Cresce o fôlego por Paulo Rangel no Conselho Nacional do PSD: depois do líder Passos Coelho, também o vice-presidente do PSD Marco António Costa — que tem uma forte influência na maior distrital do partido, o Porto — elogiou o eurodeputado e potencial candidato à liderança. Havia dúvidas se o apoio do homem forte do aparelho cairia para o lado de Rio ou de Rangel, mas a dúvida parece desfeita, com Marco António Costa a enaltecer perante os conselheiros a “importância que Paulo Rangel teve para o partido quando em 2014 aceitou ser cabeça de lista às Europeias”, num “combate importantíssimo” que enfraqueceu o PS, “provocou a saída do seu líder” e ajudou o PSD a ganhar força para vencer as legislativas.
Marco António Costa lembrou que na altura se esperava que o PSD tivesse um “mau resultado”, mas Rangel conseguiu que o PSD tivesse um resultado com pouca diferença para o PS, provocando a tal vitória do “poucochinho”, que levou à saída de António José Seguro e acabou por debilitar os socialistas. O ainda vice-presidente de Passos Coelho anunciou ainda que no próximo mandato não exercerá “cargos partidários”, lembrando que é o único dirigente que se mantém desde a primeira direção de Passos Coelho. Com a saída de Passos, sairá também, ficando na condição de “militante de base” do partido.
Paulo Rangel também já falou ao Conselho Nacional e, numa indireta a Rui Rio, afirmou que o PSD não pode “renegar o papel de oposição” e deve combater qualquer ideia de construção de um Bloco Central — e essa é uma imagem que tem sido muito colada ao ex-presidente da câmara municipal do Porto. Fora de portas, aos jornalistas, Paulo Rangel quis aparecer à frente das câmaras mas não adiantou muito: “Este não é o tempo para nomes e números, é tempo de pensar que futuro queremos para o PSD”, disse, questionado sobre se admitia uma candidatura à liderança do PSD.
E citou o Eclesiastes, da Bíblia, para insistir na mesma ideia. “Como se diz no Eclesiastes, há tempo para rasgar e tempo para coser, há tempo para falar e tempo para estar calado. O tempo para falar é lá dentro, para estar calado é cá fora”, acrescentou.
Já para Luís Montenegro, é tempo de esperar. O ex-líder parlamentar também falou no Conselho Nacional, mas — pelas movimentações nesta reunião do órgão máximo entre congressos — não parece mesmo disposto a avançar, deixando caminho livre para Paulo Rangel receber os apoios dos herdeiros do passismo. Neste particular, curiosa a intervenção da histórica militante Virgínia Estorninho que se dirigiu a Montenegro e disse: “Avança Luís, que eu estou contigo”.
Passos não ficará a “rondar” e elogia Rangel
Passos Coelho chegou ao Conselho Nacional ao lado de Hugo Soares, em passo calmo, mas sem problemas em sair mais rápido do partido. Foi aplaudido como se fosse primeiro-ministro, mas falou num tom de demissionário sereno. O ainda líder do PSD vai mesmo queimar etapas e disponibilizou-se para “sair um pouco mais cedo”. E, para isso, será convocado um novo conselho nacional já para segunda-feira para que haja diretas em dezembro. O líder do PSD — que, após sete anos como líder, anunciou esta terça-feira que não se recandidata como líder — explicou que se afasta porque “uma nova liderança do PSD terá melhores possibilidades de sucesso”.
Aplaudido várias vezes ao longo do discurso, Passos arrancou o maior aplauso da noite quando disse: “O facto de não me recandidatar à liderança do PSD não significa que me vá calar para sempre“. Mas não quer influenciar nem prejudicar uma futura liderança, deixando uma frase que é o oposto do “vou andar por aí” de Santana Lopes quando saiu do partido em 2005: “Não ficarei cá a rondar“, disse Passos.
Num discurso de meia hora, o líder do PSD ainda voltou algumas vezes ao tom do velho Passos. Disse, por exemplo, que lhe desculpassem a “arrogância”, mas se “entendesse apresentar-vos argumentos para continuar — e teria argumentos, não me faltariam apoios dentro do partido para disputar uma eleição de que poderia eventualmente sair vencedor — esses argumentos não iriam resolver o principal problema”.
Passos admite, no entanto, que “se permanecesse vitorioso a frente do PSD, em vez de estar a construir alternativa de Governo, estaria em permanência a combater o preconceito e a ideia feita de que estava agarrado ao poder do partido”. Ou seja: Passos assume que defender-se do argumento de que está agarrado ao lugar, lhe retiraria tempo para o combate político mais importante.
Esta foi a primeira vez que o presidente do PSD falou em público (ao contrário do habitual, a intervenção inicial do líder no Conselho Nacional foi aberta à comunicação social) depois de ter anunciado que não se iria recandidatar ao próximo mandato. Passos lembrou que prometeu uma “reflexão sobre os resultados eleitorais” e sobre as implicações que poderiam ter para uma recandidatura à liderança do PSD. E acrescentou: “Procurei que fosse uma reflexão madura e rápida, de modo a não deixar o partido numa situação de suspensão sobre a minha decisão”.
Passos Coelho avisa ainda que “o partido não ficará em gestão” já que não apresentou a demissão, apenas decidiu não se candidatar. Quanto ao novo líder, Passos garante que — quem for escolhido pelos militantes — pode contar com a sua “lealdade” e que a sua militância “não será um fator de instabilidade”.
Não resistiu, no entanto, a enaltecer o trabalho de um dos potenciais candidatos (Paulo Rangel), sem que a isso fosse obrigado neste discurso de anúncio de saída. Passos Coelho antecipou que será Hugo Soares, o líder parlamentar, a fazer o debate quinzenal desta quarta-feira. Depois disso, lembrou que o PSD é “um grande partido”, tanto “aqui”, onde conta com Hugo Soares no Parlamento, como “na Europa”, onde o partido conta com Paulo Rangel. Ao potencial candidato à sua sucessão, o líder referiu-se da seguinte forma: “Temos o Paulo Rangel aqui esta noite, que é o líder do nosso grupo parlamentar em Estrasburgo e é em simultâneo vice presidente do PPE, é um rosto importante da afirmação externa do nosso partido”.
Ou seja, de um lado Hugo Soares, no Parlamento em Lisboa, e do outro Paulo Rangel, no parlamento na Europa. “Tenho a certeza que aproveitaremos bem estes tempos para mostrar que o PSD é um pilar de estabilidade e de construção do futuro.O resto caberá às bases do PSD decidir e escolher, seja a figura, seja a estratégia que se vai seguir”, concluiu.
Mas antes, depois de assumir o peso e as implicações da derrota eleitoral, o presidente do PSD distribuiu as derrotas por outros que também não fizeram boa figura nas urnas. Disse que o PSD não obteve tão maus resultados como outros que “foram praticamente varridos nas eleições”, sublinhando que o “o Bloco de Esquerda não perdeu muito porque não há muito a perder”, já o PCP teve uma derrota clamorosa. Quanto ao “CDS não terá tido um resultado tão ambicioso como se procurou pintar”, acrescentou, fazendo no entanto o parênteses óbvio do bom resultado de Assunção Cristas em Lisboa: “Ninguém de bom senso diminuiria o resultado do CDS e da sua líder na capital”.
O ainda líder do PSD, que ficará pelo menos até às próximas eleições diretas do partido, que serão marcadas para janeiro, diz que tomou a decisão que tomou porque “gosta de assumir responsabilidades”. E “este resultado não me dá margem de manobra”, afirma, explicando aos conselheiros todas as razões por detrás da decisão que tomou nas últimas 24 horas.
Passos terminou o discurso como começou. Aplaudido pela sala, como um herói.