Chegou à liderança da Uber ainda não fez um mês, mas já pediu desculpa pelos erros que foram cometidos sob a liderança de Travis Kalanick. Depois de a Autoridade de Transportes londrina ter informado que não ia renovar a licença da tecnológica para operar em Londres, Dara Khosrowshahi escreveu uma carta aberta a todos os utilizadores da app que permite ligar pessoas a motoristas privados.
“É verdade que enquanto revolucionávamos a forma como as pessoas se moviam nas cidades à volta do mundo, também fazíamos coisas erradas. Em nome de todas as pessoas que trabalham na Uber globalmente, quero pedir desculpa pelos erros que cometemos”, escreveu o iraniano que saiu da Expedia para presidir à tecnológica.
O mea culpa chegou para informar que a Uber vai recorrer da decisão do supervisor britânico e tentar impedir que a partir de 30 de setembro os londrinos deixem de poder utilizar os carros da empresa para se deslocarem na cidade.
“Vamos recorrer da decisão em nome de milhões de londrinos, mas fazemo-lo estando conscientes de que também temos de mudar. Como novo presidente executivo da Uber é meu dever ajudar a empresa a escrever o próximo capítulo”, escreveu.
Open letter to Londoners in today’s Evening Standard from Uber’s new CEO @dkhos: pic.twitter.com/LOuLgPvF4B
— Alex Belardinelli (@abelardinelli) September 25, 2017
A decisão da Autoridade dos Transportes de Londres (TfL) foi conhecida na sexta-feira, o que dava à Uber 21 dias para recorrer. A empresa deu logo a conhecer nesse dia que era sua intenção evitar que a revogação da licença fosse levada avante. Na base da decisão, estava o facto de a autoridade não considerar a Uber um “operador adequado” para gerir uma aplicação de transporte privado: “A abordagem e conduta da empresa demonstram falta de responsabilidade corporativa”.
A empresa contestou, garantindo que seguiu “sempre as regras da TfL ao relatar incidentes graves”. Em comunicado, Tom Elvidge, diretor-geral da Uber em Londres, disse que tinha “uma equipa dedicada, que trabalha em estreita colaboração com a Polícia Metropolitana de Londres” e que “esta proibição revelaria ao mundo que Londres está longe de demonstrar abertura para receber empresas inovadoras, que trazem maior escolha aos consumidores”.
Entretanto, foi lançada uma petição de apoio à Uber que já foi assinada por perto de 769 mil pessoas que querem que a tecnológica continue a operar na capital do Reino Unido. Na carta aberta que escreveu, Khosrowshahi afirma que não é objetivo da Uber ser perfeita, mas que é sua intenção gerir a tecnológica de uma forma humilde, íntegra e apaixonada.
“Não vamos ser perfeitos, mas vamos ouvir-vos; vamos olhar para as parcerias de longo prazo que temos nas cidades que servimos; e vamos gerir o nosso negócio com humildade, integridade e paixão. Aqui em Londres, já começámos a fazer mais para contribuir para a cidade. Os veículos acessíveis a pessoas em cadeiras de rodas já andam a circular nas estradas e o nosso Plano de Ar Limpo vai ajudar-nos a combater a poluição. Comprometo-me a trabalhar com Londres para fazer as coisas da forma correta e para manter esta cidade global incrível a mover-se em segurança”, escreveu.
Lyft pode estar a preparar entrada no mercado londrino
O mayor de Londres, Sadiq Khan, escreveu na sexta-feira no Twitter que “seria um erro a autoridade dos transportes continuar a autorizar a Uber, havendo risco para a segurança dos londrinos” e que “todos os operadores de serviços privados em Londres têm de cumprir as regras”. Mas, nesta segunda-feira, Sadiq Khan afirmou que pediu à autoridade britânica para estar disponível para se encontrar com o novo presidente Dara Khosrowshahi, diz o TechCrunch.
A polícia londrina também já se tinha queixado que a empresa não estava a divulgar — ou pelo menos estava a demorar muito tempo a revelar — crimes sérios, como os de cariz sexual, que colocavam o público em risco. Fred Jones, um dos responsáveis pela Uber no Reino Unido, informou agora que a tecnológica está a trabalhar com a polícia para saber como pode reportar melhor estes incidentes.
À BBC, Jones afirmou que “assim que entenderem como podem trabalhar” com a polícia, vão perceber também o que as autoridades querem que a Uber faça e como é que a empresa pode seguir em frente. “Acho que esse é o próximo passo que é importante dar”, afirmou. A Bloomberg diz que a norte-americana Lyft, rival da Uber, pode estar a aproveitar as mudanças no mercado londrino para iniciar atividade em Londres.
O fundador Travis Kalanick foi forçado a sair da liderança da Uber este ano e a empresa é, desde o final de agosto, presidida por Dara Khosrowshashi. A saída de Kalanick surgiu depois de terem vindo a público várias revelações de uma cultura de trabalho agressiva e sexista, que pôs a descoberto situações de assédio sexual, entre outras.
O fundo de investimento Benchmark — que é um dos principais investidores da Uber — abriu um processo judicial contra Travis Kalanick por alegada fraude (contestado posteriormente pelo fundador), afirmando mais tarde que a avaliação da empresa pode atingir os 100 mil milhões de dólares. A Uber está avaliada atualmente em 68 mil milhões de dólares e é a startup tecnológica mais valiosa do mercado. Opera em mais de 600 cidades de todo o mundo, incluindo mais de 40 no Reino Unido.
Iraniano e anti-Trump. O que tem de saber sobre o novo CEO da Uber