Pedro Santana Lopes passou o fim de semana a procurar apoios e a avaliar a recandidatura à liderança do partido, mas ainda não tem uma decisão fechada este domingo, como tinha previsto na sexta-feira e o Observador noticiou. Apesar de os contactos estarem a “correr bem”, como diz fonte próxima do provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Santana “continua entusiasmado” com a possibilidade de concorrer em circunstâncias normais a um lugar que só ocupou por herança: “Mas como teve de fazer sempre na vida, tem de correr o dobro dos outros“. No entanto, a perceção do lado do santanismo é que está a haver alguma rejeição à candidatura de Rui Rio em setores do partido que o ex-presidente da câmara de Lisboa está a tentar aproveitar.
A tendência, neste momento, será para avançar contra Rui Rio, seu ex-vice-presidente no partido. Luís Marques Mendes (que sucedeu a Santana Lopes no PSD e foi um dos seus maiores críticos) disse no programa de comentário na SIC, este domingo, que Pedro Santana Lopes estaria 70% inclinado a avançar. A acontecer, deveria ser na segunda ou na terça-feira, antes mesmo de Rui Rio oficializar a candidatura.
As cartas marcadas previamente no aparelho são um dos problemas com que está a deparar-se. Santana não tinha tudo preparado para uma possível candidatura, ao contrário de Rui Rio, que está no terreno há mais de um ano. Por isso, “o calendário será seguido com calma”, como explica uma fonte próxima do possível recandidato (pela quarta vez efetiva) à liderança do PSD. “Quando tiver tratado do que tem a tratar, comunicará a decisão”, dizem ao Observador fontes santanistas. Na segunda-feira, o Conselho Nacional do partido reunirá para decidir se as diretas vão ser em dezembro, como propôs Pedro Passos Coelho.
O aparelho ainda não está todo alinhado
Há dirigentes do PSD com influência que estão ainda a reservar-se para ver como se configura o tabuleiro de jogo. Rui Rio está a receber apoios que estariam reservados a candidatos na linha do passismo, como Luís Montenegro ou Paulo Rangel (embora este não fosse propriamente um passista). Mas também está a suceder o contrário: há gente no partido que estará com qualquer alternativa que surja contra Rui Rio, onde se contam presidentes de distritais com quem o Observador falou. Santana pode aproveitar e capitalizar esse descontentamento, embora ainda não se saiba se também avança Miguel Pinto Luz, vice-presidente da câmara de Cascais — que pode mobilizar apoios em gerações mais jovens e no distrito de Lisboa.
Rui Rio apresentará a candidatura na quarta-feira, em Aveiro, uma das maiores distritais, onde já garantiu o apoio de Salvador Malheiro, o líder da estrutura e também da comissão política. No entanto, é uma distrital muito dividida, pelo que nada garante que a disputa aqui não seja esmagadora para um dos lados.
“A escolha de Aveiro significa que o país compreende uma série de outros territórios”, para além de Lisboa e Porto, diz Salvador Malheiro ao Observador. “Foi uma das distritais que desde a primeira hora apresentou o seu apoio inequívoco a Rui Rio. Não só eu, mas a comissão política distrital, numa deliberação clara e unânime”, sublinha. O presidente da distrital de Aveiro diz ver com bons olhos o aparecimento de mais candidaturas, mas já tem algumas fragilidades a apontar a eventuais concorrentes: “Pedro Santana Lopes merece todo o meu respeito e do PSD mas, desde logo, o facto de estar na Santa Casa de Lisboa vai limitar um pouco a sua ação contra António Costa”, afirma ao Observador. E acrescenta: “Depois de quatro vezes a candidatar-se à liderança, não será com a mesma energia que o fez anteriormente”.
Nas cogitações de Santana Lopes e na entourage de Rui Rio será determinante a contagem de votos nas maiores distritais e concelhias. Se Aveiro — que era a segunda maior distrital em 2016 no congresso do PSD –, está com Rio, o portuense terá apoios mais prováveis vindos de Leiria, Bragança, Vila Real, Portalegre ou Guarda. Pedro Santana Lopes conta com mais possibilidades de vir a recolher o apoio de dirigentes em estruturas como Castelo Branco (garantido), Évora, Faro ou Santarém.
Decisivas serão as tendências geradas no Porto, em Lisboa e em Braga, por esta ordem, e em grandes concelhias bracarenses maiores que distritais, como Famalicão, Vila Verde e Barcelos — que nas diretas de 2008 votaram maciçamente em Pedro Santana Lopes para a liderança, o que não quer dizer que volte a repetir-se (em 2010, Passos Coelho esmagou em Famalicão e Barcelos). Outras concelhias como Gaia, Trofa ou Lousada podem contar tanto quanto os distritos mais pequenos. O eurodeputado José Manuel Fernandes — homem forte de Vila Verde e líder da distrital de Braga –, disse ao Observador que a distrital não vai tomar posição e ele não revela para já a quem dará apoio pessoal.
Lisboa e Porto são outras incógnitas, com lideranças enfraquecidas pelos resultados desastrosos nas autárquicas. Se Lisboa costuma dividir-se tanto que pode valer de pouco para qualquer um dos candidatos ganhar uma vantagem decisiva, o Porto já não será feito da mesma massa homogénea dos tempos de Luís Filipe Menezes e depois de Marco António Costa. Os presidentes das duas maiores distritais têm-se mantido discretos. Mesmo Pedro Pinto — de Lisboa — que em tempos foi um dos principais santanistas e que poderia voltar a estar com o antigo compagnon de route, tem mantido o silêncio, embora haja do lado de Santana quem diga que poderá ter o seu apoio.
Vice da bancada critica recuos de Montenegro e Rangel
Enquanto o partido se realinha, há críticas na bancada parlamentar do PSD aos recuos de Luís Montenegro e de Paulo Rangel. Um dos vice-presidentes da bancada e líder da concelhia de Valongo, acha que o deputado e o eurodeputado falharam ao não assumirem as respetivas candidaturas. Pelo menos um deles devia tê-lo feito, diz Miguel Santos, que durante anos também foi o braço-direito de Marco António Costa na distrital do Porto: “O partido investiu muito neles, em Luís Montenegro e em Paulo Rangel, um no Parlamento português e outro no europeu e eles deviam ter correspondido”.
O vice da bancada, que também coordena os deputados do PSD na comissão de Saúde, diz que, como “corresponderam em termos de qualidade” nos cargos que exerceram “neste momento e nesta hora tinham a responsabilidade de retribuir e assumir com as suas candidaturas o investimento que o partido fez neles. Lamento que não o tenham feito”, afirma ao Observador.
O deputado ainda não definiu um alinhamento na luta que se avizinha, porque o quadro ainda não é claro, mas refere que, quanto a Rui Rio, há dois aspetos que o fazem questionar a candidatura. Um tem a ver com a ideia de que as pessoas que acompanham Rio são “rostos do passado”. Para Miguel Santos, “um candidato que se apresenta com um regresso ao passado é um retrocesso” e espera que “apareça com apoios que apontem para o futuro”. O segundo aspeto tem a ver com “uma sombra que paira sobre Rio em relação a um eventual Bloco Central”, explica. “Rui Rio tem de deixar logo de início essa questão esclarecida”, afirma. Aliás, Marques Mendes acrescentou a este tema no seu comentário na SIC este domingo, que Rio tem de esclarecer também as suas posições sobre a autonomia do Ministério Público, sobre a liberdade de imprensa e a regionalização.
Marques Mendes quer um PSD ao centro, com sensibilidade social e dá conselho a Rui Rio