“Só as empresas de media fortes vão conseguir libertar o financiamento e concorrer com a Google, a alternativa é desaparecer”. Esta foi a mensagem deixada pela presidente executiva da Media Capital, a dona da TVI, durante o debate sobre o estado dos media que se realizou esta quarta-feira, no quadro do congresso da APDC (Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações).
Rosa Cullell afirmou que a empresa quer liderar o digital como lidera a televisão e para isso precisa de parceiros. Quem cresce é o digital, ilustrando com o aumento de 18% das receitas até agosto, enquanto a televisão está a perder receitas. “Temos de fazer qualquer coisa”.
Sem falar no negócio que está na cabeça de todos os participantes, a compra da Media Capital pela PT/Meo, Cullell defendeu que o problema não está entre a televisão e o digital.
“Temos de juntar a televisão e o digital, temos que de fazer conteúdos que possam ser mostrados em todas as plataformas, no digital e na televisão. Precisamos de muito investimento (…) e só as empresas fortes vão conseguir libertar financiamento e concorrer com o Bernardo Correia [gestor da Google em Portugal que também estava no painel] (…) A alternativa é desaparecer”.
O investimento é ainda essencial para captar o talento e se o “talento não quer trabalhar connosco e apenas com a Google estamos feitos”, acrescentou.
O presidente executivo da Impresa foi o único a referir diretamente a concentração da Media Capital com a PT/Meo, manifestando uma “grande preocupação” com a “convergência vertical” (integração de conteúdos com exibidor). Sublinhando o parecer negativo da Anacom, Francisco Pedro Balsemão diz que não está a apenas a falar como administrador da Impresa e alerta para o impacto que esta operação pode ter em toda a sociedade.
Ainda que também defenda a necessidade de alianças, “sinto muito isso na Impresa”, o gestor prefere as parcerias horizontais com distribuidores e outros parceiros operacionais.
O tema não preocupa a gestora da dona da TVI. Em resposta ainda ao alerta deixado pelo presidente da ERC, Rosa Cullell puxa dos galões enquanto jornalista no tempo do franquismo para dizer que não está a preocupada com a liberdade de imprensa em Portugal. E num painel que juntou administradores dos principais grupos de media: Impresa, RTP, Controlinveste, Media Capital, para além da Google Portugal, falou-se mais de conteúdos do que de jornalismo. Ainda que a administradora da Media Capital tenha defendido a importância de investir na ficção e na informação independente.
Líder da ERC compara estado dos media a ensaio da orquestra do Titanic
Para Rosa Cullell, os anúncios na televisão vão continuar a ser uma fonte importante de receita, mas deixou um apelo a reguladores e políticos. As novas gerações já não querem interromper os conteúdos para ver blocos de anúncios.
Bernardo Correia da Google, empresa muitas vezes apontada como a má da fita que é a transformação digital e o seu impacto nas empresa de media, procurou desfazer essa imagem.
Para a Google, os media estão a viver o momento “mais entusiasmante”
“Ninguém encontrará um parceiro mais fiel do que a Google para a regeneração do ecossistema dos media porque estes são fundamentais para o funcionamento das democracias. Aceitamos que a transformação digital traz dificuldades, mas também oportunidades”. O gestor lembra a industria da música que se autoregenerou e conseguiu ao fim de dez anos alcançar a sustentabilidade e destaca o o papel da Google na proteção dos conteúdos e direitos de autor.
Bernardo Correia desdramatiza ainda o que se passa no setor dos media quando lhe perguntam pelo futuro da televisão.
“Não parece, mas vivemos no momento mais entusiasmante e interessante para estar nos media do que agora. É quando as regras vão ser transformadas.”
O presidente da RTP, Gonçalo Reis, admite que vai haver turbulência, mas vai ser interessante. E deixa um aviso: a televisão não pode perder as audiências jovens. “Um dos dramas da imprensa é que perdeu os jovens, não tem caudal novo. Isso não pode acontecer à televisão”. Para continuar a ser relevante, a televisão tem de estar no digital mas não pode deixar de ser relevante como instituições e isso implica estar presente no terreno.
Para Rolando Oliveira, administrador da Controlinveste, acionista da Global Media, a transformação digital afetou mais a imprensa do que outros negócios porque entrou no circuito da distribuição que antes era controlado pela empresas de media e que passou para intermediários globais, como a Google.