Esta era uma Assembleia Geral que, há cerca de um mês, tinha todas as condições para ser tão ou mais calma do que as últimas: a direção do Benfica ia apresentar o maior resultado de sempre, com um resultado líquido positivo de 35 milhões de euros; os principais itens de receitas tinham aumentado; e, apesar de pertencer à esfera da SAD, há sempre os quatro títulos consecutivos do futebol ainda frescos na memória. Ainda assim, estas reuniões magnas continuam a viver muito do momento. E foi esse momento que aqueceu (e muito) o pavilhão número 2 da Luz e os cerca de 1.400 associados que marcaram presença no recinto.

Tudo terá começado numa frase solta do vice-presidente da Mesa da Assembleia Geral, Virgílio Duque Vieira, para um sócio encarnado que exercia o direito da palavra. “Sou eu que mando aqui!”, atirou quando estava a ser criticado pelo desempenho das funções na ausência de Luís Nazaré, líder do órgão que já antes pedira escusa por estar em período eleitoral autárquico. Foi esse o gatilho para os momentos mais quentes com agressões, cadeiras a voar, o rebentamento de um petardo e cânticos “Benfica é nosso” que motivaram o pedido de reforço policial.

O jornal Record fala numa chapada em Virgílio Duque Vieira (além de um outro membro da Mesa, Jorge Arrais, ter sido atingido com uma cadeira), o jornal A Bola fica-se pela tentativa não consumada. Mas as críticas a Virgílio Duque Vieira por causa dos tempos de intervenção e da forma como agia consoante o tipo de discurso que era feito já estava há muito a ser criticado por uma franja de sócios e era previsível que, a qualquer momento, nascesse uma situação como a que viria mesmo a acontecer. Até porque, no pavilhão, encontravam-se muitos dos sócios que já tinham estado envolvidos em discussões verbais e confrontos em 2012, na Assembleia Geral para deliberação do Relatório e Contas do ano e no anúncio dos resultados das eleições.

As coisas lá acalmaram mas mantinha-se a tensão na sala. Havia elogios à liderança de Luís Filipe Vieira, havia críticas a Luís Filipe Vieira. Do que praticamente não se falava era do orçamento que estava ali em sufrágio (pode consultar aqui o resumo do mesmo) e que foi aprovado com 61,38% de votos a favor, 29,25% contra e 9,37% de abstenções, naquilo que foi genericamente descrito como um “cartão amarelo” ao atual elenco. O presidente dos encarnados nunca usou da palavra nesse período mas subiria ao palco para fazer um longo discurso.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Todas as questões apontadas ao longo da Assembleia Geral foram respondidas, em algumas ocasiões com excessos na linguagem referidos pelos jornais desportivos deste sábado que motivaram já uma reação de Nuno Saraiva, diretor de comunicação do Sporting. “Depois de ler os relatos de uma série de impropérios e palavrões proferidos pelo presidente de um clube rival numa Assembleia Geral, aguardarei para ver como vão agora estes arautos da luta contra o presidente do Sporting, somados aos comentadores pontas-de-lança encartilhados das TV, abordar este assunto. Não me interessa nada daquilo que se passa na casa dos outros; o que exijo, e devemos todos exigir, é apenas honestidade intelectual”, publicou o responsável leonino na sua conta oficial do Facebook.

Vieira terá recusado a ideia de desinvestimento no plantel do futebol na presente temporada (admitindo até reforçar a equipa em janeiro, se existir necessidade) e rebateu as acusações de que Jorge Mendes tomara conta do clube da Luz, dizendo também que Mitroglou saiu para não haver excesso de opções no ataque (e eventuais problemas no balneário). Sobre o caso dos emails e recentes polémicas, garantiu que o Benfica nunca comprou qualquer jogo. E ainda falou da saída de Nuno Gomes. “Acreditem porra!”, terá dito no final. E recebeu muitos aplausos.

Há muito que o Benfica não tinha uma Assembleia Geral tão longa e com tanta contestação. Na era Vieira, é preciso recuar a 2012, na reunião magna onde as contas foram chumbadas e o presidente saiu apupado, para se ver algo sequer parecido. Foi uma noite de alta tensão, com picos de contestação e um final tranquilo. Mas percebeu-se que, por muito bons que possam ser os resultados financeiros, são os resultados desportivos que ditam as regras. E depois de quatro Campeonatos seguidos e boas participações na Champions, a fasquia de exigência aumentou e muito.