Rúben Ribeiro; Óscar Barreto (João Novais, 72′), Nuno Santos e Guedes (Karamanos, 75)

Suplentes não utilizados: Rui Vieira, Nélson Monte, Yuri Ribeiro e Vitó

Treinador: Miguel Cardoso

FC Porto: Casillas; Ricardo Pereira, Felipe, Marcano e Alex Telles (André André, 80′); Danilo, Herrera, Brahimi e Otávio (Maxi Pereira, 69′); Marega e Aboubakar (Soares, 69′)

Suplentes não utilizados: José Sá, Reyes, Óliver Torres e Corona

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Danilo (54′), Marega (67′) e Nuno Santos (80′)

Ação disciplinar: cartão amarelo para Marcão (18′), Barreto (31′), Marcelo (34′), Otávio (57′), Alex Telles (65′), Maxi Pereira (77′), Danilo (83′) e Bruno Teles (86′); cartão vermelho para Marcão (88′)

Durante a primeira parte do encontro com o FC Porto a equipa de Cardoso não permitia (a posse chegou a ser de 75% até perto do intervalo…) que o adversário sentisse o couro à bola. Se o sentisse, prontamente alguém dos vilaconcendeses pressionaria e recuperaria a bola. Rematar, não se rematou muito. Nem de um nem de outro lado. Mas a primeira ocasião em que a bola seguiu em direção à baliza (aos 25′) até foi para os da casa. Nuno Santos conduziu a bola direita fora, esperou que Alex Telles se aproximasse dele e, quando finalmente o lateral se aproximou, isolaria com um passe a rasgar Lionn nas costas de Telles. Sozinho, Lionn cruzou para o poste contrário, Casillas não chegaria à bola, viu esta sobrevoá-lo, Guedes preparava-se para cabecear para a baliza… mas Ricardo Pereira surgiu no último instante a desviar a bola a meias com o ponta-de-lança do Rio Ave e, por fim, o guarda-redes espanhol lá a segurou.

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Mesmo de candeias às avessas — o futebol dos portistas vivia sobretudo dos dribles e cruzamentos de Brahimi na esquerda, não havendo (a ausência de Óliver explica muito…) ligação entre os diferentes setores ou jogadas pelo centro –, o FC Porto lá responderia ao Rio Ave, precisamente um minuto após o “meio” cabeceamento de Guedes. Brahimi, Aboubakar, Herrera. Os portistas circulavam a bola atabalhoadamente à entrada da área do Rio Ave, é certo, mas circulavam-na. O passe derradeiro (de Herrera) encontraria Marega lá dentro, descaído para a direita, e o maliano rematou. Acertaria com estrondo na quina da baliza.

Ao intervalo, Sérgio Conceição entendeu que não venceria este Rio Ave se não combatesse o fogo com fogo.

O mesmo é dizer que precisaria de ter a bola consigo. Como fazê-lo? Conceição tirou Otávio do flanco onde tantas vezes esteve na primeira parte e dar-lhe-ia a “batuta” ao centro no recomeço — recuando então tantas vezes o brasileiro até antes do meio-campo para construir desde trás. Foi precisamente assim que primeiro os portistas buscaram o golo após o recomeço. Otávio, pouco depois do meio-campo, ergueu a cabeça e viu (54′) Aboubakar lá longe. Assim viu, assim lá colocaria a bola. Mas o camaronês demorou tanto, tanto a rematar que acabaria por ser desarmado por Marcelo. Canto. Telles bateu-o à esquerda, a bola cai no primeiro poste, tensa, Danilo salta entre Guedes e Marcelo, salta mais alto do que ambos, e bate Cássio: 0-1 em Vila do Conde.

Danilo não fazia um golo desde Abril. Sérgio Conceição quase não festejou. Antes, pediu uma garrafa de água e deu um longo gole.

O Rio Ave desorientou-se por instantes. E sofreria o segundo aos 67′. Correr? Marega sabe correr. O maliano vê tantas vezes no relvado uma pista de tartan. E correu, correu pelo flanco direito, levando tudo à sua frente. Cruzar? Bem, cruzar não é propriamente o forte do maliano — e o cruzamento que fez para a área não chegou ao destino: Aboubakar. A bola cortada por Bruno Teles chegaria a Brahimi, Brahimi voltou a cruzar, entretanto Marega havia chegado à área, chutar ele sabe chutar, e bateu Cássio num remate colocado (entre o guarda-redes do Rio Ave e o poste) de pé esquerdo.

É hábito o Rio Ave sofrer golos de Marega, sendo este o sexto desde 2015 — dois pelo Marítimo, três pelo V. Guimarães e, agora, um de azul-e-branco.

Miguel Cardoso não se conformou. Refrescou o meio-campo com João Novais — e voltaria a ter novamente bola –, fez entrar avançados velozes como Gabrielzinho. E as trocas resultaram mesmo. Insistiu o Rio Ave — precisamente pela esquerda onde Gabrielzinho se havia posicionado –, resistiu o FC Porto, Felipe corta a bola de cabeça, Marega recebe-a mas rapidamente a perderia quando foi pressionado por Novais, é este quem cruza para a área, Felipe que cortou a bola fora da área não estava lá dentro, Nuno Santos recebeu o cruzamento de Novais sozinho, ajeitou a bola de pé direito e rematou-a de seguida com o esquerdo, sendo o primeiro a bater Casillas esta época no campeonato.

O jogo terminaria antes mesmo de terminar. Com a expulsão de Marcão (Rio Ave) perto do fim, não mais os vilacondenses procuraram o empate. Mas venderam cara a derrota. Glória ao vencedor, honra ao vencido.